do primeiro mês, refluxo e outras coisas baby-related

Recém-nascidos são facas de dois gumes.

Se por um lado são foférrimos, tchutchucos e sempre surpreendentes, por outro lado demoram muito a ficarem realmente interessantes, porque só começam a interagir de verdade bem mais tarde. Nos primeiros meses um bebê é só um robô com as seguintes funções: CAGAR – MIJAR – CHORAR – MAMAR – DORMIR. Mais nada. Muito chato.

Minto: a Carol já sorri, já ri, já segura a mamadeira, já levanta a cabeça sozinha, já segue a gente com o olhar, ou seja, já é um pouco melhor do que um robozinho cagador. Faz um monte de caretas, se espreguiça com um entusiasmo contagiante, agita os braços feito a Elis Regina, como diz a minha mãe, e faz a gente dar um monte de risadas. Mas na maior parte do tempo ela está cagando, mijando, chorando, mamando ou dormindo. Logicamente sem o menor respeito pelo ciclo circadiano de ninguém, o que torna as madrugadas particularmente desumanas. Até que nem posso reclamar muito porque quando ela não sente dor de nada fica quietinha olhando pra gente, e de madrugada tende – eu disse tende, mas não é garantia de nada – a capotar logo depois de mamar, mas quando dá pra chorar, sai de baixo.

O problema é que a Carol tem refluxo gastroesofageano, um negócio muito chato. Eu pelo menos podia soltar uns palavrões quando a azia atacava com força, mas ela não tem essa vantagem. Então ela chora. Berra. Bem no nosso ouvido. Mas o pior de tudo é que ela é L-E-N-T-A. Considerando a minha velocidade supersônica e a do Mirco idem, só posso concluir que ela puxou o lado Dáquer, porque todo mundo da família do meu pai acha normal almoçar depois das 3 da tarde e chegar atrasado em todos os compromissos. A Carol leva meia hora só pra acordar, o que me dá nervoso só de ver, já que normalmente abro os olhos e pulo da cama praticamente ao mesmo tempo. Fica fazendo barulhinhos bizarros (“É, É, É”) e roucos (por causa do refluxo) e se espreguiçando loucamente durante alguns minutos, só o suficiente pra me acordar, e depois dorme de novo. Pouco depois recomeça, pára de novo, recomeça, fica meia hora nesse processo de acordação. Até que desperta de verdade, azul de fome e portanto berrando. Agora ela não me engana mais: quando escuto o primeiro É É É levanto da cama, empurro o berço (com rodinhas) até a sala, boto a panela com água no fogo, tiro a mamadeira da geladeira, desligo o fogo, boto a mamadeira em banho-maria, troco a fralda dela (da Carol, não da mamadeira) porque se trocar depois da mamada ela regurgita tudo e chora e porque ela não fica suja nem cinco minutos sem dar ataque, sento no sofá da sala, que virou um acampamento, dou a mamadeira um pouquinho com ela ainda meio que dormindo, tento botar pra arrotar (ela é uma menina muito fina e não arrota nunca. Saco.), dou mais um pouquinho, outro arroto (idem), ela dorme no meio da coisa, tento estimulá-la fazendo cosquinha nos pés, ela mama mais um pouco, depois tenho que ficar com ela meia hora mais ou menos em pé no meu colo pro leite não voltar, se tudo correr bem ela já caiu no sono e vai pra cama. Aí eu vou tirar a bombinha do esterilizador, ordenhar feito uma vaca leiteira, botar as mamadeiras cheias na geladeira atrás das outras que já estão lá, lavar a mamadeira que ela acabou de usar, lavar a bombinha, botar tudo no esterilizador, botar o esterilizador no microondas por 7 minutos, levar o berço de volta pro quarto e dormir por tipo meia hora. Até a próxima mamada. E quando não estou fazendo nada disso estou cozinhando, botando roupa na máquina – porque bebê suja roupa BAGARAY – ou pendurando roupa no varal.

