ikea e edredons

Eu sou fã de carteirinha da Ikea. Não porque ache as coisas ótimas; todo mundo sabe que móvel da Ikea é trash, não dura nada e coisa e tal. Na verdade isso pra mim é uma vantagem, porque quando encher o saco da decoração atual não vou ficar com remorso de jogar tudo fora e começar de novo (ao contrário da mentalidade reinante aqui, que ainda prefere coisas que durem a vida inteira. Deus me livre!). A única coisa da nossa casa que não é Ikea é a cozinha, coisa da qual aliás me arrependo porque nenhum outro fabricante de cozinhas tem tamanha variedade de sistemas de arrumação interna. Também não acho as coisas particularmente lindas; fora alguma peça verdadeiramente bonita aqui e ali, com um toque beeeeem diferente e que eu adoro, a maioria é ou totalmente normal, à beira do sem-graça, e há coisas muito feias também. Mas eu gosto da filosofia da coisa toda, de como as lojas são organizadas, das almôndegas, dos preços baixos, da possibilidade de montar as coisas do jeito que você quiser porque tudo é modular e compatível com todo o resto, do jeito que eles criam ambientes lindos com móveis simplérrimos. E dos tecidos. Ai meus sais, os tecidos!

Parece que é uma coisa bem sueca isso de usar tecidos e estampas pra decorar a casa, de mudar a palheta de cores de todos os tecidos de um cômodo pra mudar completamente a cara do ambiente. Então os tecidos são caprichados, bem diferentes, alegres, inusitados. Fiz capas pras almofadas da sala com um tecido branco estampado com silhuetas de animais feitos de origami (não achei no site pra mostrar) bem diferente :-)

Mas a minha atual paixão são as “fronhas” pra edredom. Isso foi uma coisa que eu descobri quando fui à Holanda pela primeira vez, porque na casa da Stefania era assim. Aparentemente nos países nórdicos não se usa o lençol de cobrir por baixo do edredom, mas sim uma espécie de fronhona gigante pra envelopar o próprio edredom, que assim não fica criando mafuá na cama cismando de se separar do lençol de cobrir. Tem uma outra vantagem, que é poder mudar a cara do quarto toda vez que se troca a roupa de cama. E tem outra vantagem ainda, que eu só fui descobrir depois: como não tem o lençol de cobrir, é uma coisa a menos pra ajeitar na hora de fazer a cama, e como o edredom é pesado, ele praticamente vai pro lugar sozinho, você dá uma jogada assim e ele vai! Fazer a cama é vapt-vupt.

Nós fomos outro dia com a Petulla e Moreno & cia e compramos esse, que fica lindo na cama. Tenho três bem alegres pra cama da Carol, dois dos quais não estão mais no site: um com uma paisagem estilizada com céu azul e uma colina verdejante, um com umas árvores estilizadas e compramos mais esse, que fiquei meio com o pé atrás porque parecia sóbrio demais mas no final das contas gostei.

E chega porque esse é simplesmente o post mais mal escrito que já saiu da minha cabeça.

potocas e carolinices várias

Ultimamente a Carol tem duas grandes preocupações: se as coisas/bichos falam ou não falam, e de ver os olhos. Não dá pra explicar direito, então vamos exemplificar:

– Ih, olha, Carol, uma joaninha! Olha que linda! (boto a joaninha numa folha de papel e levo pra ela ver; foi o Mirco que começou com essa mania de Little Beast Appreciation Day – volta e meia ele chega em casa com uma caixinha furadinha com um bicharoco dentro, de besouros gigantescos e chifrudos a bichos-folha, passando por formigas e caramujos)

– Que linda, mamãe, ela é tão pinininha! Deixa eu ver o olho dela!

Ou então.

– Amor, cuidado pra não pisar na vespa ali na frente, ela tá dodói.

– Coitada! Ela não fala! Deixa eu ver o olho dela!

Ou ainda:

– E aí, Carol, que música você cantou na aula de inglês hoje? A dos macaquinhos?

– Foi… Mas o macaquinho não fala.

***

– E aí, Carol, o quê que você fez de bom na escola hoje?

– Eu peguei o papel que caiu no chão.

– Ah tá. E depois?

– Depois eu comi e depois você chegou!

***

Amanhã é o aniversário da Declaração dos Direitos Humanos. Aquela que o Vaticano não assinou.

***

Ontem foi feriado aqui, o dia da Maria Imaculada ou sei lá o quê. Como se já não bastasse o ridículo de venerar uma fulana que engravidou sem perder a virgindade (haja paciência…), eles ainda tornam a coisa mais estúpida ainda dizendo que a Madonnina distribui presentes, à la Papai Noel. Como eu nunca tinha vivido essa experiência Madonnal no contexto infantil, porque até o ano passado a Carol nem sabia o que era um presente (e até agora ainda não entende bem o conceito, como ilustrarei a seguir), pra mim 8 de dezembro era só mais um estúpido feriado católico como tantos outros. Mas na quarta-feira, enquanto estava no vestiário esperando a Carol trocar os sapatos, uma outra mãe perguntou pra Carol o que a Madonnina ia trazer de presente pra ela. Nunca tinha ouvido falar dessa maluquice antes. Por sorte a Carol estava cantando sozinha e não ouviu porque teria sido difícil explicar; eu respondi qualquer coisa que nem me lembro e ficou por isso mesmo. A outra mãe ainda se despediu da gente dizendo “Buona Madonna!”. O que significa “Buona Madonna”? Entendo desejar feliz natal, porque é um feriado mais longo, muita gente viaja, a maioria fica dias sem trabalhar, então na verdade estou desejando boas miniférias, mas Buona Madonna pra mim é exatamente igual a desejar bom domingo. Nada de especial.

