lo stato sono io

Desculpem, mas não consigo mudar de assunto.

Berlusconi está tentando aprovar um decreto que suspende por dois anos os processos com penas inferiores a 10 anos, em teoria pra “agilizar os processos mais longos e graves”. O processo pendente contra ele está na primeira categoria. Além desse decreto salva-premier ele também já avisou que não aceita a juíza desse seu processo, com a desculpa que ela é claramente de esquerda, de acordo com declarações e textos seus encontrados online, e portanto parcial. Os juízes estão putos, putos da vida, e a coisa está esquentando. A falta de uma esquerda forte e conseqüentemente de uma oposição forte deixou Berlusca com as rédeas tão, tão soltas que ele está literalmente deitando e rolando, e a minha esperança é que chegue uma gota d’água que seja realmente a última, e alguém, pelamordedeus, alguém se rebele e faça alguma coisa pra parar esse homem!

Enquanto isso, desbarataram um esquema que rolava na Sicília que funcionava assim, ó: a maçonaria (que pra quem não sabe inspirou vários grupos mafiosos italianos e não) tinha gente infiltrada nos tribunais e cortes sicilianos, e juízes comprados pra simplesmente não tocar processos contra mafiosos, não fazer nada, até que os crimes entrassem em prescrição. Estamos falando de crimes pros quais a pena pedida era a prisão perpétua, vejam bem! Não sei direito os detalhes da descoberta do esquema, mas felizmente foram presos vários juízes e vários maçons, e os processos estão sendo trabalhados pra mandar os mafiosos pra prisão.

Vocês tinham alguma dúvida de que eu sempre torço contra a Itália? Juro. Ainda mais quando jogam contra a França, que eu adoro, e ainda mais quando jogam pior, o que acontece quase sempre. Acho horrível que haja lugar no esporte pra sorte; os italianos ontem jogaram pior, os dois gols que fizeram foram por sorte ou por erro da França, eles forçam faltas no adversário. E comemoram como se tivessem feito um jogão, sacam. Isso me deixa irritada assim bem mais que um pouquinho. Mas ninguém disse que a vida é justa, e olhe a Itália indo pra frente no Campeonato Europeu e a França eliminada sem ter merecido. Domingo a Itália joga contra a Espanha, que tem um time ótimo. Acendamos velinhas.

da série “pára a Itália que eu quero descer”

Quando você acha que chegou ao fundo do poço, algo acontece e te prova que fundo do poço tem porão.

Não contente com esse lance da proibição de publicar escutas telefônicas (com pena de até 3 anos de prisão pro jornalista que publicar, e obrigatoriedade de uma junta de juízes pra solicitar uma escuta), a notícia do dia é que agora Don Berlusca quer passar uma lei que proíbe processos contra os premiers (lembrem-se de que ele foi absolvido de tipo OITO há alguns anos, alguns por prescrição do crime, e ainda há outros pendentes atualmente). Não, não estou ficando maluca; leiam de novo: o premier quer uma lei que dê imunidade total aos premiers. Na minha terra isso se chama ditadura; e na sua?

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Essa semana o governo decretou que pra resolver o problema da segurança pública o que tava faltando mesmo era o exército. Então deslocou 2500 soldados em 15 grandes cidades do país, pra ajudar a patrulhar as ruas. O problema, como sempre, é que não se sabe bem o que acontecerá quando um soldado vir, por exemplo, um ladrão roubando uma loja, suponhamos uma joalheria, que é coisa bastante comum por aqui (comum pros padrões europeus, bem entendido). Visto que, como em todos os países do mundo, quem cuida da segurança interna é a polícia, e SOMENTE a polícia, em teoria o soldado em questão deverá chamar a polícia pra pedir autorização pra agir.

Quem mais já tá careca de saber que essa palhaçada não funciona levanta a mão.