Ela não mama no peito porque não dá pra mamar em pé, e ficando na horizontal é batata: o leite bate e volta, cheio de ácido pra queimar o esôfago da coitada. De vez em quando eu insisto porque por mais que a bombinha seja legal, não estimula o peito do mesmo jeito que a boca do bebê estimula, e a tendência é o meu leite secar. Mas ela odeia, vira a cara e se suja toda de leite, me dá tapas, berra, se esgoela. Nada daquelas cenas românticas, bebê olhando amorosamente pra mãe, mãozinha no peito, se sentindo seguro e tranqüilo. Ela fica assim com a mamadeira, mas aí até o Leguinho poderia estar dando de mamar que ela ficaria com a mesma expressão de adoração nos olhos, nem tem graça. Mas ela adora dormir deitada de bruços no meu peito (e eu praticamente sentada, destruindo a coluna), e ri dormindo. Então compensa.

Não preciso nem dizer que tudo isso é MUITO cansativo. Ela toma três remédios diferentes – dois pra cólica e um pro refluxo – e mesmo assim toda hora dá uma chorada power. Normalmente fico com ela à noite e lá pras cinco da manhã minha mãe levanta e vem me render, e eu consigo dormir umas horinhas depois do café. Mesmo assim é muito cansativo pra nós duas, porque ouvir criança chorando, ter que ficar com criança no colo – o que significa que você não pode fazer mais nada, com as mãos ocupadas e a atenção concentrada no bebê – é um trabalhão danado, e emocionalmente desgastante. Nos dias em que ela tá mais chatinha e chorona não dá tempo nem de fazer xixi. Só estou aqui escrevendo porque a Arianna veio visitar e fica horas com ela no colo, e porque essa noite ela dormiu bem e estou razoavelmente descansada, e porque amanhã a faxineira vem dar uma geral aqui no chiqueiro. Só estou aceitando trabalhos com prazos muuuuuuuuuuuuito longos de entrega porque dificilmente consigo ficar uma hora inteira na frente do computador. E o maaaais legal é que não há muito o que fazer com esse diabo de refluxo: tem que ter paciência, porque ela tá ganhando peso mesmo dormindo pouco e mamando menos do que deveria, ou seja, o refluxo não está atrapalhando nada além da nossa sanidade mental. Segundo a pediatra, nesses casos o bebê passa pra sólidos assim que possível (em torno dos 3-4 meses), o que deve simplificar a nossa vida. Ou não.

adendo

Perdoem-me, mas ficou faltando um pedaço nos posts anteriores.

A minha comparação da gravidez com o vestibular e a minha descrição do parto tinham como objetivo ilustrar o seguinte fato inconfutável: que por mais que o resultado final de uma coisa horrível seja maravilhoso, a coisa que você mais deseja no mundo e/ou a pessoinha que você mais ama no mundo, nada disso torna a coisa horrível menos horrível. O fato de ter tido uma filha linda, esperta e só razoavelmente chatinha (mais detalhes em outro post), queridíssima e planejadíssima, não anula a… “hediondidade” da gravidez e do parto. Assim como passar no curso que você escolheu e pra faculdade que você queria não torna o ano do vestibular mais agradável. Gravidez é UM PORRE, parto É UM HORROR HORROR HORROR HORROR HORROR HORROR, e não acredite em quem diz que tudo são flores. Está mentindo. TÁ MENTINDO SIM. Porque a parcela de mulheres que têm uma gravidez superlight (ou seja, totalmente assintomática) e um parto idem é tão ínfima que a probabilidade dessa mulher que diz que “adorou ficar grávida” e que “o parto não doeu nada” ser uma delas é praticamente nula. Portanto ela está mentindo. Não acredite. Se eu faria tudo de novo pela minha Tartaruguinha? Claro. Mas reclamaria o tempo todo de novo, porque vou te contar, não é mole não.

