guia para hackear línguas

Lembram que outro dia eu falei que tinha uma coisa legal de trabalho rolando? Pois essa coisa legal era a tradução do Language Hacking Guide do Brendan.

O Brendan trabalhou comigo naquele manicômio em Foligno e saiu correndo antes de adoecer, coisa que vários de nós deveríamos ter feito, mas não sem antes me apresentar ao Couchsurfing. De modo que tenho muito a agradecer a ele, como se não bastasse ele ter sido companhia sensacional nos poucos meses em que convivemos pessoalmente.

O lance é que o Brendan é um aprendedor de línguas. Tipo assim, o que você faz da vida, meu filho? Aprendo línguas. In loco. Não é ótimo? Não consigo imaginar outra profissão mais legal no mundo. E ele escreveu um e-book ensinando qualquer um a aprender línguas fácil e rápido como ele, usando métodos… hm, diferentes, dos quais tenho certeza que você nunca ouviu falar. E eu tive a honra de traduzir pro português, aprendendo muito no processo porque sou gramaticófila assumida e nunca confiei muito em métodos “comunicativos”. Mudei de ideia radicalmente e só estou esperando a Carolina se ajeitar com o sono pra eu poder me jogar de cabeça no francês (porque, vamos combinar, nenhum método do mundo, a não ser talvez a aplicação de um chip diretamente no lobo frontal, funciona quando você dorme em média 4,5 horas por noite, né).

A coisa funciona assim: quando você compra o guia, ele vem em várias línguas (cujo número vai aumentar em setembro), de modo que você pode comparar a versão na sua língua com a versão da língua que estiver estudando – isso ajuda muito, como qualquer pessoa que já leu Harry Potter em outras línguas pra aprender porque já sabe o livro de cor e salteado está careca de saber. Você também ganha um exclusivo conjunto de worksheets com “deveres de casa” e checklists pra ajudar você no percurso. Mas não é só isso! Tem também um arquivo em Excel com listas de palavras pra você aprender, tudo explicadinho no manual. Mas tem mais! Muitas entrevistas com outras pessoas que aprenderam línguas usando métodos não-convencionais e contam as suas experiências ao Brendan. Então veja só: o manual em várias línguas (o original em inglês e traduções em português, francês, italiano, espanhol, alemão e polonês, por enquanto), mais as worksheets, mais o arquivo em Excel, mais as horas de entrevistas interessantíssimas, custa só 49 dólares. Ridículo, inclusive porque ele dá uma lista bem longa de recursos grátis online pra aprender línguas, todos já devidamente bookmarkados ou baixados como apps no meu iPhone, obrigada. O preço vai aumentar em setembro porque vão ser adicionadas váaaaarias outras línguas e vão rolar muitos updates de links, algumas seções vão ser aumentadas etc – e se você comprar agora os updates depois são de grátis.

De modo que eu recomendo al-ta-men-te.

isaura

A Isaura aqui tem trabalhado pacas. Só coisa chata. Mas apareceu uma parada legal aqui agora. Tem a ver com línguas. Tem a ver com o Brendan. Só podia ser legal : ) Mais novidades quando a coisa sair do forno.

ah tá

Venho traduzindo, há vários meses e em doses homeopáticas, emails e memorandos sobre… Bom, não sei bem sobre o quê, visto que a linguagem é a mais enrolada possível. Fala-se muito de recursos humanos de Universidade, Instituição (tudo assim, com maiúscula), de competências; há várias coisas desnecessariamente sublinhadas, o que me dá um certo nervoso, e muitos, muitos lugares-comuns. O problema é que eu não tenho a menorrrrrrrrrrrrr ideia do que se trate. Veja bem, conseguir escrever textos longos e sem sentido por meses a fio é uma tarefa hercúlea da qual nem todo mundo é capaz! Mas sem sentido MESMO; perguntem ao meu irmão. Parágrafos e mais parágrafos do mais puro, mais inspirado nada.

Hoje descobri que trata-se de um curso de gestão de RH para universidades de uma certa ordem católica.

Tudo fez sentido.

ainda pérolas

O post de ontem me lembrou de uma coisa que eu fiz enquanto eu tava aí no Rio, em setembro. O texto era tão absurdo que eu fui correndo pra cozinha com o laptop na mão pra ler em voz alta pra minha mãe e meu irmão e ver o que eles achavam, mas eu tive um ataque de riso e não consegui terminar de ler o parágrafo. O melhor foi minha mãe botando os oclinhos de presbíope e meu irmão franzindo a testa tentando achar pé e cabeça no que estava escrito. Prestem atenção:

Design, um grande confronto
No campo do design, temos a interessante mostra Nananananana, que propõe um momento de explicitação deste novo “saber fazer” tão difuso no sentimento das novas gerações de criativos, para favorecer a experimentação não somente na forma lingüística (a reutilização pela reutilização), mas no âmbito do que se tenta dizer através da mutação aberta dos objetos de uso. Neste terreno se encontrarão seis dos mais significativos exponentes do novo design italiano, que aceitaram acessar sua memória pessoal, coletiva e antropológica para desenterrar bolsões de luz visionária aprisionada no passado, obscurecido pelos objetos: Fulano, Beltrano, Huguinho, Zezinho, Luizinho, Terecoteco. Projeto Tal são
[respeitei a concordância do texto original] repertórios materiais e formais retirados da tradição imóvel ou do mundo suspenso dos antiquários, subtraídos da casa de uma velha tia ou seqüestrados da magia de fábula de tudo o que é “velho”, aos quais o design propõe um futuro alternativo com relação àquele que tiveram, e que corresponde ao nosso presente, no qual o “velho” é algo de escondido e apagado. É exatamente esta remoção obsessiva de massa que criou acúmulos de formas abandonadas nas quais hoje se adensa um sentido que é novo, antigo e moderno ao mesmo tempo.

Juro que levei SÉCULOS pra traduzir isso do italiano. Li, reli, trili, e nada. Como dar sentido a uma coisa que sentido não tem? Nonsense por nonsense, acabou saindo uma coisa praticamente literal. Levanta o dedo quem já leu coisa mais idiota (Paulo Coelho não vale).

pérolas

Estou traduzindo uma coisa de italiano pra inglês. O arquivo se chama “texto emocional”, o que já dá uma vaga idéia do que está por vir. Não sei quem é o cliente; quem me passou o trabalho foi a agência e a menina esqueceu de dizer quem é. São duas páginas de um texto que provavelmente vai pra um panfleto ou catálogo, mas eu não tenho a MENOR idéia do que se trate – que produto ou serviço? Do que raios eles estão falando? Aceito sugestões.

Bares clandestinos, whisky, proibicionismo, ferro, aço, Segunda Revolução Industrial: BlahBlahBlah é o símbolo de uma era, bem delineado por uma ponte que conecta dois mundos diferentes, dois séculos diferentes. O efeito BlahBlahBlah aprisiona eternamente cores, sons, matérias, recriando a atmosfera proibida de um tempo e de um espaço legendários.

Não basta?

Suntuosa, caótica, sensual, o coração pulsante do Terceiro Milênio: BlehBlehBleh é uma ponte entre leste e oeste, um conjunto convulsivo de ouro, prata, prosperidade, miséria, poeira. O efeito BlehBlehBleh traduz esta multiplicidade expressando fascinação, caos, riqueza, matéria, miséria e esplendor.

Ainda:

Melancólica, sofredora, dinâmica, brilhante, moderna, veloz: a cidade símbolo do século XX é uma metrópolis arranhada pela história, mas voltada para o futuro. O efeito BlihBlihBlih ilumina o espaço, fazendo-nos lembrar do peso da matéria; mistura alegria e dor, terra e metal, passado e futuro.

Vamos combinar, nem Homero era capaz de tanta poesia.

campanha de utilidade pública

Desde a semana passada ando absolutamente atolada de trabalho, a ponto de ter que parar dois dias por um início de tendinite no polegar esquerdo. Tem um grande projeto rolando, uns manuais infinitos de montagem de umas tendas usadas como hangar pelo exército, que até não são tão chatos. O chato é o que estou fazendo agora, o manual de uma máquina de esmaltar azulejos. Primeiro que é repetitivo PRA CACETE, coisa de quem não sabe escrever mesmo e fica dando voltas, repetindo coisas, mudando a ordem dos elementos da frase repetida achando que isso é enfatizar bem. Já devo ter traduzido versões diferentes de “todos os funcionários devem ter lido este manual” umas vinte vezes, em um manual com 21 páginas.

Mas o problema não é tanto isso. O que está me dando urticária é que TODAS AS FRASES TÊM VÍRGULA ENTRE O SUJEITO E O PREDICADO. Pelamordetolkien, se não sabe escrever, não escreva! Pague alguém pra fazê-lo por você! Por favor! Isso acaba com a saúde de qualquer tradutor, juro.

Bom, pelo menos italiano não tem crase. Se tem uma coisa que me dá princípio de acidente vascular encefálico é ler “à Londres”, “à eles”, “à uma loja”. Cara, na boa, crase só fica complicada quando o verbo tem regência estranha, mas nos que usamos cotidianamente não tem NADA de complicado, vamos combinar. Na dúvida, não use. Não ponha acento nenhum. Salve a vida de uma tradutora/leitora.

quem adivinhar a minha idade mental ganha uma mariola

Trabalhar é um porre, senão não se chamaria trabalho, e sim férias. Trabalhar é um porre até quando é legal.