***

A Carol quase não vê televisão, só DVDs (rigorosamente em português ou inglês, lógico; italiano é absolutamente proibido dentro de casa), de modo que não vê propaganda nenhuma de nada. Como a gente adora comprar mas tenta não passar isso pra ela no dia-a-dia, o conceito de presente não está bem claro na cabeça dela ainda, felizmente. Outro dia perguntei o que ela ia pedir pro Papai Noel e ela respondeu: um presente. Depois pensou um pouco e me perguntou: Mas mamãe, o que tem dentro do presente? Morri de rir (não na frente dela, lógico) :-) E o melhor desse desapego todo é que ela nem toca no assunto, não pede nada, não pergunta nada de quando o Papai Noel vem nem coisa nenhuma. Por enquanto parece que estamos fazendo tudo certinho.

Isso porque o lance do Papai Noel só rolou porque não dá pra escapar mesmo, já que todas as crianças só falam disso e até os panfletos do supermercado mostram fotos do velho. Aproveitei o ensejo pra usá-lo como suborno no esquema do cocô. Horrível, eu sei, mas eu já estava arrancando os cabelos! Não tinha jeito de botar a menina pra fazer cocô no vaso! Só precisei ameaçar UMA VEZ que Papai Noel achava muito feio criança fazer cocô na fralda quando já é perfeitamente capaz de fazer no vaso, e que não sabia se ela ia ganhar presente, pra ela parar com a bobeira e passar a fazer no vaso. Fiquei me sentindo péssima porque suborno é uma coisa pérfida, ainda mais com criança, mas eu já não sabia mais o que fazer mesmo. Ainda bem que funcionou.

***

Essa eu PRECISO contar porque é surreal demais.

O Marco, pai do Menino Que Não Pode Suar, é a pessoa mais certinha do planeta. Vamos esquecer por um minuto que é muito fácil ser certinho e fazer questão de usar camisa passadíssima e engomadíssima quando não é ele que passa ou engoma. Concentremo-nos no fato da precisão da criatura em si.

Ontem encontramos com eles numa pizzaria e começou a rolar o papo da árvore de Natal. Vamos ignorar o momento awkward quando o Menino Que Não Pode Suar perguntou por que a gente não tem presépio e a mãe dele respondeu “porque eles não têm espaço” em vez de deixar que nós mesmos respondêssemos. Prestem atenção na loucura:

O pai do Marco jogou fora a árvore de Natal do ano passado. Marco ficou furibundo mas resolveu comprar uma natural pra ver que bicho que dava. Só que achou a árvore “muito irregular” (lógico) e conforme foi montando foi achando que estava tudo muito estranho. Então entrou no carro, dirigiu até a esquina (uns 200 metros), analisou à distância a árvore na varanda da casa, e começou a apontar com aquele negocinho laser enquanto falava com a mulher no celular: “Tá vendo essa bola dourada aqui que eu estou apontando? Bota ela mais pra esquerda… Mais pra sua esquerda… Isso!”. E assim terminou a montagem da árvore de Natal.

Sem mais por hoje.

a friagem vem aí, lalalalalalala

Uma amiga comentou outro dia que estava com uma dor de garganta power e que não sabia se esperava passar ou se ia ao médico. Ela tinha tido febre no dia anterior e estava com dificuldade pra engolir, então aconselhei ir ao médico, que provavelmente ia dar um antibiótico. Dito e feito. Só que além do antibiótico o médico disse pra ela não pegar frio por 3 ou 4 dias.

Eu juro que gostaria de entender o que é que europeus em geral têm contra “a friagem” (em italiano eles chamam de “frescata”). Será que é tão difícil de entender que o frio fosse realmente danoso ao ser humano não haveria ninguém morando de Nápolis pra cima? Eu sei que as mucosas ficam confusas com as mudanças bruscas de temperatura quando entramos e saímos entre locais frios e quentes nas estações extremas, mas nós não temos só as mucosas das vias aéreas como sistema de defesa. Se você estiver bem de saúde, não vai ser uma mucosa bolada que vai te deixar à mercê dos germes. Já tentei explicar ene vezes que o único problema que o frio causa (lógico que estamos falando de frio normal, não de ficar pelado na rua em Moscou em dezembro depois de uma semana de greve de fome) é o desconforto. Que pode sim rolar uma dor local por vasoconstrição – quando eu saio no frio de cabelo molhado sinto aquela dor tóooooin quando boto o pé na rua, mas depois passa quando entro no carro ou em outro lugar fechado. Sim, o nariz, as orelhas e os dedos dóem quando está frio demais, porque os vasos sanguíneos se contraem pra não perder calor, e essa contração rápida dói, normal. Mas veja bem, não está acontecendo nada de bizarro, meus dedos não estão necrosando, não vão cair, não vou ficar aleijada pra sempre – eles simplesmente estão doendo porque os vasos estão fechadinhos da silva. Quando o calor voltar eles vão dilatar de novo – e se a dilatação for rápida vai doer pra cacete, mas também passa – e pronto, voltamos à estaca zero. Mas não adianta explicar, porque “sempre foi assim” ou “foi assim que me ensinaram”, lemas idiotas que deveriam estar costurados na bandeira italiana de tão enraizados que estão na cabeça dessa gente. A minha mãe acha que é coisa do interiorrrrr, mas não é: eu já cansei de ouvir médico na televisão falando sobre fazer exercício ao ar livre e avisando muito seriamente pra não ficar sem camisa. Sem mais, meritíssimo.