do parto

Acordei mais ou menos à uma da madrugada do dia 26 pra 27 de janeiro pra fazer o enésimo xixi da noite. Só que o xixi veio acompanhado de uma dor muito chata que eu imagino que fosse uma cólica menstrual mais forte (não sei porque não tenho TPM). Na verdade eu tinha passado o dia inteiro sentindo essas dores, mas como fiquei batendo papo com a minha mãe, me distraí e nem prestei atenção. Dessa vez não dava pra ignorar: era forte MESMO. Como veio e passou, sentei no computador pra terminar umas três laudas de um trabalho que eu tinha que entregar no dia seguinte. Terminei às duas da manhã e ainda tentei dormir de novo, mas de vez em quando a dor voltava e não dava mais. Acordei Mirco e mamãe e tocamos pro hospital de Foligno.

Chegamos lá às quatro da manhã. Subimos até o segundo andar e demos de cara com a enfermaria de obstetrícia completamente vazia e às escuras. Ninguém na recepção, nada. Àquela altura eu já tava me contorcendo de dor e começando a mandar praquele lugar toda vez que sugeriam que era melhor eu sentar (também não sei onde queriam que eu sentasse, já que não tinha bancos nem cadeiras em lugar nenhum). Mirco desceu até a entrada do hospital pra catar alguém e voltou acompanhado de uma enfermeira que apontou pra uma salinha. Tocaram a campainha e saíram duas enfermeiras com cara amassada de sono. Uma delas pegou um interfone e falou “grávida em trabalho”. Logo apareceu a obstetra, uma senhora baixinha de óculos com uma cara sorridente que me botou logo pra fazer o traçado tocográfico. Eu avisei a ela que provavelmente já estava bem dilatada, já que de acordo com os últimos exames físicos e ultras a Carol tava prontinha pra nascer há o maior tempão, com a cabeça encaixadona. Mas ela tava com outra grávida na sala de parto e me deixou lá com o monitor. As contrações foram ficando mais freqüentes e eu já tava subindo pelas paredes de dor. Quando ela voltou, meia hora mais tarde, olhou pro monitor e travou-se o seguinte diálogo:

– Xiii, que contrações xexelentas… Pode ser que eu tenha que mandar você de volta pra casa…

– Nãoooooo! Dá pra fazer um exame físico? Eu tenho certeza que estou dilatadaAAAAAARGH!

– Vamos ver…

(Fez o toque)

– Caraca. O colo do útero tá mole feito manteiga, dilatadérrimo!

– …

– ‘Bora, ‘bora! Cadê a camisola?

Botei a minha camisola, apareceu alguém com uma cadeira de rodas, me sentaram na cadeira e me levaram embora pra sala de parto.

– Senhora, onde estão os seus exames?

– Putz, esqueci!

– Como assim, esqueceu? Não estavam na mala?

– Não, porque eu tinha outro traçado marcado pra daqui a quatro horas, os exames estavam perto da porta!

– Vou pedir pro seu marido ir buscar.

Chega a anestesista.

– Ouvi dizer que a senhora está sem os exames.

– Meu marido foi buscar. Mas os resultados da coagulação estavam todos OK. AAAAAARGH!

– Tem certeza? Olha lá, hein!

– Tenho sim, TAP, PTT, fibrinogênio, tudo normal. AAAAAAAAAAAAAAI!

– Vou confiar em você porque tô vendo que você é uma pessoa instruída e entende os riscos em caso contrário.

– Obrigada obrigada obrigadaaaaaaaaaaaaaaaaai!

Sento na borda da cama, curvada pra frente.

– Hm, a sua coluna é tão ruinzinha…

– (em pânico) COMO ASSIM RUINZINHA? AAAAAAAAAAAAAAI!

– Um pouco de escoliose, e os processos vertebrais são pouco visíveis, não tô conseguindo encontrar um ponto de referência… [vejam como ela foi diplomática e escolheu não comentar o fato de que eu engordei feito um javali e isso também não ajudou]

– Confio na senhora, doutoraAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARGH!

