Incidência de TSI em espécimes de Carolinus filhadepacae

Abstract

O presente estudo analisa a incidência e o caráter de Terríveis Semanas Insones (TSI) em espécimes de Carolinus filhadepacae, com o objetivo de determinar suas causas e de identificar possíveis soluções. Episódios de TSI tem grande importância econômica e de saúde pública, visto que genitores com déficit de sono rendem menos no trabalho e tendem a dirigir mal, comportar-se mal com terceiros, comer mal e pular sessões de exercícios físicos.

Materiais e métodos

O estudo foi realizado observando um espécime de Carolinus filhadepacae no seu habitat natural, em dois meses consecutivos (outubro e novembro de 2009).

Descrição

No mês de outubro de 2009 o espécime em questão apresentou somente uma TSI, após a qual voltou a sleep through the night (STTN) como vinha fazendo anteriormente. Durante a TSI de outubro o espécime não só despertava várias vezes durante a noite, mas não era capaz de adormecer novamente, permanecendo por longos períodos (de 1 a 3 horas) em um estado que os observadores chamaram de “assanhamento intenso”. Tal estado incluía ficar em pé, falar, rir, escalar os genitores e procurar brinquedos. Entretanto, era claro o estado de necessidade intensa de sono, pois o espécime continuava a esfregar os olhos com as mãos e a coçar a cabeça, sinais claros de vontade de dormir.

O episódio de TSI no mês de novembro de 2009 durou quase o mês inteiro, mas assumiu um caráter completamente diferente. De fato, não houve poucos episódios de despertar total com assanhamento intenso e atividade física acelerada, mas sim numerosos episódios de leve despertar, não necessariamente relacionados à perda da chupeta, rapidamente resolvidos com apenas alguns segundos de colo.

Conclusão

A diversidade dos episódios e a ausência de relações óbvias com eventos particulares levou os observadores a concluir que sua possível causa seja o aparecimento da primeira dentição, que apresenta sintomas claros (esfregação das gengivas, excesso de salivação, irritabilidade, resmungos contínuos).

Mais estudos são necessários para determinar possíveis soluções para o problema, visto que os tradicionais geis contra dor nas gengivas e paracetamol não foram eficazes. Espera-se, contudo, que não haja mais episódios de TSI nos próximos meses.

o crucifixo

Essa semana aconteceu uma coisa extraordinária.

A Corte Europeia dos Direitos Humanos decidiu que crucifixo em sala de aula viola a liberdade de religião, e condenou o estado italiano a pagar uma quantia praticamente simbólica como indenização por danos morais à mulher que recorreu à Corte, uma finlandesa de cidadania italiana (a história completa está aqui, com a entrevista feita com a família, em italiano). Fiquei emocionada quando ouvi a notícia e mais ainda depois que soube que todo o suporte legal foi dado pelos advogados da UAAR, da qual sou sócia. Ficamos todos emocionados, embora tudo o que está acontecendo agora fosse altamente previsível.

De maneira geral, todos os políticos criticaram a decisão, lógico, porque ninguém tem coragem de ficar contra a Igreja. Berlusconi já disse que vai recorrer, claro. Vários prefeitos disseram coisas tão simpáticas quanto “podem morrer todos eles, mas o crucifixo fica”. Outros escreveram cartas aos diretores das escolas “convidando-os” a expor o crucifixo nas salas. Os argumentos de quem é contra a decisão são dois, e vamos combinar que são os clássicos argumentos de quem não pensa: 1) o cristianismo é uma tradição italiana (imediatamente neguinho comentou, no fórum da UAAR, “vamos pendurar uma pizza em cada sala de aula então!”), e 2) o crucifixo é o símbolo do laicismo italiano. Tipo assim, hellooooooooo crucifixo laico? Oquei, oquei, não dá pra discutir, lógica não é o forte dessa gente.

O problema, logicamente, não é o crucifixo propriamente dito. É um símbolo, de péssimo gosto, por sinal, e mais nada. O problema, como sempre, é o que está por trás dele. E o que está por trás é exatamente esse comportamento arrogante desses prefeitos que, em vez de obedecer a uma lei europeia que tem poder legal na Itália, e que está certa, visto que segundo a constituição italiana este país é laico, fazem comentários absurdos como esses acima. Vou contar outra historinha pra ilustrar melhor.

