robin hobb

Falei que eu tava lendo uma trilogia da Robin Hobb, né. É a primeira, The Farseer Trilogy. AMEI. Como eu disse, tem muita coisa tirada do GRRM, e também achei o protagonisa, FitzChivalry, meio parecido com o Garion do Eddings, mas tem uma diferença fundamental: os livros são narrados em primeira pessoa, de modo que você acaba conhecendo o Fitz muito bem e até meio que pensando como ele. A mulher escreve muito bem, as intrigas palacianas são muito envolventes, há váaaaarios personagens ó-te-mos e você fica completamente submerso na história. O último livro é bem diferente dos dois primeiros, e acho que ela deu uma certa viajada na maionese; ficou tudo ligeiramente fora de contexto e a mudança radical de cenário é meio desconcertante. Mas os livros são bons, muito bons, perdi várias noites de sono lendo até tarde e muitas horas matutando sobre o que aconteceria depois. E agora quero ler os outros livros do mesmo universo.

Eu tinha decidido que o próximo livro ia ser uma coisa que o José trouxe pra mim de Barcelona, mas dado o meu mau humor atual acho melhor continuar no escapismo mesmo. Comecei o primeiro livro de The Dresden Files, o Storm Front. Estou achando americano demais, com aquelas one-liners de efeito irritantes, sabe, diálogos irreais, aquelas coisas. Mas o conceito é interessante e vou insistir.

dezembro, mês do desgosto

Acho essa coisa do Natal um porre. Porre, porre, porre. Parente da alegria forçada do Carnaval, sabe. Só que pelo menos Carnaval tem desfile, aquela cafonalha que eu adoro. Natal, nem isso. Presépios ridículos representando uma cena idiota que nunca existiu. Músicas chatas, chatas, chatas. A proliferação de coisas hediondas verdes e vermelhas. Presentes que nunca, nunca agradam. Nem das comidas de Natal eu gosto: aqui praticamente só sou fã de cappelletti in brodo, e mesmo assim prefiro cappelletti com molho de tomate do que em caldo de galo castrado.

Sim, estou de péssimo humor. Esse mês tem sido UM SACOOOO. Só trabalhos chatos. O tempo não ajuda; não pára de chover há semanas e eu vou ficando mais e mais rabugenta. Hoje até que abriu um solzinho, mas todo mundo já sabe que amanhã volta a chover e não se sabe quando vai parar. A sensação é que não vai parar nunca.

Ontem saí de casa tipo às dez da manhã pra comprar um lápis de olho urgente que o meu acabou e ir ao supermercado comprar pão, banana e sorvete porque veio gente jantar aqui em casa*. Imaginei que no meio da manhã de uma terça-feira não haveria confusão em Bastia Umbra. Doce ilusão. As ruas entupidas de gente, todo mundo de carro porque chovia a cântaros, e todo mundo estacionando à italiana, ou seja, onde dava na telha. Da minha casa até o centro, distância tão ridícula que quando não chove a cântaros eu cubro a pé ou de bici e que quando sou forçada a pegar o carro percorro em exatamente três minutos, levei dez. No estacionamento minúsculo da Coop, páro e ligo o pisca-alerta enquanto espero alguém sair e liberar uma vaga. Não passam dez segundos e uma Lancia Musa buzina forte atrás de mim, querendo entrar na vaga pra deficientes físicos que tinha acabado de ser liberada (estranhamente, por um carro de deficiente físico). Contei até vinte pra não sair e cobrir a mulher de porrada – ela não precisava buzinar porque tinha espaço atrás de mim pra manobrar, e não deveria ter estacionado ali porque A PORRA DA VAGA ERA PRA DEFICIENTES FÍSICOS. Finalmente sai uma senhora do supermercado com um carrinho com tipo três coisas dentro. Levou duas horas pra botar aquilo na mala da Panda e mais duas pra enfiar o carrinho na fila e pegar a moeda de volta. Estaciono, mas a vaga era apertada porque o cretino à minha direita tinha estacionado o BMW velho feito a cara dele. Consigo abrir a porta só um pouco, e sair dali com 1) casaco, 2) guarda-chuva (odeio guarda-chuva, mas dessa vez realmente não dava pra evitar), 3) sacola de compras, 4) a minha bolsa foi uma operação delicada. Quando consegui entrar no supermercado estava quase chorando de ódio de tudo e prometendo a mim mesma ir morar numa caverna sozinha.

