o tempo não pára

Aproveitando as promoções da Amazon, tenho comprado muitos DVDs baratérrimos. A fornada que chegou hoje tem The Untouchables, Run Lola Run, Master and Commander, The Last of the Mohicans*, X-Men 3. Vejo enquanto estou trabalhando, porque senão morro de tédio e não consigo ficar mais de vinte minutos sentada na cadeira.

Estou vendo The Untouchables agora. Adoro. A gente fica tão acostumado com esses filmes mais clássicos que esquece o quanto são velhos. O Kevin Costner era um garotinho! E o Andy Garcia, que pitéu, hein. Que-pi-téu. O único porém, além da altura, é aquele peito peludo hediondo, mas de resto, vem pra mim, vem.

Junto com os DVDs chegou Neuropath, sobre o qual já devo ter lido umas vinte críticas positivas na rede. Estou curiosíssima, mas como tenho trabalho pro fim de semana inteiro e duas provas semana que vem e uma na outra, acho melhor não começar agora, pra não ficar completamente viciada e não conseguir fazer mais nada além de ler. Assim que passar esse furor de trabalho e estudo, vou atacar a minha biblioteca with a vengeance. Preparem-se para muitas resenhas.

*O livro dos Moicanos é chatérrimo, mas eu AMO o filme e não me canso de revê-lo. Além da trilha sonora e da fotografia fantásticas, tem uma das minhas cenas preferidas do cinema EVER EVER EVER, quando a irmã loura se joga do penhasco em vez de aceitar ser prisioneira daquele índio horroroso com acne. A música no clímax e a expressão dela logo antes de se jogar são de arrepiar todos os pelinhos do braço. Se você não se lembra, dá um pulo na sua locadora e depois me diz se não tenho razão.

a planta

Vocês lembram da planta azul extra-terrestre, né. Eu falei que tirei foto das flores fosforescentes do ano passado, mas não estou achando. Mas observem o ritmo de crescimento da bichinha em 2006, 2007 e agora.

Quando comprei (1 euro a mini-muda) era assim, em junho de 2006.

Em junho de 2007 ela já tava assim.

E esse ano, completamente descontrol, uns 10 cm pra fora do vaso.

Não reparem na luz; não sei tirar foto direito. Ela agora tá menos azul, mas é sempre muito bizarra. Parece o Perito Moreno. Não tá com cara de que vai dar flores, o que é uma pena, porque as flores também são MOITO alienígenas.

aaaaaaaaaaaaah

Ontem à noite fomos com Gianni e Chiara tomar sorvete em Perugia. Aqui é bem normal encarar estrada e muitos quilômetros pra comer fora, e pra quem já veio pra cá é perfeitamente compreensível, visto o número infinito de lugares com comida maravilhosa. Essa sorveteria é especial; quem deu a dica foi a Roberta, irmã do Gianni que tá morando em Turim. Vale todos os quilômetros pra chegar até Perugia e o perrengue pra estacionar. Confiram vocês mesmos (e pra quem estiver em Paris ou NY, vá dar uma olhada).

êeeeeeee!

Vocês sabem que eu adoro um presente.

A Raquel, que no ano passado me mandou uma bolsa daquelas quadradas de lona (só que essa é muito maneira, com uma reprodução de uma pintura na frente; vou com ela pra faculdade todos os dias), dessa vez me mandou um caderno.

Eu adoro cadernos. Sou cadernófila. Tenho dúzias, grandes, pequenos, coloridos, não coloridos. A maioria sem nada escrito (ainda). Digamos que cadernos são uma das poucas coisas, se não a única coisa, que eu me permito ter só por ter, e não necessariamente pra usar.

Vejam se não é uma coisa:

Brigada, Raquel : )))))))))))))

finalmente!

[ring ring]
[paca] Pronto.
[voz feminina] Vieira?
[paca] Sì.
[voz feminina] É a polícia.
[paca, raciocinando] Ãn.
[voz feminina] Teu documento tá pronto.
[paca] AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!! ALELUIA!
[voz feminina, rindo] Sabia que você ia gritar! Pode vir hoje, se quiser, eu estou aqui até as duas.
[paca] Tô indo, tô indo!

Fiz uma fornada de cookies com gotas de chocolate e lá fui eu correndo pra Assis pra pegar o maldito documento no Commissariato. Quem me ligou, e quem estava lá sozinha, porque os colegas estão todos de férias, foi a minha policial preferida, a que há anos renova os meus documentos e que me reconhece sempre (“você não é aquela dos mil sobrenomes?”). Atacou os cookies, agradeceu e me mandou embora rindo, “agora tão cedo a gente não se vê!”.