Há alguns dias morreu uma senhora idosa em Padova (Pádua). Declaradamente ateia e mãe de um membro ativo da UAAR, ela tinha declarado expressamente que não queria nenhum ritual religioso quando morresse. Mas o padre da paróquia local, que fica rondando o hospital onde a velha morreu, cismou que quer dar a extrema-unção. Não só cismou: disse que assim que a família relaxar a vigilância ele vai lá dar os paramentos escondido, que o hospital “é casa dele e ele faz o que quiser”.

Minha mãe diz que nesses casos é melhor deixar pra lá porque jogar aquela aguinha idiota e vomitar meia dúzia de palavras sem sentido sobre uma virgem que pariu um deus “não faz mal”. É claro que não faz mal, já que rezar tem o mesmo efeito de ler uma receita de sopa de cebola, ou um trecho do Código Civil, ou o manual da sua máquina de lavar roupa. O problema não está na reza propriamente dita, assim como não está no crucifixo propriamente dito. Está no poder intocável que esses parasitas católicos tem, no dinheiro que eles sugam, na lavagem cerebral que fazem, no atraso no qual insistem em deixar esse país (e metade do planeta) impedindo as pessoas de pensar por si mesmas e de criticar o que quer que seja. Isso tem que acabar. TEM QUE ACABAR. Essa gente horrível tem que entender que nem todo mundo pensa como eles, que nem todo mundo está cagando pro que eles dizem, que tem gente que quer que vão todos pra puta que o pariu e que parem de indoutrinar as crianças, que a religião é, de verdade, the root of all evil. Se ninguém fizer oposição nunca eles vão continuar intocáveis sempre. Toda revolta tem que começar de algum modo, e espero que esse tenha sido um sinal de que uma lenta mas decidida onda anticatólica está se formando.

O resultado do recurso vai sair em breve, e se a decisão da Corte não mudar essa vai ser a solução final pra história; não há mais possibilidade de recurso ou apelo. Se assim for, vai abrir precedentes. E o dia em que a Carolina entrar na escola, se tiver crucifixo na sala de aula o bicho vai pegar, amiguinhos.

piuí

Eu adoro andar de trem. Acho um meio de transporte fenomenal. Além das vantagens óbvias – não polui, é mais barato – ele tem duas outras que eu considero fundamentais: é MUITO mais seguro do que andar de carro entre os motoristas selvagens aqui da Bota, e, putz, DÁ PRA LER! Dá-pra-ler. Dá pra ler no trem, cês tão entendendo? (Alguém vai dizer “ler ou trabalhar”, mas eu sou daquelas que acredita que o trabalho aborrece o homem, dá trabalho demais e atrapalha a vida, por isso tento pensar no assunto o menos possível. Além do mais acho que o lento passar da paisagem é perfeito pra descansar os olhos do livro, pra repetir mentalmente uma bela frase, pra tentar lembrar o nome de um personagem, pra absorver uma descrição e fazê-la funcionar no céLebro.)

Aqui na Itália, e em particular no interior da Libéria, onde eu moro, os trens são uma merda. São sujos (vocês devem lembrar da história dos carrapatos) e atrasam sempre, sempre, sempre. Não lembro se eu cheguei a comentar aqui, mas uma vez perguntei ao hominho da estação em Perugia por que raios o trem das 19:15 estava sem-pre atrasado, e a explicação dele me deixou de boca aberta. Vou tentar explicar brevemente antes de continuar com a minha reflexão ferroviária.

Os tipos de trem em circulação por aqui são os seguintes: diretto, regionale, inter-regionale, InterCity e Eurostar. Nunca entendi a diferença entre os três primeiros, que são os famosos catejecas. O InterCity é melhorzinho mas na única vez que peguei achei o trem velho demais pra diferença de preço. O Eurostar é o bam-bam-bam dos trens: custa beeem mais caro, tem beeeem menos paradas, em teoria é beeeem mais rápido e, ao contrário dos catajecas, seu bilhete tem dia e data pra usar e lugar marcado.

Pois então. O tal trem das 19:15 de Perugia pra Foligno, que era o que eu pegava pra descer em Assis, fazia conexão com um Eurostar que vinha de Milão. Como passageiro de Eurostar que perde conexão é reembolsado, a empresa prefere atrasar TODAS as conexões se o Eurostar partir com atraso pra não ter que reembolsar os passageiros desse trem. Os passageiros de todos os outros trens que se fodam. Então tá né.