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E a raiz do problema, onde estará? Todos os dias ligo a TV religiosamente às 7:30 (a essa hora já acabei de malhar e estou tomando café) na La7, único canal que presta, pra ouvir o Enrico Vaime. Já falei dele aqui, mas vou falar sempre mais, porque é uma das poucas cabeças pensantes desse país estranho. Hoje o assunto era a educação. Os professores italianos são muito mais numerosos do que em outros países europeus; são também os mais mal pagos e os mais velhos. Há alguns anos tentou-se criar um sistema de avaliação periódica dos docentes da escola pública, dando aumentos e incentivos aos que se saíssem melhor; os professores se revoltaram e fizeram uma greve que durou séculos. Como tudo aqui, as escolas também funcionam na base do pistolão, e se o sistema da meritocracia fosse realmente introduzido metade desse povo sairia voando pela janela. Uma pesquisa com os estudantes mostrou que 80% deles ODEIA a escola – veja bem, não aquela coisa normal de aluno que reclama mas na verdade fica contente quando volta às aulas: ODEIA foi o termo utilizado – e que não sei quantos por cento acreditam que a educação não serve pra nada, já que basta conhecer as pessoas certas pra arrumar um bom emprego (leia-se um emprego onde não se faz absolutamente nada e ganha-se bem). Os alunos não têm o menor respeito pelos professores; as salas de aula são uma bagunça desgraçada, e o professor praticamente fala sozinho. Vejo isso na minha turma na faculdade; isso tem que ter começado em algum lugar, e certamente foi na escola elementar. Os pais têm menos respeito ainda, e volta e meia há casos de professor surrado pelos pais porque deu nota baixa a um aluno. “Como o senhor ousa dar essa nota ao meu filho?” é o clássico sinal de alarme antes dessas surras. Os pais detestam os professores porque acham que trabalham pouco (os três meses de férias), não sabendo que ensinar é uma coisa muito, muito, MUITO cansativa e que as tardes livres na verdade são passadas preparando as aulas, preenchendo papelada, corrigindo deveres e provas. E tem o lance das férias, que o Vaime comentou muito naturalmente mas eu acho tão nonsense que jamais passaria pela minha cabeça: se o professor manda o aluno em recuperação, a família não pode sair de férias. E férias aqui são sagradas, porque senão como é que o povo vai se tostar na praia? Não se esqueçam que aqui na Europa poucos moram em cidade de mar, que normalmente são estações balneárias que só funcionam no verão, e mesmo os que moram o ano todo não têm, nem de longe, a relação que os brasileiros têm com a praia. Praia é igual a férias, e férias é igual a praia. Criar problemas desse tipo é uma coisa grave por aqui.

Estou ficando muito cansada de tudo isso.

hm

Eu não sei vocês, mas eu achei o trailer de Hellboy II MUI-TO maneiro. Não sei do que se trata e não vi o primeiro, mas esse é dirigido ou produzido, já não lembro, pelo diretor do Labirinto do Fauno. E os efeitos, meus queridos, são fodaaaaaaa. Quero ver.

italianices

O escândalo da semana é tão escandaloso que eu não tenho palavras pra descrever.

A polícia desmantelou um esquema em uma clínica de Milão, do qual participavam médicos e enfermeiros, e que prejudicou centenas de pessoas nos últimos anos. Prestem atenção: os cirurgiões simplesmente falsificavam laudos e operavam pacientes de coisas que não tinham, “escolhendo” as patologias que pagam mais ao médico. Exemplo: paciente com tuberculoma foi operado com o diagnóstico de câncer do pulmão, porque o médico recebe por um tumor quase dez vezes mais do que por um tuberculoma ou outro nódulo bobinho. Não só o paciente não ficou curado, porque tuberculose se cura com antibióticos e não com cirurgia, como voltou ao ambiente de estudo ou trabalho, já não lembro mais, e contaminou outras pessoas. Paciente com nódulo fibroso no seio, operada de mastectomia com diagnóstico falso de tumor de mama, porque, novamente, tumor paga mais. Paciente que quase sofreu uma tireoidectomia absolutamente sem necessidade. Entre outras coisas igualmente fofinhas.

As conversas telefônicas gravadas eram assim de dar calafrios. Os cirurgiões ficavam putos da vida quando alguém contestava o “diagnóstico” ou pedia mais exames complementares. E quando alguém da administração pediu que eles fossem mais cuidadosos ao abrir material esterilizado, porque a esterilização é cara pra cacete e se você abre um pacote e depois não usa tem que mandar pra esterilizar outra vez, o cirurgião prontamente respondeu: olha, se pra vocês isso é um problema eu posso perfeitamente usar o parafuso [da embalagem aberta, e portanto não mais estéril] em um paciente idoso, com pouca expectativa de vida… Prestem atenção de novo: estava-se falando de um parafuso pra prótese óssea, que é portanto enfiado DENTRO do osso do paciente com um instrumento muito parecido (leia-se igual) a uma furadeira Bosch. Ao contrário do que pode parecer, o osso não é uma coisa morta, mas um órgão muito vivo, sim senhor, e ainda por cima com a medula óssea no interior (se for osso longo tipo o fêmur), produzindo as células brancas de defesa e as vermelhas carregadoras de oxigênio (e que são meio lemmings, se auto-extingüem em 120 dias, “suicidando-se” lá no baço, por isso a necessidade constante de repor as que morrem) sem as quais não vivemos. Osteomielite (a infecção dos ossos e da medula óssea) é uma coisa muito, muito difícil de tratar, dolorosa pra cacete e deformante, e não importa se o paciente tem 100 anos e muito provavelmente não vai passar do próximo outono; ninguém merece. Digamos que eu, que normalmente sou contra a pena de morte, apesar do que possa parecer, acho que nesses casos o requinte de crueldade seria inclusive um complemento de muito bom tom.