Mas o pior pra mim é a mania da “corrente de ar”. QUALQUER COISA que neguinho sente de estranho por aqui, bota-se a culpa na corrente de ar. Inclusive – e prestem atenção que isso é muito grave – quando se trata de ar quente. Uma vez estávamos no carro andando em Santa Maria, em pleno verão, tipo 3 da tarde, 35 graus à sombra, e passamos por um fulano correndo só de short entre os campos. Eu imediatamente pensei com meus botões, “filho, nunca ouviu falar de insolação não?”, mas o comentário do nosso amigo interrompeu meu raciocínio: “Cara maluco, vai pegar uma pneumonia correndo sem camisa!”.

PÁRA TUDO.

Cacetes estrelados, vento não causa pneumonia. Pneumonia é causada por vírus, bactéria, fungo; pode ser química, em caso de reação a vômito broncoaspirado, por exemplo; pode ser um monte de coisas. Mas “vento” não é uma causa de pneumonia. Vento resseca a mucosa, aliás a queixa maior de quem não gosta de ar condicionado, mas não causa danos permanentes à garganta de ninguém. Vento resseca a pele, o que pra mim, que já tenho pele seca, é o horror, o horror. No meu caso em particular, vento irrita PRA CACETE, o que deve ter alguma repercussão psicossomática não indiferente. Mas eu já ouvi gente citando o vento como causa de *tamboresssssss* dor de dente, indigestão, dor nos rins (já falei que rim não tem receptor nervoso pra dor, mas não adianta), dor nas costas, dor no pescoço (a nacionalmente famosa “cervicale”), e tudo o mais que vocês possam imaginar. Um dia em que a mãe de uma amiga me avisou pra não ir lá pra fora depois de almoçar pra não dar indigestão eu quase engasguei de tanto rir e foi difícil explicar que eu não ia comer neve (que nem tinha porque aqui não neva) nem sair correndo pelada pela rua. Mas é como falar com as paredes.

Menos religião e mais ciência nas escolas, por favor.
Grata,
Leticia

eu e a ioga, a ioga e eu

Como eu mencionei outro dia, estou fazendo ioga. Aulas com a Petulla (clique aqui se estiver na zona de Assis-Perugia e quiser fazer aulas com ela). Estou adorando, embora seja só uma vez por semana.

Facilita muito a minha vida iogal fazer ginástica há séculos, porque é lógico que o que nós chamamos de “alongamento” é tudo chupado da ioga, então conheço muitas das posturas. Também ajuda muito ser naturalmente flexível, embora eu tenha perdido muito nessa área ao longo dos anos. Ajuda um pouco menos estar enormemente gorda.

Mas estou achando legal mesmo. Ao contrário do que acontece com a maioria das pessoas que eu conheço que fazem ioga, eu não saio de lá nada relaxada, mesmo fazendo o relaxamento final dando o melhor de mim (eu só sei relaxar dormindo, então tenho que me concentrar pra manter os músculos relaxados estando acordada). Saio feliz da vida por ter conseguido ficar em pé mais tempo na postura da árvore hoje do que na semana passada, por ter esticado a minha coluna, por ter alongado os pobres músculos da coxa, maltratados (no bom sentido) pela musculação pesada e pela aeróbica nossa de cada dia. Então só tem vantagens.

Recentemente descobri o PiYo, sempre da Chalene Johnson. Mostrei pra Petulla e ela adorou, ou seja, é uma coisa diferente mesmo – uma mistura de Pilates com ioga, mas não me perguntem mais porque não entendo nada nem de uma coisa, nem de outra. Comprei os DVDs da série FAN (não há um “programa” PiYo pela Beachbody, como tem do TurboJam e Turbo Fire, por exemplo) e achei bárbaro. Parece moleza mas é cansativo pra cacete, mas de um jeito bem diferente. Tudo bem que a estética é horrenda – cada aula é em uma academia diferente, camera work não é lá essas coisas, a voz em off é de péssima qualidade – mas os exercícios são muito interessantes.

O meu problema com a ioga é a esoterização que as pessoas fazem dela. Acho ótimo meditar, adoraria conseguir (ainda não tenho essa paciência toda), mas não fico me achando mais parte do universo só porque estou sentada numa posição maluca prestando atenção na minha respiração, sabe. Não fico transcendentalizando, esoterizando, sublimando, poetizando. Pra mim ioga é só mais um jeito de se exercitar, menos traumático, mais tranquilo, menos suadouro. Só. Gosto tanto da ioga quanto do Turbo Fire, que é praticamente uma rave em forma de ginástica – ontem eu cheguei a gritar e chorar de ódio da gordura de tanto que pulei pela sala dando chutes terrivelmente fortes no ar. E acho então essa espiritualização da coisa muito chata.