– Vou tentar aqui… (passa um tempinho) Nada. Vou tentar de novo. (mais um tempinho) Hm, nada… Vou tentar só mais uma vez, senhora, se não der agora não vou ficar furando você não, vamos desistir.

– Pode me furar à vontade, pelamordedeus pelamordedeus pelamordedeus faz parar essa dor malditaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

– Caramba, não sei como mas eu consegui!

A obstetra sorridente cochicha no meu ouvido:

– Não falei que essa anestesista era batuta?

(Ela passou o tempo todo me dizendo pra ignorar o idiota do ginecologista, que ficou puto porque eu não tava com os exames e era antipaticíssimo, e repetindo que a anestesista era foda e que ia conseguir com certeza.)

Dou um enorme suspiro de alívio quando sinto a anestesia fazer efeito. A dor é substituída por, perdoem-me o TMI, vontade de fazer cocô. Só que eu também estava com vontade de fazer xixi. Quando falei pra obstetra que estava apertada, ela achou que era vontade de fazer cocô, ou seja, o estímulo pra fazer força pro bebê sair. Eu, anestesiadona e totalmente fora do ar de tanto que eu já tava de saco cheio daquilo tudo, nem lembrei de especificar que eu queria era um xixizinho básico. Quando finalmente a obstetra deu o OK pra eu empurrar, chegaram duas enfermeiras suuuupersimpáticas, uma jovem lourinha e uma feia com cara de brasileira, e a pediatra, uma senhora de cabelos grisalhos cortados Chanel. Todas fazendo a maior torcida e me dando os parabéns por estar encarando tudo sozinha (a minha mãe estava na sala ao lado e o Mirco foi sumariamente enxotado por mim), a obstetra repetindo “vai, vai, força que os cabelos estão chegando!”, eu empurrando, sem gritar mas fazendo nnnnnnng! até a garganta doer… e nada. As contrações não eram fortes o suficiente. No final das contas me deram uma oxitocina básica e logo depois a Carol saiu, se esgoelando. Apgar 10 e 10. Nasceu às seis e meia do dia 27. Um parto relativamente rápido e sem complicações, com dois pontos de episiorrafia, mas quer saber… VAI DOER ASSIM NA CASA DO CARALHO. Ninguém merece, juro. Não consigo nem imaginar esse povo que encara trabalho de parto de não sei quantas horas sem anestesia.

Agora… Ô país mais atrasado, vou te contar – Foligno é o ÚNICO hospital de TODA A ÚMBRIA a oferecer epidural grátis e disponível 24 horas por dia. E quando eu dizia que ia ter neném em Foligno porque tinha epidural, todo mundo me olhava de modo estranho e perguntava, “ué, mas por que você quer epidural?”. Juro. Zaireeeeeeeeeeeeeee!

(A minha resposta pronta era “porque não estamos mais na Idade Média, dahling”).

da gravidez

Pense no ano em que você fez vestibular. Pense nas noites mal dormidas, nas horas e horas estudando coisas chatas, coisas idiotas, coisas difíceis. Pense nos quilos que você ganhou, nas espinhas que apareceram na sua cara, no estresse, na preocupação, no nervoso, na ansiedade. Pense em todos os longos meses em que você passou por tudo isso. Agora pense no dia em que você descobriu que passou no vestibular, pro curso que você queria, pra faculdade que você queria (se você tiver feito um curso difícil de entrar vai entender melhor aonde eu quero chegar). Lembre do dia em que você abriu o jornal e foi procurar o seu nome na lista, o coração batendo forte, aquele medinho, e aí você acha o seu nome e dá aquele alívio desgraçado, alívio antes da felicidade propriamente dita. Alívio porque você sabe que não vai mais acordar pensando nos assuntos chatos que vai precisar estudar naquele dia. Alívio porque você não vai mais precisar se preocupar com a prova em si. Alívio porque você vai poder ter uma vida social decente novamente. E porque você vai poder mandar tomar no cu todas aquelas coisas terrivelmente irritantes com as quais infelizmente somos forçados a conviver durante esse ano maldito das nossas vidas. Vá se foder, atrito! Vá se foder, saponificação! Vá se foder, logaritmo! Vá se foder MUITO, logaritmo! Vá se foder, hipotenusa!