Além dos pacientes diretamente prejudicados, muitos dos quais morreram na sala operatória, a coisa toda criou problemas pros outros 800 funcionários da clínica, que se viram sem trabalho e sem salário (a clínica foi fechada e todos os pagamentos suspensos), e pros outros não sei quantos pacientes, que precisam de tratamento e ficaram de mãos abanando. Legal, né.

Enquanto isso, na Sala da Justiça, Berlusca quer porque quer aprovar a lei que proíbe a publicação de toda e qualquer escuta telefônica. Coisa de quem tem rabo preso, lógico, porque como diz o Tonino (ex-Ministro da Infra-Estrutura e meu ídolo político por essas bandas), quem não faz besteira não tem medo de ser pego. Que nojo de homem, nojo, nojo, nojo. A minha esperança de que a opinião pública se rebele contra essa lei idiota depois do escândalo na tal clínica, que só foi descoberto justamente através das escutas telefônicas, é praticamente nula; estou aqui há tempo demais pra achar que alguém liga pra alguma coisa.

Bush está visitando Roma, que, como vocês sabem, é tudo na vida, e a cidade está totalmente bloqueada. O trânsito, que já é uma delícia, está pior ainda. Não sei quantos mil policiais foram deslocados pra fazer a segurança das ruas por onde o senhor DWI vai passar. Estacionar ficou mais impossível do que o normal. E pra completar a pantomima, foram retiradas não sei quantas caçambas de lixo das ruas, pra não estragar o visual, digamos assim. Vocês reclamam do Lula, mas ele pelo menos tem a desculpa de ser pobrinho e ignorante, no controle de um país pobrinho e ignorante. Aqui na Bota a desculpa qual é?

A impressão que eu tenho é a de estar testemunhando a queda do Império Romano.

P.S.: Hoje, se não me engano, Bush e Berlusca vão encontrar o Papa. Uma bombinha bem mirada resolveria tantos problemas, né não… Longe de monumentos históricos, por favor.

next stop…

Istambul. Uma cidade que eu morro de vontade de conhecer, há anos. Achamos passagens e hotel baratos pra agosto, na semana do dia 15, quando a oficina do Mirco fecha pra férias. Poucos dias, mas vai dar pro gasto. Estou curiosíssima. Aceitam-se dicas e recomendações.

temeraire

Falei desses livros en passant aqui, quando escrevi de Ottawa, não sei se vocês lembram. Prometi a mim mesma que só começaria a lê-los quando estivesse de férias da faculdade, porque o potencial viciante da história era grande, muito grande. Mas como eu sou uma anta compulsiva não agüentei e lá fui eu ser chupada pra dentro dos livros outra vez. Digamos que tenho dormido poucas horas por noite, pra conseguir estudar pras provas e trabalhar durante o dia.