Mas então. Como eu já cansei de dizer aqui, a Itália é lanterninha europeia em praticamente tudo, e no caso dos trens também não faz por menos. Além do transporte de passageiros ser ridiculamente eficiente, o transporte de mercadorias por via ferroviária é um dos menores da Europa: só 10% de tudo o que circula no país viaja de trem. É muito, muito pouco. Isso eu fiquei sabendo ontem, vendo Report (que eles pronunciam “réport”…), o único programa de jornalismo investigativo da televisão italiana, aproveitando que a Carolina chapou às nove da noite depois de um megaprograma de índio (more on that later). Em um certo ponto do programa começou-se a falar do acidente em Viareggio que matou mais de trinta pessoas em abril desse ano. O trem de carga simplesmente saiu voando dos trilhos e foi parar entre as casas ao redor da ferrovia. Não se sabe exatamente o que houve ainda, mas basicamente o lance é o seguinte: uma peça de um dos vagões estava fodidaça, com uma rachadura gigante. Tinha sido construída em 1974, na Alemanha. Aí a parada começou a ficar interessante: o vagão tinha sido matriculado na Alemanha e mais tarde foi vendido a uma empresa americana, apesar de fazer a linha Novara-Nápolis e portanto jamais sair do país. Segundo os acordos entre a Ferrovia dello Stato e as empresas de transporte, o dono de cada vagão é responsável pela manutenção, de modo que a Ferrovia dello Stato diz que a culpa foi dos alemães que não fizeram a revisão com ultrassom, o que teria evidenciado a rachadura; a empresa alemã diz que fez a revisão em novembro de 2008 mas que não encontrou defeitos e que portanto o problema era outro. Disso tudo ficou certa uma coisa: o que circula de trem caindo aos pedaços por aí não tá no gibi, porque não é possível inspecionar todos os trens que entram na Itália vindo de outros países (inclusive porque eles não são capazes de inspecionar nem os trens deles mesmos…) e porque, com essa confusão de não saber de quem é o quê, fica difícil apurar quem é responsável por qual coisa. Tudo muito confuso. E muito perigoso.

Não pego trem há muito tempo, mas estávamos considerando ir de trem a Firenze pegar meu visto americano no final do mês e mudamos de ideia. Vai que o nosso vagão também foi construído em 1974 na Alemanha e não fizeram ultrassom nele…

de ChaLEAN Extreme e coisas da bota

O programa funciona assim, ó: são 90 dias no total, 3 fases de 30 dias cada. Burn Phase, Push Phase e Lean Phase. Cada fase tem 4 semanas com 5 dias de malhação e 2 de descanso. Dos 5 dias de malhação, 3 são de weight training (Burn Circuit 1, 2 e 3, Push Circuit 1, 2 e 3 etc) e 2 de cardio.

Praticamente acabei a primeira semana da Burn Phase porque amanhã é dia de descanso e a semana recomeça no sábado. Vamos às minhas impressões até agora, começando pelos pontos negativos:

. Cara, levantar peso É CHATO PRA CARALHO. Nem a Chalene consegue melhorar muito a coisa; é chato chato chato, prontophaley.

. Não tem musiquinha, lógico, porque não é aeróbica. E a falta de musiquinha faz a série ficar praticamente infinita. O tempo não passa, é um certo saquinho.

. E aí entra um outro problema: a Chalene é legal e tal, mas ela é PÉSSIMA em duas coisas, cueing e timing. Nas primeiras vezes que você faz a malhação e portanto ainda não conhece a coreografia, você perde um monte de coisas porque ela simplesmente sai pulando e não avisa qual o movimento a ser feito, pra qual lado, quantas vezes – ou seja, cueing. Como ela fala o tempo todo (aquelas coisas motivacionais de americano que a gente ignora solenemente), esquece de avisar a pobre gorda que agora ela tem que levantar os bracinhos 8 vezes pra esquerda. Também esquece de contar, e erra coreografia pra cacete, inclusive entrando errado na música – zero timing. Eu já conheço todas as séries de cor, então corrijo eu mesma e faço o mesmo número de repetições dos dois lados, mas se você for seguir exatamente o que ela faz é capaz de ficar sarada de um lado e gorda do outro ;) Tudo bem, totalmente contornável.