Pelo visto não sou só eu: o padre Amorth, o mais famoso padre exorcista italiano (juro que não estou brincando), também acha que a ioga tem toda pinta de religião, o que pra mim é só meio babaca mas pra ele logicamente é coisa blasfema e demoníaca (a clássica moral católica do “toda religião é válida mas a minha é mais válida do que a sua”, que eu adoro – NOT.). Se bem que ele também acha a mesma coisa dos livros do Harry Potter… Pra quem lê italiano, a notícia – que só não é mais engraçada por falta de espaço – está aqui. Os comentários são espetaculares: o meu preferido é aquele que diz que bota de cano alto em perna curta também é coisa do demônio. Ri até sair sopa pelo nariz.

domenica linguistica

A expressão em português que faz falta em outras línguas do dia é: NADA A VER

O false friend do dia é: ASILO (em italiano quer dizer “creche”)

A palavra maravilhosamente útil em italiano dia dia é: RIMBAMBITO (monguinho, estado de bobeira inclusive temporária, gagá – Exemplos: “Não dormi nada essa noite, hoje estou meio rimbambita“, ou “Il papa Benedetto XVI è solo un vecchio rimbambito con le scarpe di Prada”)

a escola da carol

Quando a Carolina nasceu, uma das primeiras coisas que a gente pensou foi: caraca, onde é que essa garota vai estudar? Porque sim, há várias creches por aqui, públicas e particulares, mas todas enquadradas no esquema educacional italiano, que eu odeio – basicamente preparam a criança pra vida de decoreba que terão ao longo dos anos de escola, ao final dos quais serão os piores da Europa em praticamente todas as matérias. Pra não falar das duas horas – DUAS, 1 + 1 – horas de religião por semana já na chamada “scuola dell’infanzia”, o nome oficial da preschool aqui. Felizmente nesse meio tempo abriram a escola dela em Santa Maria, a 7 minutos aqui de casa e within a short walking distance da minha sogra.

A escola tem um nome ridiculamente pomposo porque é administrada por uma fundação esquisita que ninguém sabe direito o que faz, fundada por um napolitano (hm…) egocêntrico aparentemente sem nenhuma formação científica ou humanística ou o que quer que seja. Pelo que ouvi falar o negócio é uma espécie de culto da personalidade, sabe, e é seguido pelos seus “fãs” com um certo grau de fanatismo. Mas como isso não tem a menor influência sobre a escola, que segue linhas pedagógicas bem precisas senão não pode ser chamada de montessoriana, a coisa não me interessa.

Descobrimos a existência da escola quando vimos um panfleto no consultório da pediatra da Carol. O panfleto dava a data de um open day pros pais conhecerem a escola, que já tinha um ano de funcionamento. No dia marcado fui lá com a Carol e conversei muito com a diretora (que não é mais a mesma, infelizmente) enquanto a Carol ficou sozinha, pasmem, com uma das professoras, brincando com os brinquedos de madeira em uma das salas de aula. Ela normalmente è muito avessa a estranhos, mas naquele dia eu saí da sala e ela nem me deu tchau, ficou lá brincando com aquela garota novinha que ela nunca tinha visto na vida. Achei um bom sinal. Fiz a pré-inscrição naquele dia mesmo, e voltei em janeiro pra pagar a matrícula e formalizar a inscrição.

A história da Maria Montessori, criadora do método do mesmo nome, é muito interessante (vão procurar porque vale a pena). Por aqui fizeram há alguns anos uma minissérie sobre a vida dela, com a ótima Cortellesi no papel principal, mas eu nunca consegui assistir inteira. A verdade é que qualquer escolinha que não tivesse um crucifixo na parede nem aulas de religião pra gente já seria uma maravilha, pois estamos ficando cada vez menos pacientes com religiões em geral conforme passam os anos, e ter encontrado um lugar que não só não tem nenhuma ligação com esses desgraçados da igreja católica mas também segue um método que eu aprecio muito foi um presente dos céus (hohoho). Porque um dos lemas da Montessori é que as crianças têm que aprender a aprender. Aprender a gostar de aprender. E aprender fazendo.

Não há brinquedos de plástico nas salas, só de madeira, todos desenvolvidos pela própria Maria segundo a lógica pedagógica dela. Não há portas fechadas – nada de armários, só prateleiras abertas às quais as crianças têm acesso livre, pois tudo está colocado na altura delas e elas têm total liberdade de mexer e futucar no que quiserem. As turmas não são divididas por idade, mas sim pela capacidade das crianças (isso mais tarde; por enquanto a scuola dell’infanzia tem uma só turma com crianças de 3 a 5 anos todas juntas, obviamente com capacidades muito diferentes); segundo a Maria crianças menores têm muito a aprender com as maiores, e vice-versa. As professoras são mais observadoras do que outra coisa, deixando que as crianças aprendam sozinhas como funcionam os brinquedos e só entrando em ação quando a criança realmente não consegue fazer o que quer e começa a ficar frustrada. Mesmo assim, as intervenções têm como objetivo ajudar a criança a resolver o problema sozinha e lidar com a própria frustração, ensinando-a a insistir até conseguir e a ter orgulho de tentar fazer as coisas sozinha.

A gente aqui em casa sempre tenta estimular a Carol a ser independente, e de fato ela fica pau da vida se você tentar ajudar quando ela tá lá lutando pra fechar o casaco ou enfiar o pé no sapato ou guardar os DVDs na estante ou sei lá o quê. Desse ponto de vista ela tem sorte por eu não ter horário fixo de trabalho, porque às vezes ela leva uns dez minutos até conseguir fechar o zíper do casaco pra gente finalmente sair de casa… Mas enfim, essa independência é muito estimulada na escolinha. Todos os dias duas crianças são escolhidas pra servir o almoço. Cada criança tem seus próprios talheres, seu copo e seu guardanapo de pano guardados em uma espécie de envelope de algodão que aqui se encontra até no supermercado, e seu joguinho americano (facilita horrores em termos logísticos porque evita brigas, já que cada um realmente tem o seu e pronto). Cada uma bota a própria mesa, por assim dizer, e depois os dois “garçons” do dia servem a comida, que vem em pratos de plástico selados com filme plástico pra não derramar. Todas comem sozinhas e depois cada uma guarda suas próprias coisinhas no seu próprio saco de pano, que por sua vez é guardado na sua mochila, na qual vão pra casa pra serem lavadas pelos pais. É a coisa mais fofa: todos saindo da sala do almoço em fila, jogando os pratos sujos no saco de lixo fora da porta e carregando cada um seu saco com os seus pertences e o joguinho americano, que são guardados em lugares específicos em outra sala.