Também não saí mais de casa o dia inteiro. Fiz uma faxina light, almoçamos tarde e dei uma dormidinha básica (não tinha dormido nada à noite sonhando com o último livro da trilogia da Robin Hobb). Quando acordei e fui trabalhar percebi que as 5 laudas que a Sabrina tinha me encomendado pra hoje de manhã eram um contrato. Como eles sabem que eu não faço tradução legal, nunca me mandam nada desse tipo, então eu nem sempre pergunto do que se trata quando me oferecem trabalho pelo telefone. Quando abri a merda do file e vi o maldito contrato tive ganas de jogar o computador pela janela. Já era tarde demais pra recusar, pois às cinco da tarde eles jamais achariam outro tradutor que entregasse até as nove da manhã de hoje. Lá fui eu fazer a porra do contrato, praticamente procurando cada vírgula no dicionário. Quando acabei respirei fundo e fui pra cozinha fazer o jantar.

*O jantar:

O curry que compramos no Grand Bazaar em Istambul está rendendo. O Mirco toda hora pede pra eu fazer. O Silvio nunca tinha ouvido falar de curry, mas a Oana gosta de coisas estranhas, então fiz peito de frango com curry. Em vez do arroz selvagem que costumo fazer como acompanhamento, fui de batatas gratinadas porque o Silvio, ao contrário da maioria dos italianos, adora uma batata e tenho que aproveitar essas poucas oportunidades batatais que aparecem em ocasiões sociais. Ficou tudo ótimo. Regamos com guaraná pra piorar mais ainda a mistura maluca de comidas incombináveis, e fechamos com um Barattolino Sammontana de cream caramel com pedacinhos de biscoito de chocolate. Brinquei muito com o Michele, que tem 7 meses e é um amor. O jantar salvou o dia.

E lá fui eu ler até as 3 da manhã. Mas isso é outra história.

a chuva

Não pára de chover na Bota. No país inteiro. Aqui na Umbria entre ontem e hoje choveu mais do que normalmente chove no mês de dezembro inteiro. O riacho que atravessa Bastia, um afluente do Tibre, está furiosíssimo e as árvores das margens estão com água na altura dos sovacos. O Mirco hoje emprestou a empilhadeira pra prefeitura de uma cidade perto da oficina, porque eles tiveram que comprar uma quantidade avassaladora de sal pra jogar nas estradas de montanha e não tinham como descarregar. Muita gente lá pros lados de Todi foi orientada pela Defesa Civil a sair de casa porque havia risco de alagamento. O Arno, em Florença, já chegou ao primeiro nível de emergência. Veneza está submersa na maior acqua alta dos últimos não sei quantos anos.

Em Roma, que é tudo na vida inclusive porque chove muito pouco, chove ininterruptamente há não sei quantas horas. Essa noite uma mulher morreu afogada quando passou com seu SUV por baixo de um viaduto e encontrou QUATRO METROS de água. Não conseguiu abrir as portas, nem as janelas (vivam os vidros que abrem com manivela), a água entrou, ela não conseguiu sair, e morreu.

No norte, escolas fechadas por causa da neve nas estradas, caminhões removedores de neve trabalhando a toda, perigo de avalanche nas áreas montanhosas.

No sul, as ilhas isoladas por causa do mar fortíssimo.

Segundo os meteorologistas, já se sabia que esse inverno iria ser pauleira porque as manchas na superfície do sol andavam muito poucas, o que significa menos atividade e portanto menos calor. Se é assim mesmo que a coisa funciona, não sei. O que eu sei é que estou ADORANDO poder trabalhar de casa, ao lado do radiador, ouvindo o pat-pat da chuva na janela. E adorando mais ainda me enfiar debaixo das cobertas depois do almoço pra dar aquela dormidinha básica que dias chuvosos exigem.

a song of ice and fire

Esse ano foi de poucas leituras, por n motivos. Esse mês, assim como novembro, vem sendo de muito trabalho, mas como ando com insônia crônica, acordo às quatro ou cinco da manhã e em vez de adiantar o trabalho vou lá pra minha poltroninha da IKEA ler. Antes de sentar abro a persiana pra ver o dia nascer, ou não, já que com toda essa neblina distinguir o dia da noite é tão difícil quanto dizer se um pintinho é macho ou fêmea. Mas estou tergiversando.