. O programa alimentar é impossível de seguir. É do tipo high-protein, low carb, e eu sou uma pessoa totalmente carb. Sinto MUITA falta da minha ração de 80 gramas de macarrão integral jogados na salada, da batata cozida pequena junto com o franguinho sem gordura, da minha fatia de pão integral no café da manhã. Aliás, o meu maior problema com programas rígidos assim é o café da manhã: quer acabar comigo é me privar da minha fatia de pão torrada com uma fatia fina de queijo e meia de peito de peru e meu copo de leite desnatado com uma colherinha de chá de cacau sem açúcar. Porque qualquer combinação pão + queijo pra mim é a melhor coisa do mundo, e leite com chocolate é a melhor bebida do mundo. Apesar das opções de café da manhã do programa serem bem legais (quase sempre omelete de claras com algum tipo de queijo e verduras, ou então ricota light ou cottage, que eu adoro), nada disso fica totalmente legal sem um pãozinho e um leitinho. De modo que estou penando – e ODIANDO. Como eu estava indo muito bem antes de começar o programa, comendo de tudo mas pouco e contando minhas calorias com o bodybugg, é isso que eu vou voltar a fazer. Vou só aumentar um pouco as proteínas, porque pegando peso não tem jeito mesmo; eu queria muito um shake de proteínas mas aqui no interior do Gabão essas coisas são impossíveis de achar.

. As séries de cardio são UM PORRE, cheias de jairzinhos, polichinelos e outras coisas horríveis e pré-históricas que eu absolutamente abomino, além de queimar muito menos do que os Turbo Jams. Mas não podem ser substituídos por TJ porque incluem breves intervalos de muitas repetições com pesos leves pra aumentar muscle endurance, que o TJ não tem. Então o que eu estou fazendo é fazer um TJ nos dias dos três circuitos de peso (como eu já disse, a semana tem 3 circuitos de peso e dois de cardio chatão, um seguido de alongamento e outro de abdominais), pra poder ter uma queima calórica que me permita comer decentemente. Note to self: NÃO FAZER CARDIO DEPOIS DO CIRCUITO DE PESO, SUA ANTA! Porque o corpo não aguenta. Mesmo.

O ponto positivo:

. Funciona. De verdade. Em uma semana você sente os resultados; é uma coisa louca. No dia seguinte a um circuito de peso os quadríceps femorais gritam sem parar, socorro, socorro, é uma coisa linda. A parte posterior das coxas chora de dor, uma delícia. A sensação de satisfação, the endorphine kick que rola depois de malhar é mais duradoura porque o músculo fica dolorido muito, muito tempo depois que a parada acabou, ao contrário da aeróbica. E a sensação de poder é muito, muito boa. Você fica se achando, de verdade, e com razão: durante a malhação as pernas tremem, o suor escorre, os músculos berram, você faz um esforço a mais e aumenta o peso e consegue terminar as repetições. E aí você tem todo o direito de dizer EU SOU PHODA, FOI MAL AÊ.

Já perdi 9 quilos do meu peso máximo depois da gravidez. Semana que vem já vou conseguir entrar na minha bermuda-milestone (enquanto não couber nela significa que estou imensa), uma xadrez em tons outonais que custou 10 euros na Sisley e que uso com meia-calça e botas marrons. Vai ficar uma tchutchuca com o casaco fúcsia que comprei na H&M em Paris com a Lulu ano passado, mesmo mal podendo experimentar porque as minhas costas estavam tão largas que eu mal conseguia vestir. Experimentei outro dia pra ver se já estava fechando, e dei uma risada: está ó-te-mo, fechando facinho, acinturado, confortável – LARGO. Lindo.

. Um grupo do Facebook chamado “Uccidiamo Berlusconi” (“Matemos Berlusconi”) acabou de ultrapassar os 14.000 membros.

. Berlusconi cancelou um almoço com o rei da Jordânia porque estava com torcicolo. E no mesmo dia entrou num avião e foi pra Rússia numa viagem diplomática. Quando você acha que o cara já conseguiu ofender todo mundo, ele vai e prova que fundo do poço tem porão. Cacetes estrelados…

brasil II

. Neguinho anda revoltadíssimo aqui porque “descobriram” que um senador italiano trabalha em média só 10 horas por semana.