Cada criança também tem sua própria toalha de rosto, com o nome bordado ou etiquetado; cada toalha fica pendurada num ganchinho na entrada do banheiro, e acima de cada ganchinho tem a foto do dono da toalha, pra ninguém usar a toalha dos outros. Todas vão ao banheiro sozinhas (a Carol adora o vaso sanitário “pinininho”, tamanho megasmall) e só chamam a Sonia, a assistente (leia-se limpadora de bundas infantis), depois que já fizeram o cocô e precisam de ajuda pra se limpar. No vestiário, onde ficam as mochilas, cada criança tem outro ganchinho com o seu nome, onde fica pendurada uma bolsa com duas mudas de roupa. Cada uma tem um cabide com o próprio nome escrito, onde pendura o casaco quando chega e o jalequinho quando sai.

(O jalequinho, que eles chamam de “grembiule” – avental, é um clássico da escola italiana, e acredito que também seja usado em outros países europeus, não sei. Quadriculado pequenininho, rosa pras meninas (…) e azul pros meninos, com ou sem algum personagem bordado na frente, pode ser comprado em qualquer loja de roupa de criança ou supermercado. O da Carol tem a Minnie e eu comprei no supermercado mesmo. Ela queria o azul, mas só tinha bicho feio bordado, esses monstros do Ben Ten e outros horrores que ela nem conhece e detestou, então fomos de rosa mesmo. Apesar de cafona, porque tem uma golinha ridícula praticamente vitoriana, é uma ótima ideia, pois quem fica sujo é o jaleco e não a roupa.)

Outra coisa legal: ninguém entra de sapato nas salas de aula. Cada criança tem a sua própria caixa de sapato no vestiário, com um par de sapatinhos pra andar dentro de casa (hediondos) ou Crocs (que felizmente quase todas as crianças usam atualmente; são horrorosos mas pelo menos divertidos e alegres, enquanto que os tais sapatinhos têm sempre uma cara de pantufa de velho, eca). A criança chega, tira os sapatos, calça os Crocs, bota os sapatos na caixa, guarda a caixa no lugar, pendura o casaco, veste o jaleco e vai pra sala de aula. Achei sensacional, porque vamos combinar que poucas coisas no mundo são mais asquerosas do que sapato, néam. Aqui em casa não se entra de sapato; desde pequenininha ela tira os sapatos assim que entra em casa, bota no armário e fecha a porta, de modo que nada disso foi novidade pra ela.

No caso dessa escola dela, o fato de ter inglês também fez a diferença, porque nessa idade as escolas não são obrigadas a oferecer línguas estrangeiras (isso explica muita coisa). A escola diz ser bilingue, mas o termo não é correto porque pra mim escola bilingue é aquela na qual uma boa parte das aulas ou atividades é feita em outra língua, o que não é o caso: todos os dias as crianças têm uma hora de inglês, metade da turma de cada vez, com uma professora inglesa muito legal, e isso já é muito mais do que a maioria das outras creches, que não tem inglês nenhum, mas bilingue bilingue mesmo não é. De qualquer maneira, a Carol já começa a dizer “what’s this?”, “sit down”, “be careful”, “excuse me”, e a identificar e perguntar o significado de várias palavras nos desenhos que assistimos em casa (porque aqui é terminantemente proibido ver TV em italiano, só em português ou inglês). Por exemplo: um dia ela falou “sei lá quem é stupido” e eu disse que não se diz “stupido”, que é uma coisa feia, e ela disse “mas a vovó fala”, e lá fui eu explicar que na Itália as pessoas praticamente se enchem de porrada e se ofendem das piores maneiras durante conversas normais, plácidas, pacatas, quotidianas, e que aqui isso é normal mas no resto do mundo não, de modo que não se usa “stupido” e pronto. Poucos dias depois estávamos vendo A Bug’s Life e o Hopper diz “Do I look stupid to you?” ou “Do you think I’m stupid”, não lembro, e ela, horrorizada: o Hopper falou *sussurrando* stupido! Coisa feia! Quando eu leio The Very Hungry Caterpillar pra ela, ela lembra que a palavra “moon” também aparece no desenho do Jack (Nightmare Before Christmas), quando uma das bruxas diz que o Jack é tão maravilhoso que chega a ofuscar a lua ou coisa parecida. Quer dizer, estamos indo bem. Gostaria de mais horas de inglês por dia, e possivelmente chinês, mas por enquanto tá bom assim.