A gravidez é assim também. É quase um ano da sua vida – porque são 10 meses, né, fofos, 40 semanas em média, não sei quem foi o filho da puta que inventou essa balela de 9 meses – passado no desconforto. Quase um ano da sua vida com um, vários ou todos esses sintomas (pra não ter nenhum deles tem que ser MUITO MUITO MUITO sortuda), separados ou ao mesmo tempo:

– Sono eterno e invencível
– Cansaço idem
– Enjôo insuportável (o meu só passou na semana em que fui a Istambul)
– Vômitos (tive muito pouco)
– Intolerância a cheiros normalmente inofensivos (eu não tive, mas um amigo nosso tinha que fazer café num fogareiro no quintal porque a mulher não agüentava o cheiro)
– Mãos dormentes (porque as estruturas fibrosas da mão incham e comprimem os nervos, dando uma síndrome do túnel do carpo)
– Fome intergaláctica, do tipo “SE EU NÃO COMER ALGUMA COISA NESSE EXATO MINUTO EU JURO QUE MATO ALGUÉM”
– Inchaço (eu não tive, nem nos últimos dias)
– Estrias (as minhas vieram só na última semana)
– Visão desfocada (porque os tendões dos músculos dos olhos ficam frouxos e você fica com dificuldade em focalizar)
– Mudanças de humor repentinas (eu não tive)
– Os malditos xixis infinitos que não deixam você dormir
– Dor nas costas (eu não tive)
– Peitos doloridos (no início)
– AZIA MALDITAAAAAAAAAAAAA
– Nariz eternamente entupido, porque as mucosas todas estão cheias de líquido
– Unhas e pelos que crescem em velocidade alucinante (eu não tive)
– Falta de ar (no segundo trimestre)
– Excesso de salivação (eu não tive)
– Varizes (não tive)
– General cumbersomeness, porque você fica enorme e dando barrigada por aí,

de modo que quando eu entrei no carro rumo ao hospital pensei as seguintes coisas, nessa ordem:

1. NÃO VOU TER MAIS AZIA! UHUUUU!
2. Não vou mais precisar dormir de lado! Êeeee!
3. Daqui a 45 dias vou poder voltar a malhar! Yay!

Porque quando chega na reta final eu juro que você nem pensa mais no bebê, você só quer se livrar do desconforto absoluto e inenarrável que te acompanhou durante esses longos, longos meses. Eu achei que fosse só eu a desnaturada, mas qualquer forum de grávidas na internet vai ter threads chamadas “NÃO AGÜENTO MAIS!”, “O quê que eu posso fazer pro parto chegar logo?”, “Tô de saco cheioooooo” etc.

au, au, au, o obama é animal

Eu não tinha prestado muita atenção ao discurso do ômi porque tava trabalhando e vendo TV ao mesmo tempo, e além do mais o intérprete da TV italiana não era lá grandes coisas. Acabei perdendo esse trechinho aqui, ó, do discurso morno do Obamão:

“We are a nation of Christians and Muslims, Jews and Hindus and non-believers”.

Procurem em 12.30, aqui.

Agradeço à Barbara por ter me dado o toque :)

primeiras impressões sobre a posse do obama

– gostei da roupa d Michelle, mas alguém tem que ensinar essas americanas a caminhar com graça, pelamordefrodo;

– esse negócio de jurar com a mão na bíblia e do discurso religioso é broxante PACAS, me dá uma tristeza danada e devora parte extraordinariedade (se não existe, estou inventando a palavra agora) do evento;

– quem entendeu o que era aquele murundu na cabeça da Aretha Franklin por favor me explique;

– “so help me god” my ass;

– achei o discurso bem fraquinho.

update do update

Aí um deputado católico entope Roma de cartazes dizendo “deus existe e até os ateus sabem disso”. Segundo o que eu andei lendo, alguns cartazes foram inclusive pendurados em locais onde é proibido fazê-lo. Não precisa nem dizer que ninguém se mexeu pra contestar a coisa, apesar da mensagem deles ser muito ofensiva – quem são eles pra dizer o que eu penso ou deixo de pensar? Câncer de pâncreas e hemorróidas pra todos.