. Depois que o Lodo Alfano foi recusado, Berlusca resolveu atacar de outro lado pra garantir a sua im(p)unidade e quer acelerar a reforma do sistema judiciário. Até aí tudo bem, já que a justiça italiana é lenta mesmo e volta e meia ouço na televisão que fulano foi condenado pelo crime cometido há vinte anos atrás (não tô brincando). O pequeno detalhe que faz a diferença é que essa reforma inclui a submissão do judiciário ao executivo. Então tá.

. Tava rolando uma proposta de lei que transformava homofobia em crime. Logicamente não foi aprovada, inclusive tendo votos contra da esquerda. Bafafá total e reprovação pública da UE.

. A UE deu outro pito na Itália por causa da dívida pública do país, que a UE chamou de “insustentável”.

Peraí, mas eu não tinha saído do Brasil e ido morar na Itália?

várias

. Semana passada eu fui aos correios de saia de linho, camisa de manga curta e chinelo de dedo, a Carol de pernas de fora pra pegar sol. Hoje tive que botar uma jaqueta pesada e enrolar a Carolina em mil camadas porque o vento tava gelado. Senhoras e senhores, acabou a mamata e a merda do inverno chegou.

. Esse país tem umas coisas muito bizarras. Uma coisa que acontece com uma frequência absurda é médicos que não são médicos. Outro dia desmascararam um pediatra que nem formado em medicina era, apesar de queridíssimo pelos pacientes e colegas, participante de congressos, pessoa de referência no hospital onde trabalhava e inclusive indicado como favorito pra tornar-se primario, o médico-chefe de um determinado departamento. Isso aconte TODA HORA, pelo menos uma vez por mês. Estima-se que cerca de 10% dos médicos italianos não sejam médicos. Que ótimo, né.

. Não vou entrar em detalhes sobre o vídeo da Maitê porque já tive uma loooonga discussão com a Barbara sobre isso no Twitter (discordamos completamente) e cansei do assunto, mas putaqueospariu, vai overreact assim lá na China! Cacetes estrelados! Na boa, o cara que bota a placa do número de casa daquele jeito é realmente um asno, principalmente se percebeu o erro (ou se alguém lhe disse que estava errado, o que é mais provável) e não corrigiu. A situação do técnico de informática realmente é tão surreal que não imagino nenhum outro país do mundo onde isso pudesse ter acontecido. Não achei NADA de ofensivo no que ela disse; a única coisa que eu não teria incluído no vídeo foi a cuspida na fonte, totalmente nada a ver, nojenta a desnecessária.

. Repitam comigo o mantra: não vou mais pegar trabalhos com mais de dez laudasssssssssmmmmmmmmmmmm não vou pegar mais trabalhos com mais de dez laudasssssssmmmmmmmmm…

. Minha bunda está doendo da malhação de ontem. Uhuuu!

potocas

. Pra minha mãe, que continua achando que eu exagero quando digo que a educação na Itália é uma merda: saiu a lista das melhores universidades do mundo, e a primeira instituição italiana da lista aparece só em 174o lugar. A segunda, em 204o lugar.

. Carol assassinou o controle remoto da televisão da sala, de tanto babar nele. Nossos celulares também sofreram um pouco mas voltaram à vida sozinhos.

. Sexta-feira passada foi um dia de desvirginamento. Primeiro foi o lance da escolha do Rio pras Olimpíadas. A cena: eu sentada no chão do banheiro enquanto a Carol brincavana sua banheirinha, dentro do box, com o vidro de shampoo (é lógico que ela prefere o vidro de shampoo a todos os 1.874,5 brinquedinhos de banho que tem). O laptop num canto embaixo da pia, acompanhando a eleição no site do COI e no Twitter. And the Oscar goes to… Rio de Janeiro! Dei um grito, Carol chorou, tive que pegá-la no colo, molhei o banheiro inteiro, ela começou a rir e eu também, fiquei me abanando que nem Miss Universo ganhando o cetro e a coroa, chorando e rindo feito uma idiota. O outro desvirginamento foi o seguinte: deixamos a Carolina na casa da Arianna pela primeira vez enquanto fomos fazer outra primeira vez, uma ópera, no teatro Lyrick (é assim mesmo, com k no final, tá; não pode ser um bom sinal, e realmente não é) na esquina da rua da Arianna. Fomos cedo pra lá, jantamos, e quando começou a ficar meio em cima da hora saímos como se fosse a coisa mais natural do mundo. Depois soubemos que ela brincou, falou e dormiu; o Ettore me ligou praticamente na última estrofe da ópera avisando que ela tinha acordado e tava chorando. Saímos correndo pela rua feito uns doidos, mas era fome, coitada; bastou a mamadeira hipercalórica da noite (3 biscoitos de criança, sem gordura nem glúten nem ovo nem açúcar, que se dissolvem rapidamente na mamadeira; 2 colheronas de creme de arroz, milho e tapioca, muito comum por aqui; 2 colherinhas de um pozinho com açúcares e vitaminas especiais pra crianças com baixo peso) pra ela sossegar. Dormiu no carro e não reacordou, felizmente.