Hoje estou traduzindo um negócio meio chatinho, um manual de montagem de tendas-hangar (…), que só não é pior porque tem várias fotos cheias de soldadinhos (don’t ask) e já estou sabendo tudo o que há pra saber sobre o assunto. Dêem-me uma tenda e uma empilhadeira e eu monto a bichinha toda. Mas mesmo não sendo um superporre, estou penando pra terminar. Vai dando aquela preguiça, sabe, uma baianice, uma lerdeza, ainda mais com o tempo feeeeio que tá lá fora… Pra tornar a coisa mais emocionante, então, eu desenvolvi uma técnica legal. Começo traduzindo pelo começo, normalmente, e quando encho o saco vou pulando páginas e traduzindo frases aleatórias no meio do texto lá pra frente. Depois vou fazer alguma tarefa doméstica, almoçar, malhar ou outra coisa, e quando recomeço a trabalhar acabo encontrando essas frases já traduzidas e fico toda feliz. Tipo êeeeeeee, essa não precisa traduzir, tá feita! Tipo, deixo surpresinhas pra mim mesma. Tipo, só funciona porque a minha memória é MUITO ruim, de modo que eu fico realmente feliz, como se alguém que não eu tivesse feito o trabalho por mim. Mas funciona, porque estou quase no final do documento, um dos dois que eu tenho que entregar na quarta. Bom, né :)

TRADOS

Pra quem não conhece, TRADOS é uma ferramenta de tradução assistida. Um programa de tradução, por assim dizer. Carérrimo e cheio de mumunhas, dublê de quebra-galho e enchedor de saco, que eu já tinha visto mas nunca entendido. Meu maior cliente, a agência aberta por um ex-manicômio e onde hoje trabalham, fixos, outros 6 sobreviventes da Chefa Escrota, montou esse curso em dois sábados. Hoje foi o módulo básico, pra aprender aquele mínimo mínimo que serve pra usar o programa. Passei o dia numa sala de aula com meus ex-colegas e uns tradutores que não conhecia, ouvindo um instrutor de Arezzo falar sobre o programa mais chato do mundo de usar. Como eu adoro uma sala de aula, não importa muito o assunto (desde que não envolva números, naturalmente), foi um dia interessante, apesar do assunto ser pesado. O curso foi num hotel lá na casa do cacete, em Perugia, com almoço incluído. A senhora que administra o hotel é francesa mas está aqui há duzentos anos e preparou um almoço umbro como deus comanda, segundo o ditado: muita verdura grelhada, vagem crocantinha, lombo de porco cortado fininho, lentilhas, cicerchie (uma prima do grão-de-bico), um pão feito com farinha vecchio stile, moída no moinho de pedra (fica com um sabor muito, muito particular).

Gastronomia à parte, aprendi muita coisa. O programa é muito bem bolado mas logicamente tem mil falhas, e depende da organização e disciplina do tradutor (tô fodida); as opiniões sobre o quanto o TRADOS pode ajudar são muito divergentes e eu me coloco na trincheira daqueles que acham que ajuda só e exclusivamente quando se trabalha com muitos trabalhos bem parecidos, e mesmo assim ajuda somente a manter a uniformidade, mas não acelera o trabalho tanto assim (ainda mais no meu caso, já que sou rapidíssima em condições normais de temperatura e pressão, sem ajuda de coisa nenhuma). Provavelmente não justifica o investimento pesado, não só de grana – uns 700 EUROS, darlings – mas também de tempo, já que leva meses pra domesticar o programa bem o suficiente pra não alongar ainda mais o trabalho tendo que perder tempo descobrindo como funcionam os comandos e coisa e tal.

Mas o insight mais importante veio durante a conversa com o José: chegamos à conclusão de que nosso trabalho um dia será pra lá de mecanizado. Pra escapar dessa tem que passar pra tradução criativa, e nesse campo praticamente só sobram publicidade, que eu adoro fazer, e literatura, que eu AMO e sonho em fazer. E a paciência pra tentar achar meu lugar ao sol nessas áreas, vocês têm? Eu não. Então vamos empurrando com a barriga, até quando der. E quando não der mais a gente decide o que fazer.

dia de fazer coisas

Tinha várias coisas a resolver hoje, além de fazer as compras do dia. Fui falar com meu contador sobre a famigerada partita IVA (tipo o CGC, no meu caso do profissional liberal) pra começar a trabalhar. Tive que pedir à minha amada chefe pra mandar um documento que o INSS precisa pra poder calcular quanto tempo de contributos eu tenho, e quanto vou ter que pagar por esse mês e pouco em que estou oficialmente desempregada. Como dependo da boa vontade da chefa escrota (nula) e da competência do seu contador (zero), pode ser que a coisa demore. Já estou começando a me irritar, e a coceira na cabeça, que tinha praticamente sumido durante a viagem, está voltando. ODEIO depender dos outros, odeio, odeio, odeio. Tem horas que eu gostaria de viver sozinha numa ilha, e ficar sem falar com ninguém nem pedir nada pra ninguém por anos a fio. Porque ficar em stand-by é a coisa mais estressante do mundo pra mim, sem saber o que fazer enquanto a minha vida depende de terceiros. Ódio!!!

Nesse meio-tempo uma ex lá da agência, a romena cujo marido tentou foder a chefa (e conseguiu, porque abriu outra agência e roubou vários clientes, estou adorando) me ligou pedindo a minha disponibilidade. Tenho uma revisão chatérrima pra amanhã, mas é melhor do que nada. Devagarzinho eu volto a trabalhar.