Mas o que me ganhou mesmo foi o questionário eLorme que tive que responder quando fiz a matrícula. Além das perguntas mais tradicionais (e que mesmo assim nenhuma outra escola aqui da região perguntou pra ninguém; nenhum amigo nosso respondeu a questionário nenhum quando botou o filho na escola), tipo se a criança mamou no peito, se já foi à creche antes, com quem ficava em casa se não foi à creche, se tem alergias alimentares etc, tinha muitas outras perguntas interessantes e inesperadas. Quantas horas por dia a criança passa em frente à televisão? A criança entende a importância de botar as coisas no lugar? A criança tem liberdade pra mexericar em tudo em casa? A criança gosta de experimentar comidas novas, diferentes? O que ela gosta de fazer, de brincar? Há livros em casa pra ela brincar?

E a lista de materiais e recomendações que a escola manda antes das aulas começarem? Maravilhosa. Desaconselham firmemente o uso de roupas com botões, cadarços, babados ou qualquer outra coisa que possa ficar presa ou incomodar a criança, assim como tecidos desconfortáveis. Praticamente imploram que os pais mandem a criança pra escola de moletom em vez de jeans ou denim, tecidos duros que alguém decidiu que eram confortáveis e essa propaganda enganosa foi sendo perpetuada até hoje (DETESTO jeans, não consigo imaginar roupa mais desconfortável do que um par de calças jeans, aquele tecido duro – porque é duro mesmo quando o jeans é amaciado – e aquelas costuras grossas e rígidas, cruzes). A Carol tem uma invejável coleção de leggings, comprados a 5 dólares no outlet da Carter’s em Boston, montes de blusinhas de manga comprida simplérrimas da Zara kids, blusas de moletom compradas no supermercado, todas roupas ótimas pra “bater” e que não vou ficar chateada se manchar de molho de tomate ou pilot. E pensar que o Menino Que Não Pode Suar vai pra escola de camisa social…

para todo mal há cura

Estava eu googlando acupuntura & psoriasis quando caí na caixa de comentários de um blog de um cara com psoríase. O blog era uma droga (fazia parte de uma rede de blogs de médicos católicos…), mas a caixa de comentários era muito interessante. Várias dicas sobre técnicas de respiração da ioga e coisa e tal, e entre os muitos comentários tinha um sobre a dieta Cayce-Pagano. Lá fui eu catar os nomes.

Edgar Cayce era um cara estranho, mas aparentemente bem-intencionado. Não fui procurar as explicações científicas pra história dele (tenho certeza de que existem) porque sinceramente o que me interessava era parar com essa porcaria de coceira. Então fui procurar o Dr. Pagano, e achei o livro dele na Amazon. Fiquei horas lendo os reviews do livro – atualmente não compro nem água mineral sem perder um tempinho estudando os reviews da Amazon – e resolvi tentar. Mal não podia fazer.

A teoria do Dr. Pagano, baseado nos escritos daquele doido do Cayce, é a de que o que é conhecido por “leaky gut syndrome” provavelmente é a causa da psoríase e de muitas outras doenças. A tal da leaky gut syndrome nada mais é do uma condição anormal do epitélio intestinal, que se torna poroso; determinadas toxinas, em vez de sair no cocô, voltam da luz do intestino pra corrente sanguínea através desses poros, e vão causar problemas em outros lugares do corpo. No caso da psoríase, as lesões da pele seriam uma tentativa do corpo de eliminar essas toxinas.

Como vocês estão vendo, cientificamente a coisa faz muito sentido (senão eu nem teria continuado a ler porque tenho PA-VOR de explicações esotéricas, místicas, espirituais e afins). De acordo com a experiência do Dr. Pagano, que lida com psoríase há uns 30 anos, a imensa maioria dos pacientes dele com a doença têm prisão de ventre, o que seria mais uma confirmação da validade da teoria da leaky gut syndrome. Eu não tenho nem nunca tive, mas em compensação não suo nada, ou seja, um dos meus canais de eliminação de toxinas está sobrecarregado – a água que normalmente sairia pelo suor mas não sai tem que ser eliminada por algum lugar, ou seja, os rins. Pode ser a explicação pro meu caso.

Ao longo dos anos o Dr. Pagano foi adaptando os escritos do Cayce sobre a psoríase até chegar ao que ele chama de Pagano regimen. Há chás, realinhamento da coluna, hidrocolonterapia, banhos de sais, emplastros de óleo de rícino e outras coisas aparentemente estranhas mas todas explicadas de maneira séria e científica no livro, embora não haja estudos sobre o assunto; são só as teorias do doutor, que aliás não é médico mas chiropractor, mas que obviamente entende de fisiologia. Mas a parte mais importante do esquema dele é a dieta, porque as tais toxinas são de origem alimentar; o objetivo seria primeiro eliminar todas as toxinas e depois parar de ingeri-las, e então deixar o pH do organismo levemente básico, pra facilitar a reparação do epitélio intestinal e melhorar a saúde em geral através do melhoramento do funcionamento fisiológico do organismo, que aparentemente trabalha de maneira mais eficiente e resiste melhor a doenças quando tende ao alcalino.

Ele começa com a dieta desintoxicante de três dias: três dias à base de maçã (o uvas), ou então cinco dias à base de frutas em geral, com uma sessão de hidrocolonterapia ou enema no final de cada dia, e muito iogurte natural ao final da dieta pra reconstituir a flora intestinal perdida durante esses dias. Se fossem três dias à base de ovo, de sopa, de brócolis, de salmão, de queijo, de iogurte, praticamente de qualquer coisa eu conseguiria sem problemas, mas quando se trata de fruta eu num guento. Fiz dois dias e quase morri de tanto enjoar; no terceiro pedi arrego e comecei logo com a dieta.