. A ópera: era Rigoletto, com certeza uma das menos badaladas. O único trecho conhecido é “La donna è mobile”“. Eu não conhecia NADA da história e nem tive tempo de catar na Internet, então fui no escuro mesmo. A experiência foi interessante porque, poxa, eu nunca tinha ido à ópera e gosto muito de música clássica. Mas tudo tem um porém, não é mesmo. Nesse caso os poréns eram vários. A acústica do Lyrick é HORRÍVEL, como já tínhamos constatado há alguns anos no espetáculo do Stomp. Isso porque ele não foi concebido como teatro; era uma fábrica de sei lá o quê (acho que produtos químicos, não lembro) que fechou ou faliu (também não lembro; veja que contadora de histórias que eu sou) e mais tarde foi reaproveitada. Uma das partes virou clube de bocha com um bar nos fundos que vive cheio de desocupados jogando carta nos fins de semana. A outra parte virou esse teatro absolutamente hediondo, por fora e por dentro. O espaço entre as desconfortáveis poltronas é microscópico. Nas laterais do palco há painéis reproduzindo os afrescos de Giotto na basílica de San Francesco, com direito às partes danificadas pelo terremoto de 97 e tudo. Enfim, um horror.

E aí começa o espetáculo. Era uma montagem modernosa – ODEIO. Adoro novidades e mudanças, mas acho que há algumas coisas – muito poucas, na verdade – que devem ficar como sempre foram. Balés clássicos e óperas são algumas delas. Tristeza ver o Rigoletto de salopete jeans e uma mochila de plush rosa-choque como corcunda. Simplesmente não dá.

O coro. O coro não era desafinado, mas não cantava em conjunto. Volta e meia a voz de um dos cantores sobressaía, o que, até onde eu sei, não deve acontecer.

Os cantores. Não entendo nada de ópera, mas não gostei de nenhum. Pouquíssima potência vocal (se bem que pode ter sido tudo culpa da acústica), vozes que sumiam afogadas pela orquestra com uma frequência um pouco excessiva. A cantora que faz a filha do Rigoletto não alcançou várias notas, embora tenha tentado com empenho.

O cenário. O cenário praticamente não existia, e talvez tivesse sido melhor não colocar cenário nenhum. Porque em um certo ponto da história desce do teto uma GRADE ao longo do palco inteiro. O Rigoletto se esgoelando na frente da grade e a filha dele atrás. Quem acha que colocar qualquer coisa entre o público e o que o público deve ver é uma idéia de jerico levanta a mão. Quase fiquei vesga tentando ver a desgraçada da mulher piando por trás da grade. Pra quem estava sentado bem na frente talvez não tenha incomodado tanto, mas quanto mais longe você fica, mais os contornos da grade ficam fuzzy e viram uma coisa só, uma mancha cinzenta que cobre a maldita da cantora, deixando-a meio fora de foco. A sensação era a de estar dirigindo num temporal, sabe, quando você tem que se esforçar pra distinguir o que está vendo porque tudo está no meio daquele cinzume todo. Desagradável.

O figurino. Já falei da salopete do Rigoletto, mas não disse que a Maddalena era gorda e estava usando um corpete preto com as costas cheias de amarrações, com direito a banha espremida entre elas, calças pretas justas que a deixavam com um culote gigantesco e botas de cano alto que em uma certa cena ela tinha que tirar, revelando batatas da perna imensas. Também não disse que a sua peruca ruiva era tão, mas tão artificial que de onde eu tava dava pra ver os reflexos da luz no nylon. Vergonha alheia total.