O novo permesso di soggiorno por motivos familiares vence só em 2012, e até lá, espero fervorosamente, a minha cidadania portuguesa já terá saído e não terei mais que me preocupar com essas coisas de pobre. A missão da semana agora, então, é encontrar passagens baratas com a RyanAir de Perugia pra Barcelona, porque temos um casal de CouchSurfers que nos convidam praticamente todo mês, e além disso tem o José, que está indo passar uma semana lá com a família e tem um apartamento livre nos esperando. Yaaaaaaaaaaay!

viajando sem sair de casa

Tá certo, a gente até que viaja bastante. Mas nada comparado ao que muitos dos nossos hóspedes CouchSurfers fazem. A maioria das pessoas que recebemos está viajando pelo mundo há meses. Algumas têm empregos portáteis, como eu, outras simplesmente vendem tudo e vão dar uns rolés por aí, outras alugam a casa ou apartamento na cidade natal e se mantêm com essa grana. Se pra mim e pra você esse conceito é meio estranho mas interessantérrimo, pros italianos é motivo de susto e incredulidade, e a reação deles é INEVITAVELMENTE o comentário “mas você é maluco!”. Não preciso nem dizer que ouvimos esse mesmo comentário várias vezes quando contamos que jamais nos casaríamos na igreja, e quando ficam sabendo que não sou batizada, e principalmente quando digo que jamais, JAMAIS JAMAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIS batizarei filho nenhum.

Mas, cara, se você pára pra pensar esse povo que passa a vida viajando tem, no final das contas, muito menos despesas do que eu e você, que ficamos em casa pagando impostos, água, luz e gás, academia, mensalidade do carnê do Baú. Claro que não é pra todo mundo, tipo eu tenho tendências acumulativas e adoro comprar – nunca voltei de viagem nenhuma sem uma mala extra com coisas inúteis ou não compradas in loco – e isso causaria problemas logísticos de uma certa gravidade. Mas pra quem é menos materialista a coisa é perfeitamente possível, e não só isso: fundamental. Viajar é FUNDAMENTAL. Como respirar.

Hoje, com o meu trabalho portátil, se eu estivesse sozinha faria o que essas pessoas fazem. O Mirco não pode fazer uma coisa dessas porque a profissão dele envolve possuir um galpão cheio de equipamentos pesados, mas sei que ele também faria, se pudesse. Então, enquanto não se chega a uma solução ideal, recebemos gente do mundo inteiro, e viajamos com eles.

Já falei muito do CouchSurfing aqui, e vou continuar propagandeando o site sempre, porque a idéia é bárbara. Fora os americanos bizarros que desaparecem da sua vida depois de ir embora e que não trazem nem um cartão-postal de presente, mantemos contato com praticamente todo mundo que já passou por aqui, e temos convites pra nos hospedar em tudo que é lugar. Mas sobretudo conhecemos muita, muita gente muito, muito interessante.

Em maio recebemos duas garotas da Estônia superdocinhas, dois amores. Tiraram fotos lindas da Toscana, pra onde foram depois que saíram daqui. Antes delas tivemos um casal de americanos gays que foram hóspedes absolutamente deliciosos. Jantamos na varanda uma noite e batemos papo até altas horas. Junho começou com um pitéu, mas um pitéu, meninas, que vocês não imaginam: um jovem cirurgião belga com um sotaque francês absolutamente tchutchuco, um sorriso de fazer fêmeas desmaiarem, alto, bonitão, suuuuupergentil e educado. Não é engraçado mas acha graça de tudo, e também foi um hóspede ótimo. No dia seguinte à sua partida chegou um rapaz da África do Sul, 23 anos, louro, alto, bonitão, sorriso Colgate, simpático e curioso. Levamos o menino a Bevagna, pra ver Le Gaite, o festival medieval que rola todo ano em julho. Jantamos comida medieval, fomos servidos por meninos e meninas vestidos a caráter, ouvimos música medieval, visitamos uma das Gaite (um métier, digamos; cada bairro tem dois ou três), que era a fabricação da seda. Vou falar mais disso mais tarde porque foi muito bacana.

Anteontem chegou um rapaz indiano com a namorada alemã. Ele é advogado, deixou o apartamento alugado em Mumbay e está viajando com essa grana. Conheceu a namorada em Goa, onde ela estava de férias durante um período de intercâmbio profissional em Delhi. O e-mail que ele me mandou pedindo hospedagem não foi exatamente exemplar, mas ele é amigo do Benny, o irlandês que trabalhou comigo lá no manicômio e que foi quem me apresentou ao CouchSurfing. O Benny é uma das pessoas mais extraordinárias que eu já conheci, e todo amigo dele é amigo meu. Então assim foi que na sexta levamos os dois de novo a Bevagna, que eles adoraram, e ontem jantamos indiano aqui em casa.