Se você mora aqui na Bota, faça um favor a você mesmo e vá ao No-Vat (leia-se Não ao Vaticano) dia 14 de fevereiro. Não posso ir por motivos, hm, logistico-biológicos, mas se você pode ir, vá. Vá.

update sobre a publicidade nos ônibus de gênova

Alguém tinha alguma dúvida de que a mensagem “a má notícia é que deus não existe, a boa é que você não precisa dele” não teria autorização pra ser estampada nos ônibus de Gênova? (vide post anterior)

A UAAR não escolheu Gênova por acaso: é a cidade do Monsenhor Bagnasco, um grandíssimo filho da puta com as idéias mais retrógradas que eu já vi na vida e que volta e meia solta uma asneira conservadora idiota. O cara é tão chato que já foi vítima de ameaças, não se sabe de quem, mas que infelizmente jamais se concretizaram (perdoem-me a vontade de ver uma carnificina rolando, mas é que o conservadorismo fossilizante desse país ME DÁ NOS NERVOS).

Pois bem: a empresa que produz aqueles adesivos que cobrem os ônibus de publicidade decidiu não aceitar o pedido da UAAR e não prosseguir com a propaganda. A desculpa oficial é a de que esse tipo de mensagem é ofensivo pra quem é religioso, o que vai contra a lei. Leia-se “nós também, como todo mundo, nos cagamos de medo da igreja, comemos na mão deles, se fizéssemos a propaganda iam dar um jeito pra que a gente perdesse todos os clientes e iríamos à falência, pra não falar da desmoralização que sofriríamos (provavelmente nossos amigos deixariam de falar conosco e tal), então achamos melhor dar essa desculpa da lei número tal e tal, foi mal aí”.

O problema é que A PORRA DA IGREJA CATÓLICA DE MERDA NOS BOMBARDEIA NOITE E DIA COM PROPAGANDA EM TUDO O QUE É LUGAR, pedindo dinheiro (há uma taxa obrigatória, o otto per mille, ou 8/1000, que vai necessariamente pra igreja ou pro governo, você escolhe. Quando chega a época de fazer essa escolha somos massacrados por propagandas idiotas da igreja na TV, que eu duvido que sejam pagas, por sinal) e enchendo o saco. O problema é que aquela mala do papa TODA HORA aparece na TV e na mídia em geral, como se o que ele diz tivesse alguma importância concreta pra todo mundo que não é católico. O problema é que, sendo outro grandíssimo filho da puta, ele diz, sim, coisas ofensivas que vão inevitavelmente parar na mídia – como aquele dia infeliz em que, botando sua carinha de Palpatine na sua janela costumeira, soltou, o tato em pessoa, aquela pérola sobre o catolicismo ser a única religião verdadeira. Vá tomar no cu. O problema é que a igreja faz campanhas deslavadas contra a fecundação artificial, forçando casais estéreis a viajar pra outros países europeus pra poder ter filhos. O problema é que a igreja faz campanhas deslavadas contra a pesquisa com células-tronco, contribuindo pra atrasar o que pode ser um gigantesco avanço da medicina. O problema é que a igreja faz campanha deslavada contra a eutanásia, até hoje ilegal na Itália, forçando pobres coitados a vegetar por décadas mesmo contra a sua própria vontade expressa por escrito e mandando pra cadeia pais que, não agüentando mais ver o filho naquele estado, acabam cedendo ao bom senso e desligando os aparelhos. O problema é que a igreja declara abertamente que não dá o mesmo valor a casais casados só no civil e àqueles casados no religioso. O problema é que a igreja praticamente força todo mundo a se casar mesmo não querendo, visto que um casal que viva junto há cinqüenta anos e tenha doze filhos sem nunca ter se casado não é visto como núcleo familiar perante a lei; se um dos dois entrar em coma, por exemplo, é possível impedir que o outro tome decisões médicas por não ser considerado membro da família. O último governo de esquerda tentou mudar essa lei medieval, mas é lógico que não conseguiu. O problema é que, embora este seja oficialmente um país laico, hospitais, repartições públicas e escolas de norte a sul têm sempre um maldito crucifixo nas paredes. Pra ficar no meu microcosmos, aqui no prédio todo ano montam uma merda de um presépio gigante com direito a luzinha e agüinha, cuja conta é dividida igualmente por todos. Não precisa nem dizer que nós não fomos consultados – simplesmente ligam a merda do presépio na tomada e they take for granted que eu acho superlegal e estou superdisposta a dividir a conta de luz, por menor que seja.