Mirco e Gianni fugiram correndo no primeiro intervalo e foram tomar cerveja no bar do clube de bocha. Eu, Chiara e Yari resistimos bravamente. A música de Verdi é muito boa e fechando os olhos dava pra se divertir. Quando começaram as primeiras notas de La Donna è Mobile sentia-se no ar a vontade coletiva de cantar junto, bater palminhas ou pelo menos fazer nãnãnãnãaaanãnã, coisa que felizmente ninguém fez (embora todo mundo tenha aplaudido na hora errada O TEMPO TODO). Dá arrepios mesmo e só aquele trechinho já compensou todo o resto. Imagino como deve ser legal ver uma ópera que você conhece melhor, tipo Carmen ou alguma do Mozart. Fiquei tão empolgada que comprei um Nozze di Figaro pela Amazon; deve chegar essa semana.

Enfim, fui embora quando o Rigoletto já estava chorando a morte da filha, de modo que não perdi muito. Quando finalmente deitei na cama estava me sentindo refreshed. Gostei.

. Meus novos melhores amigos, bodybugg e Chalene, estão derretendo minhas banhas a olhos vistos. Perdi 9 quilos (considerando o peso máximo a que cheguei, embora só tenha começado a malhar e contar calorias seriamente depois de já ter perdido uns três) até agora e minhas coxas estão ficando duras feito pedra. Essa semana tenho um trabalho chato pra entregar, mas semana que vem vou voltar a cumprir minha promessa de não pegar mais traduções gigantes pra poder organizar a minha vida direito, e vou começar o ChaLEAN Extreme, inclusive fazendo as receitas do programa. Vamos ver o que vai acontecer em 90 dias. Porque não sabemos ainda onde vai ser a festa de aniversário da Carolina, mas eu vou usar o que eu quiser, e não o que couber. Estou prometendo; podem cobrar.

. Divirtam-se com a imprensa internacional sobre o caso Berlusconi.

Le Figaro
Le Monde
Spiegel Online (cortesia da @FrauGlaeser)
Guardian
CNN International (adorei a descrição do Berlusca como “flamboyant”)
El País

bota

Estou sem tempo até pra fazer xixi, mas não podia deixar de comentar aqui hoje.

Ontem o Lodo Alfano, o projeto de lei que dava imunidade TOTAL aos 4 cargos mais altos do governo, foi recusado. FOI RECUSADO!

Uma série de considerações deve ser feita:

. Os fãs de Berlusconi dizem que não importa porque ele não é culpado de nenhum dos oitocentos mil processos no qual está sendo acusado de coisas diferentes. O que esquecem de mencionar é que foi inocentado de alguns por juízes tipo de Bari ou de Palermo (pra quem não sacou: terras de máfia) nomeados tipo poucas horas antes da sentença. De outros saiu incólume porque o crime prescreveu – mas prescreveu porque ele mesmo fez leis que reduzem o tempo de prescrição. De outros escapou porque o crime não é mais considerado crime – de novo, por decisão dele mesmo. Então tá.

. Antes da sentença sair ele andava por aí dizendo que se a lei não fosse aprovada, se demitiria. Estamos esperando sentadinhos (porque em pé dá varizes).

. O Presidente da República, que na verdade não tem muito poder mas em alguns casos uma determinada lei pode depender da assinatura dele pra ser aprovada, virou praticamente de esquerda porque nos últimos tempos vem repetidamente vetando maluquices do governo ou comemorando decisões esquerdistas como essa de ontem.

. Essa semana Berlusconi foi condenado a pagar não sei quantos milhões de multa numa história entre editores que não entendi muito bem porque não estou acompanhando. Os seus jornais imediatamente manchetaram coisas tipo “injustiça! Ataque pessoal!” etc.

. O respeito às autoridades judiciárias é uma pedra fundamental de qualquer democracia. Quem acha que Berlusca vai inventar alguma coisa pra virar a mesa e anular as decisões contra ele diga EU! (TM @realwbonner). Na boa, daqui a pouco a situação aqui vai estar tão insustentável que a ONU vai ter que mandar tropas. Juro.

merda sul ventilatore

Rapaz, a coisa tá feia aqui na bota.