Descobrimos que indiano é meio italiano: fanático por comida ao ponto de levar sempre alguma coisa típica quando viaja. No caso do Rahul ele viaja com uma icebox que faz um barulho danado e tá lá ligada na tomada perto da porta da sala, pra não incomodar. Dentro tem frutas tropicais compradas em lojas especializadas em Berlim, ervas e especiarias típicas, pacotes de comida semi-pronta que é só misturar com água ou ovos ou sei lá o quê e pronto. O jantar de ontem estava absolutamente DELICIOSO e agora de manhã a casa toda ainda estava perfumada de curry e arroz com cravo e anis. Eles ainda deram sorte porque o vizinho de baixo estava dando uma festa e tinha música italiana rolando no gramado (Rahul disse que ele estava se sentindo dentro da cena inicial do Poderoso Chefão, com aquela gente tocando pandeiro e cantando muito, muito alto). Vão levar pra casa uma garrafa de azeite e uma de limoncello; nós ganhamos um pacote de curry pra frango, incenso, um porta-moedas indiano, um cartão-postal lindo. E dois novos amigos, que é a coisa mais importante.

uêba

Achamos passagens miraculosamente baratas pro Rio em setembro. Ainda mais miraculosas porque, vocês sabem, o meu problema burocrático dificulta muito as coisas: enquanto meu permesso di soggiorno definitivo não chegar, não posso pisar na área Schengen, que é praticamente toda a Europa menos a Grã Bretanha, e isso limita muito o meu leque de opções na hora de viajar, excluindo as companhias européias. Dessa vez vamos de Alitalia até Milão e de lá com a Tam pra SP e depois Rio.

Minha lista de coisas pra fazer e comprar e de pessoas pra visitar no Rio já tem umas três páginas. E olha que eu escrevo pequeniniiiinho…

maturità

Essa semana os estudantes italianos estão sofrendo com as provas chamadas “esami di maturità”, um primo distante do vestibular (porque é o governo que faz a prova e não as faculdades, mas é preciso passar pra poder entrar pra universidade). Tudo muito parecido com o que acontece no Brasil: fica-se falando do assunto a semana inteira, os estudantes reclamam do volume de coisas pra estudar, discute-se a roupa que os alunos usam quando vão fazer as provas, reclama-se do calor (que chegou só ontem à Bota), etc.

Quase todos os anos rola algum problema com as provas, mas dessa vez a coisa foi séria. Em primeiro lugar, a prova de italiano tinha um erro grosseiro: uma questão pedia pra comentar o papel da mulher em uma poesia de Montale (um chato de galochas), quando na verdade o poema tinha sido escrito pra um homem, um amigo seu. Um problema também na prova de grego antigo (sim, aqui ainda estudam-se grego antigo e latim), que parece que tinha um pronome faltando. A prova de inglês tinha erros descritos como inacreditáveis.

O mais legal foi que dez minutos antes da prova o site studenti.it mostrava as questões e as respostas, com direito à imagem escaneada do problema de matemática e tudo! Sempre vaza alguma coisa, não tem jeito. E apesar dos celulares proibidos, é lógico que muita gente usou e abusou dos SMS em telefones escondidos sabe-se lá onde, e as perguntas e respostas apareciam em tempo real nos celulares dos pais, enviadas pelos filhos, teoricamente incomunicáveis nas salas onde foram feitas as provas.

Esse país é realmente uma pândega.

burô

Se você acha a burocracia brasileira um pé no saco, experimenta dar um pulinho aqui na Bota.

Meu pedido de renovação do permesso di soggiorno foi feito em maio… DO ANO PASSADO! Com o documento provisório que te dão até o definitivo chegar eu posso fazer tudo – tirar novos documentos, renovar a carteira do sistema de saúde, abrir minha própria atividade, o que eu quiser – menos uma coisa crucial: botar os pezinhos em países da área Schengen. Que inclui praticamente toda a Europa, à exceção da Grã Bretanha e da Suíça (essa última só até o final do ano, quando assinarão o tratado).

O dedo na ferida: a partir desse mês a Ryan Air passa a ter vôos diretos de Perugia pra Barcelona (atualmente só tem Londres, que é caríssima e chata, e Frankfurt, que não me interessa). Mirco achou um vôo ontem por 10 euros, taxas incluídas. MAS NÃO PODEMOS IR PORQUE O MALDITO DOCUMENTO NÃO CHEGA! Poderia estar dando um pulo em Paris pra visitar a Newlands, mas não posso. A Hunka vem pra cá em setembro e quero ir a Praga visitá-la, mas se o documento não chegar até lá, nada feito. Veja bem, uma passagem pra Barcelona por DEZ EUROS significa que o cidadão tem a obrigação moral de ir. Ele simplesmente TEM QUE. E eu que quero, não posso! Ódio.

Ô pai, dá uma agilizada na cidadania lusitana da mamãe, plís (é muito mais rápido por aí, logicamente), porque essa vida de subdesenvolvido já encheu e eu também quero ser civilizada. Não vejo a hora de chegar a minha vez.