Tudo isso pra mim, que não sou católica e nunca fui (uhuuu), é EXTREMAMENTE OFENSIVO. Eu também pago impostos, aliás provavelmente mais do que a maioria dos italianos – católicos, praticamente todos – que são mestres em sonegar. Eu também respeito as leis – com certeza mais do que a maioria dos italianos, incivis por natureza. Eu também vivo aqui. Eu também produzo riqueza pro país. Por que o comportamento claramente ofensivo desses filhos da puta contra nós, não-católicos, não é considerado tal? Por que é que, vivendo em um país oficialmente laico, eu tenho que aturar as conseqüências diretas e indiretas sobre a minha vida do que esses grandíssimos filhos da puta decidem?

É por essas e outras que o Mirco se desbatizou mês passado. Foi oficialmente excomungado. Só não mandamos emoldurar e penduramos na parede porque o cretino do padre escreveu bem quatro páginas cheias de baboseiras em vez de mandar uma folha só dizendo “fulano de tal é, a partir de hoje e a seu próprio pedido, considerado não membro da Igreja Católica Apostólica Romana, com as seguintes conseqüências: não pode ser patrinho de batizado [viva!], não pode ser padrinho de casamento [eba!], não pode receber os últimos sacramentos [uhuuu!], não pode ser enterrado em cemitério católico [yay!], já que foi oficialmente excomungado [atualmente uma das palavras mais lindas de qualquer dicionário, no meu entender]”. Inveja cor-de-rosa de um membro de um grupo do Facebook que tinha sido batizado no Vaticano e por isso tem um certificado de desbatismo cheio de mumunhas, com brasão e “VATICANO” escrito em letras garrafais no alto. Chiquérrimo.

Grandíssimos filhos da puta. Câncer de pâncreas com dores excruciantes pra todos eles.

**

O lado positivo da coisa é que está-se falando muito mais sobre o assunto do que teria acontecido se os ônibus tivessem saído com a propaganda. A esperança é que esse absurdo tome proporções tão avassaladoras que seja possível realmente mudar alguma coisa, limitar oficialmente o poder da igreja, fazer com que passem a pagar impostos como todo mundo, a não meter o bedelho no coma vegetativo dos outros, essas coisas. Dedinhos cruzados, faz favor.

uhuuu

Eu tinha lido a notícia no site da UAAR (Unione Atei e Agnostici Razionalisti) e num grupo deles no Facebook, mas não tinha visto nenhuma foto. A Daíza me antecipou.

A reação da igreja pouco me interessa, até porque já sabemos qual vai ser. O que eu quero ver é o que vai ser feito depois que os papa-hóstia reclamarem. Se o ônibus for de alguma maneira forçado a sumir de circulação eu vou botar uma faixa “Benedetto XVI vaffanculo, stronzo froscio di merda” pendurada na minha janela.