O escândalo do Berlusconi com as garotas de programa de luxo tá dando pano pra manga, lógico. Ontem uma das tais garotas deu entrevista num programa radicalmente de esquerda, o Anno Zero, que conseguiu milagrosamente voltar ao ar depois das férias mesmo depois de uma certa campanha contra da parte da direita. Confirmou que, sim, passou a noite na casa do presidente do conselho de ministros, que foi sempre muito gentil com ela, se interessou pelos seus problemas (parece que ela estava fazendo o tal programa pra conseguir abrir uma atividade comercial cuja falência tinha causado o suicídio do pai, não sei direito porque não vi e o Mirco tava meio dormindo quando viu e não lembra direito) etc. Entre outras coisas.

Aí rolam várias coisas paralelas, que dão mais pano pra manga ainda. Berlusconi visita o Papa numa semana e na semana seguinte o mesmo Papa faz sermão contra o divórcio (não precisamos nem dizer que o Berlusca está se divorciando da sua mulher plastificada e peruésima). Váaaarios debates sobre a posição da igreja nessa história toda, que não deu um pio consistente sobre o comportamento nada ortodoxo do presidente. Rolam também tentativas de mudar de assunto, tipo o discurso do Berlusconi na festa de aniversário do seu partido, falando que a esquerda torce pra crise piorar pra poder botar a culpa na direita e que comemorou a morte dos soldados no Afeganistão porque é contra a presença de militares italianos lá (no comment). Rola o presidente do conselho querendo processar jornais italianos e estrangeiros que dão notícias sobre o caso das prostitutas e outras coisas bizarras sobre ele; em particular, o jornal italiano que ele quer processar está pra ser processado por ter publicado, todos os dias há não sei quantos meses, uma série de dez perguntas que gostariam que Berlusca respondesse. Tipo assim, o cara quer processar um jornal POR FAZER PERGUNTAS. A coisa é tão absurda que até a União Europeia já meteu o bedelho; pena que perdi o link do Figaro sobre o assunto. Váaarios debates sobre a liberdade de expressão no país, já que os maiores jornais, as maiores revistas, as três maiores redes de televisão privadas, as maiores editoras todas pertencem ao Presidente do Conselho. Agora tá rolando ainda um lance sobre o chamado “escudo fiscal”, que não entendi direito porque não estou acompanhando bem, uma lei que permitiria o retorno de grana pertencente a italianos e atualmente investida em paraísos fiscais mediante o pagamento de uma multa ridícula. O mecanismo é complexo mas logicamente, vindo de quem veio, as intenções não podem ser lá essas coisas; ontem o partido do Di Pietro, meu ídAlo, fez um protesto em Roma com todo mundo vestido de mafioso, pois segundo eles esse tipo de manobra só vai favorecer quem lavou dinheiro e mandou pra fora, bem coisa de mafioso mesmo. Vou pesquisar mais sobre o assunto e quando entender alguma coisa venho aqui dar os detalhes. Rola o Presidente do Conselho que diz, ao lado de um Zapatero meio surpreso, que é o melhor presidente do conselho da história do país. Rola o Presidente do Conselho dizendo “ou ela ou eu” sobre uma repórter que lhe faz perguntas cabeludas. Rola que tudo isso, tudo isso mesmo, começou com uma carta, publicada em um jornal, escrita pela mulher do Berlusca que afirmava que estava se divorciando porque o marido “frequenta menores de idade” – daí partiu o primeiro escândalo, aquele sobre o Berlusca na festa de aniversário de 18 anos da tal Noemi Letizia e as entrevistas com ela, que dizia que o chamava “papi” e que eram “muito íntimos”; uma coisa horrorosa, enfim.

Em suma, o país ferve. Nem Janete Clair seria capaz de inventar uma história tão rocambolesca assim.

Estou me divertindo horrores.

A Daíza postou dois links ótimos, um pra esse vídeo hilário (inglês com legendas em italiano) e outro pra esse jornal “alternativo”, onde recomendo os artigos de Marco Travaglio.

Enquanto isso, Carolina anda cada vez mais ridiculamente cabeluda, engatinhando à velocidade da luz, cruising de móvel pra móvel e atualmente se especializando em ficar em pé segurando-se com uma mão só, alternando dias de greve de fome com dias de comilança desmedida, falando “tetetetete” e “mamamamama” e “dadadadada” e “bababababa”, rindo quando me vê malhando e se sacudindo quando ouve música.