Depois de muito relutar, porque detesto começar séries inacabadas e ficar sem saber o final, acabei atacando a saga do George R. R. Martin, GRRM pros fãs, chamada A Song of Ice and Fire. Fantasy, lógico. São váaaaarios livros eLormes que eu achei que durariam até o próximo sair, provavelmente no começo do ano que vem (digo provavelmente porque deveria ter saído em 2006). Só que os livros são unputdownable. Totalmente.

Não vou falar da história aqui; a Wikipedia tá aí pra isso. O que eu queria dizer é o seguinte. O cara não tem assim um estilo estiloso, sabe, não é um Guy Gavriel Kay que escreve coisas que você fica com vontade de chorar de tão lindas (ou de tanto ódio por não ser capaz de escrever assim tão bem), nem um David Eddings pre-Mallorean que faz você gargalhar histericamente em público. Não é um mago das palavras, ecco. Mas o que não há de emocionante em termos de forma/estética é mais que compensado pelo conteúdo. São trocentos plots e subplots interligados sem um buraco, sem nada fora do lugar, sem nada pendente, sem nada que fique sem explicação ou que não tenha sentido. Não tenho a MENOR idéia de como alguém consegue criar uma variedade tão grande de histórias interligadas sem ficar maluco. Haja fluxograma. O fato é que as histórias são muito, MUITO, MUITOOOOOOOOOOO boas. Altas intrigas palacianas, muuuuita política, muuuuita podridão, personagens “so poisonous they could eat the Borgias”, como disse um jornal. Cada capítulo é um POV (point of view, aprendam) de um personagem diferente, de modo que à medida em que a história avança a sua opinião sobre cada um deles vai mudando sensivelmente. Claro que há gente cruel porque é cruel e basta, mas a maioria é como todo mundo, faz cagadas às vezes, faz escolhas idiotas, é mal entendida, tem seus momentos de glória, graça e razão. Tudo é relativo, toda história tem tantas versões quantos são os participantes, não há verdades universais. A cada capítulo que acabava em um cliffhanger eu ficava com vontade de jogar o bicho pela janela de ódio de não saber como o episódio continuava. E eu sonhei com a história TODAS AS NOITES, durante TODO O TEMPO em que li os livros. Malditos.

Como nada é perfeito, vamos aos problemas.

1) Os mapas são uma bosta. Ou então é a descrição geográfica dele que não é boa, não decidi ainda. O fato é que todas as vezes que alguém falava de ir pra um lugar pra outro ou de um fato acontecendo em um tal lugar eu não tinha a menor idéia da distância em questão. DETESTO isso, primeiro porque eu não posso ver um mapa que fico toda assanhada, e segundo porque às vezes – muitas vezes – saber exatamente onde fica um tal lugar e quem são os vizinhos é importante pra história. Mas não consegui “entrar” no mundo, geograficamente falando. Todos esses livros enormes lidos e eu ainda não entendo nada de onde fica o quê.

2) Os nomes. Nomes pra mim são cruciais. Um personagem (ou lugar, ou espada, ou cavalo) pode ser muito maneiro e bem construído, mas se tiver um nome idiota não adianta que comigo não pega. Os nomes do GRRM não são idiotas, mas têm três problemas fundamentais: são muitos, são muito parecidos entre si (Raynald e Rynald, coisas assim) e muitos são variantes de nomes digamos “normais”. Então temos Jon, Catlyn, Rickard, Lysa, Jaime e outras aberrações da natureza.

3) Pra piorar, a quantidade incrível de personagens vem acompanhada de banners, cores, às vezes apelidos, filhos bastardos, antepassados famosos, castelos cujo nome nem sempre é o nome das famílias que vivem neles. É muito confuso. E como política é política em qualquer mundo, real ou inventado, as alianças entre as famílias nobres vivem mudando, e acompanhar tudo isso é de arrancar os cabelos. No final de cada livro há uma espécie de glossário (gigante, por sinal) com o emblema, uma breve história e os principais membros de cada família, mas não ajuda muito.