Comidas absolutamente proibidas:
– A família das plantas chamadas “nightshades”: tomate, beringela, batata (batata-doce pode, porque não é batata; inhame também pode, mas infelizmente aqui não tem), pimentão (que eu felizmente odeio), páprika (da qual não sinto falta; o problema é que adoro curry e curry tem páprika), tabaco (pra quem fuma).
– Frituras
– Frutos do mar
– Farinhas brancas
– Carnes vermelhas, carne de porco, carnes processadas (embutidos etc)
– Álcool (ele permite um copo de vinho tinto de vez em quando)
– Morango, pra quem tem artrite de psoríase
– Refrigerantes

Comidas permitidas em quantidades moderadas:
– Grãos e cereais integrais e leguminosas (todos dão subprodutos ácidos, com a exceção de quinoa, milhete e amaranto)
– Frutas secas (a única com subprodutos alcalinos é a amêndoa)
– Carnes brancas (peru, frango, peixe – de preferência os peixes oleosos); carne de carneiro uma vez na vida outra na morte, pra quem gosta (eu detesto)
– Café, pra quem toma
– Açúcar
– Leite e laticínios, sempre low-fat, desnatados etc
– Azeite
– Ovos

Combinações proibidas:
– Frutas cítricas com carboidratos
– Maçã, melão e banana combinados com outras frutas; só podem ser comidos sozinhos

Comidas permitidas à vontade:
– Frutas, todas, cruas ou cozidas (tenho pavor de ambas as formas)
– Verduras – particularmente indicadas são alface romana, aipo, espinafre, alho e mais alguma que eu esqueci e estou com preguiça de procurar no livro. Uma das refeições do dia deve ser uma saladona, com verduras cruas. A proporção deve ser três vegetais que crescem acima da terra pra cada um que cresce embaixo da terra. Frutas e verduras devem formar 80% da dieta.

E, logicamente, quando se fala de “flush out” as toxinas, há que se beber muita água.

Obviamente não é uma dieta fácil de seguir, nem em termos práticos, porque ficar lavando essa verdurada toda é um porre, nem em termos psicológicos, porque viver rodeado de coisas que você não pode comer não é mole. O meu problema em particular é a fruta, que eu abomino, mas tomo um copo de suco por dia e de resto capricho nas verduras pra compensar.

Atualmente o que eu estou fazendo é tomar sopa no almoço (e às vezes no café da manhã também) e comer a maldita da salada no jantar. Faço sopão com oitocentos verduras e alguma leguminosa, rapidinho na panela de pressão, e dá pra uns três ou quatro dias. A salada normalmente tem atum, salmão ou ovo cozido como fonte de proteína. O lanche da manhã é um suco de frutas; o lanche da tarde são cinco amêndoas e um iogurte desnatado com lecitina de soja (um dos muitos suplementos “alcalinizantes” que ele recomenda). Com toda a sinceridade, não passo a menor fome, mas a vontade de comer uma focaccia de alecrim de vez em quando é muito difícil de controlar. Espero que cortando as farinhas a coisa fique mais fácil. Não estou oficialmente em dieta no-carb, mas quando não tenho vontade, não como. E quando como é só arroz integral, ou então aquelas misturas multigrãos que eu amo, com aveia, cevada, arroz vermelho/selvagem/preto, quinoa etc.

Segundo o Dr. Pagano um flare-up – uma piora – é de se esperar, porque em um certo ponto o corpo começa a purgar as toxinas acumuladas em excesso mais ou menos ao mesmo tempo, e uma piorada é normal, mas isso não deve desencorajar o pobre paciente. Pelas fotos do livro e pelos muitos reviews positivos na Amazon, o sistema funciona. Ele diz que tem pacientes que fazem a dieta por um tempo e se livram da doença e passam a comer normalmente depois, sem problemas; outros precisam seguir a dieta à risca a vida inteira mas de vez em quando se dão ao luxo de pular a cerca; outros ainda precisam ficar nesse esquema pra sempre e cada escapada significa um retorno da doença, precisando então voltar à dieta rígida. Sinceramente, eu gostaria de me enquadrar na última categoria: talvez se o meu cérebro entender que eu sou praticamente alérgica a essas comidas (e às farinhas…) fique mais fácil seguir o regime e parar de pensar em comida o tempo todo. Porque normalmente uma escapada leva a outra, e a outra, e a outra…

Dei uma melhorada depois de poucas semanas seguindo a dieta e tomando os suplementos, mas tive uma recaída (frutos do mar em um almoço que eu sinceramente não pude evitar) e piorei de novo. Agora estou na segunda semana de dieta séria, anotando tudo pra não enganar a mim mesma, e vamos ver no que dá. I’ll keep you posted.

a psoríase galopante

Não vou entrar nos detalhes da doença aqui porque basta dar um pulinho na Wikipedia pra entender do que se trata. No frigir dos ovos, pouco ou nada sabe-se sobre a fisiopatologia dessa desgraçada; há casos que começam depois de um machucado, outros depois de ciclos de antibióticos após uma amigdalite, outros depois de um período de estresse intenso, há bebês de poucos meses de idade com a doença, ou seja, de tudo um pouco. A minha começou quando eu trabalhava praquele siciliano filho da puta que sumia quando chegava o dia do pagamento, e quando reaparecia, uma semana depois, distribuía cheques sem fundos. Naquela época eu também tinha enxaqueca toda semana. Começou na cabeça, com coceira e descamação inacreditavelmente intensas, e só muito mais tarde, quando eu já estava querendo estrangular a Danila (o Dragão Laranja), piorou muito e passou pra outras partes do corpo, primeiro os cotovelos e depois todo o resto. Não me lembro exatamente quando sumiu, mas lembro que no período em que dei uma boa emagrecida, antes de engravidar, já não tinha mais nada.