De qualquer forma, se você gosta desse tipo de literatura, LEIA. Esses três defeitos (que são opinião puramente pessoal minha, ça va sans dire) são totalmente atropelados pela qualidade da história que ele conta.

E vamos combinar que Jaime e Tyrion Lannister e Arya Stark – principalmente Arya Stark – são tipo assim os personagens mais maneiros do-mun-do. E que o conceito de The Wall e The Night Watch é muito, muito foda.

P.S.: Tem dragões também, êeeeeeeee! : ))))))))))

hohohoho

Vocês tão carecas de saber que eu praticamente não vejo televisão. Mas um dos nossos programas preferidos é Le Iene (que nada mais é do que o nome italiano de Reservoir Dogs. Don’t ask.), que passa às terças-feiras. Seguem a linha de jornalismo investigativo, mas sempre com muito humor e sacaneando muito os políticos. Ontem eles se superaram.

O lance é o seguinte: foi aprovada uma lei idiota contra a prostituição (todas as leis contra a prostituição são idiotas) cujo texto a um certo ponto diz que é proibido exibir-se em público usando roupas inequivocavelmente provocantes e cujo intuito óbvio é atrair clientes para a realização de meretrício. A repórter de Le Iene, então, fez uma coisa ABSOLUTAMENTE SENSACIONAL: foi aos estúdios da RAI e dos outros canais e pegou emprestadas as roupas que as Veline, Letterine etc (equivalentes das nossas chacretes) usam em programas atuais e do passado. Não sei se estou me explicando direito: ela foi ao setor de figurino dos diferentes canais de televisão e pegou roupas que todo o santo dia aparecem na nossa televisão, pois todo programa aqui tem mulheres seminuas rebolando coreografias idiotas num cenário tipo Qual É A Música. Vestida de top e microshort ou microsaia transparente cheia de canutilhos e bota de salto agulha e cano altíssimo, plantou-se na beira de uma estrada em Roma.

Pararam váaaaaarios carros, até porque só tinha ela, onde antes muitas prostitutas batiam ponto. Os caras paravam, perguntavam “quanto custa”, e ela, inocente “quanto custa o quê”, ao que respondiam “como o quê, quanto custa pra trepar”. Ela, muito cândida, respondia que estava esperando o namorado ou uma amiga pra ir ao cinema. Alguns mandavam-na praquele lugar, outros insistiam. Até que ela começou a ser parada pela polícia. Ela fez o teste várias vezes, com várias roupas diferentes, e foi parada pela polícia todas as vezes. Quando diziam que ela não podia ficar na rua vestida daquele jeito, ela respondia, “mas o senhor já viu essa roupa milhões de vezes…”.

Eu dava gargalhadas. Todos os nossos couchsurfers ficaram horrorizados com o tamanho minúsculo das roupitchas dessas beldades, quase todas namoradas de jogadores de futebol, e com a onipresença dessas garotas, inclusive em programas onde não tem o menor cabimento botar mulher rebolando. A reportagem chamou as chacretes de prostitutas com uma sutileza invejável. Genial.

weather talk

O tempo está uma bosta há praticamente uma semana. Chove de norte a sul sem parar. A gente aqui no vale ainda tá mais protegidinho, mas parece que estamos mesmo no olho do furacão: no norte neva neva neva, no sul venta venta venta, chove, um saco. Tetos de galpões saem voando, caminhonetes caem de pontes sopradas pelo vento, árvores caem sobre linhas elétricas e interrompem o trânsito de trens, as ilhas estão isoladas porque com o mar agitado não há barca que faça a travessia.

Aqui ontem choveu o dia inteirooooooooo. Não vejo a luz do sol há dias, o que vai sugando toda a minha energia aos poucos. Essa noite o vento, meu pior inimigo, tava tão forte que eu não dormi nada, levantei mil vezes pra conferir se as janelas tavam fechadas direito, pra botar os vasos menores de plantas em uma posição mais protegida, pra ver se o regador não tinha voado, pra amarrar as laterais da mesa da varanda que ficavam batendo, putz. Agora estou aqui me arrastando, tentando me concentrar em um trabalho chatérrimo infinito que está praticamente me deixando vesga. Porreeeeeeeeeeeeeeeee.