Ano passado ela voltou. Pegou a parte interna das orelhas, vermelhas e descamadas ao ponto de sangrar, e agora está chegando atrás das orelhas também. Pegou os cotovelos, onde forma crostas horríveis e dolorosas quando apóio os cotovelos na mesa, mas não coça. Pegou os joelhos, onde forma outras crostas horríveis que doem quando ajoelho pra fazer yoga ou procurar um brinquedo da Carol embaixo do sofá. Pegou as pernas e coxas, onde não forma crostas mas sim manchinhas vermelhas que coçam um pouco. No couro cabeludo as crostas são incrivelmente espessas e coçam que é um horror; eu descamo tanto que tenho que varrer o chão ao lado da cama de manhã (de noite, meio que inconscientemente, depois de coçar a cabeça eu passo a mão no travesseiro pra jogar as escamas no chão, senão grudam na minha cara quando eu me viro). Está pegando as palmas das mãos e a pele entre polegar e indicador, não formando crostas mas sim uma leve descamação que coça e incomoda muito, inclusive me forçando a interromper a digitação de vez em quando pra me coçar. Ou seja, um grandíssimo pé no saco.

Momento de reflexão: remédio pra dor existe de moooitos tipos. Mas e pra parar coceira? Imaginem uma parte do seu corpo coçando O TEMPO TODO, SEM NUNCA PARAR. Pra mim é igual à dor em termos da infelicidade que causa.

Não preciso nem dizer que já tentei todas as pomadas e espumas e loções do planeta. Tenho uma gaveta cheia. Quando funcionam, funcionam por algumas semanas e depois perdem o efeito, ou então funcionam só em uma parte do corpo e não em outras. Pra não falar dos efeitos colaterais: como quase sempre têm algum corticóide na fórmula, a longo prazo rola um espessamento da pele (que é justamente o que acontece na psoríase), entre outras coisas legais. Ou seja, não há remédio, aparentemente.

Ou pelo menos não tinha…

(Cenas dos próximos capítulos)

morte à farinha

Já tem um tempo que ando procurando um substituto pra farinha de trigo. Não sou alérgica nem intolerante ao glúten, mas a farinha de trigo, mesmo a integral, desencadeia a minha compulsão alimentar. Como é um alimento que não tem NADA de positivo – tem índice glicêmico alto, quase nada de proteína, quase nada de vitaminas, fibras só na versão integral – resolvi banir a bichinha da minha vida. Isso dentro do contexto da dieta do Dr. Pagano que estou fazendo (assunto pra outro post).

Há alguns meses caí numa página de receitas pra bento boxes (não me perguntem como eu fui parar lá; adoro bento boxes e tenho algumas, mas só porque são lindas, já que trabalho de casa e não preciso levar comida pra lugar nenhum) e achei uma receita de panquecas de grão-de-bico. A autora do blog que dava a receita elogiava a versatilidade da panqueca e a boa “congelabilidade” da receita, e mostrava como ela podia ser feita naquela frigideira retangular japonesa pra panqueca (ou a omolete, o uso original da panelinha) ficar bonitinha no bento. Achei genial e saí catando farinha de grão-de-bico. Acabei achando no meu supermercado de sempre, embora só haja uma marca disponível. É uma empresa de Spello, aqui pertinho, então ainda tem a vantagem de ser comida a quilômetro zero, com menor carbon footprint etc. Só que larguei o pacote no armário e esqueci solenemente dela.

Hoje, vendo que a psoríase dos cotovelos está chegando nos punhos e a do couro cabeludo coça feito uma desgraça, resolvi dar uma apertada no Pagano-Cayce regimen. Ele aconselha reduzir os farináceos em geral e usar só pão, massa e biscoitos de farinha integral, mas sugere o uso de alimentos feitos com farinha de tupinambo, que obviamente aqui no Zaire não existe. Então decidi finalmente testar as benditas panquecas de grão-de-bico.

Menina, ficaram ó-te-mas! Parece que é uma receita indiana. Fiz uma, comi pura pra ver que gosto tinha, adorei e saí fazendo várias, inventando um pouquinho em cada uma: semente de gergelim, cebolinha picada, alho desidratado, curry (opá, curry não posso, tem páprika, depois explico), semente de linhaça… Ficaram uma dilissa. E foi assim que encontrei o meu substituto pro pão. Em vez de uma fatia de pão torrado com queijo e peito de peru no café da manhã, vai uma panqueca. Como substrato, dá no mesmo, mas dá muito mais saciedade porque tem alto conteúdo proteico, não tem índice glicêmico alto, não liga o comedor desenfreado na velocidade máxima… Só vantagens.

A receita não poderia ser mais chulé: misture a farinha de grão-de-bico com água até atingir a consistência de massa de panqueca (dããã). Sal a gosto, um tiquinho de pimenta-do-reino pra dar um tcham (eu usei pimenta branca) e voilà! Fica pronta rapidinho. Tem gente que faz na hora mesmo, uma colher de sopa de farinha com uma de água e pronto.

A próxima vai ser a panqueca de lentilha com arroz, receita também indiana, que inclusive acho que já postei aqui mas nunca fiz. E amanhã explico melhor esse negócio da psoríase que agora tenho que trabalhar.