Falamos das guerras napoleônicas (não é meu período histórico preferido, mas quase), com um pequeno detalhe: Força Aérea. Mas não com aviões, porque até o Leguinho sabe que não tinha avião na época, dã, mas com dragões. Dra-gões. A coisa mais normal do mundo, já que os primeiros dragões foram domesticados, no Ocidente, pelos romanos, e muito antes, como sempre, pelos chineses. Várias raças diferentes, acordos entre os países pra adquirir ovos de raças que “enriqueçam” as blood lines, estratégias de guerra aérea envolvendo esquadrilhas e manobras fenomenais. Tudo incrivelmente… crível. A mulher é danada porque tudo faz um sentido fenomenal, e você começa a achar realmente suuuupernormal que uma das forças armadas de tudo que é país pilote dragões e não aviões (mas seus “pilotos” se chamam aviators); todo o sistema bolado pra botar os aviators nos dragões faz sentido e parece tecnicamente possível; o equipamento todo faz sentido; as discrepâncias entre países sobre o modo de tratar os dragões e de fazer guerra aérea fazem sentido; TUDO faz sentido. TUDO nos livros funciona. Tudo. Nada fica sem explicação, nada de deus ex machina, nada de forçação de barra. Os personagens são Ó-TE-MOS – se eu tiver um dragão um dia quero que seja que nem o Temeraire – e convincentes, os fatos históricos são bem pesquisados, os detalhes médico-veterinários idem, as cenas de guerra são fenomenais, os dragões são todos maravilhosos, até os filhos da puta. O texto é uma delícia, apesar de meio formal, e além do mais ela faz uma coisa que eu adoro: usa e abusa do ponto-e-vírgula. Eu AMO ponto-e-vírgula e acho o coitado muito subestimado. Então imaginem o meu estado de êxtase total e absoluto lendo essa série. Estou praticamente morando nas costas do Temeraire, quase sentindo o cheiro dos bois inteiros assados à moda chinesa pelo Gong Su, cozinheiro que eles trouxeram de Pequim pra dar um tchan na dieta do Temeraire (os dragões ocidentais comem seus bichos crus). Ando achando as suas idéias jacobinas ótimas e estou pronta pra lutar pelos direitos dos dragões a receberem salário, como já acontece na China, a estudar, a não abrir mão dos ovos se não quiserem, a assumir posições de poder na Força Aérea, a ter o direito de meter o bedelho no Parlamento, etc.

Se você gosta de romances históricos, leia. Se você gosta de fantasia, leia. Se você gosta de ponto-e-vírgula, leia. Todo o blá-blá-blá em torno desses livros (no mundo de fantasy e sci-fi, bem entendido) é plenamente justificado. E um filme baseado sobre essa série seria assim… qualquer coisa. Peter Jackson, will ya?

(www.temeraire.org
A autora é Naomi Novik.)

várias

Não vou fingir que entendo de política, muito menos norte-americana, mas eu gostei do discurso da Hillary. Aqui.

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O tempo anda uma MER-DA. É a primavera mais climaticamente desagradável dos últimos 200 anos, dizem. E parece que vai ser assim até o próximo inverno: vento frio, chuva e sol alternando-se durante o dia. Pelo menos aqui. No norte anda chovendo a cântaros e deslizamentos de terra são a última moda. Acidentes nas estradas também não faltam, porque se o italiano já dirige feito um animal em condições normais de temperatura e pressão, imaginem em pista molhada e com visibilidade reduzida. Eu, pessoalmente, entro numa espiral de mau humor todos os invernos, e essa cortação de barato meteorológico me deixou muito pra baixo. Pensar que quando esse tempo bosta terminar vamos estar já nos dias curtos e escuros do inverno me deixa louca. Mas fazer o quê.

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Sábado fomos ver Then She Found Me, com a Helen Hunt. Meudeus, como ela tá VE-LHA! E, na boa, até entendo não querer se plastificar toda, aceitar o envelhecimento numa boa e tal, mas cara, tem rugas que praticamente GRITAM “quero botox!”. Magra, macérrima, a pelanca solta acentuando as rugas, socorro! O filme propriamente dito é interessante, lentíssimo mas não horrendo, tem seus momentos e tal, mas parece que o pré-requisito pra trabalhar nele é ser feio pacas E mal vestido pacas – não se salva nem o Colin Firth, quéridos, que passa o filme inteiro com cara de quem não toma banho há uma semana. Não importa que ele é pai separado com dois filhos pra criar: roupa amassada é perdoável; cara de sujo, nem pensar. Saí do cinema com um discreto nervoso, porque não posso ver gente suja, e odeio mulher molamba usando sandália de turista alemão e sem nem um rímel pra dar uma levantada (pra não falar nas rugas pedindo botox).

E ontem vimos Il Divo, filme italiano sobre Giulio Andreotti, a mafia guy if I’ve ever seen one, senador vitalício, corcunda, com cara de Yoda, asqueroso, talvez o homem mais poderoso do país, com toda a desonestidade e a podridão que isso implica. Podia ser um filme interessante, mas é tão, tão, TÃO lento que eu tava quase cortando os pulsos. Não tenho paciência pra lentidão, que pra mim deveria ser punida com chibatadas em praça pública, e Il Divo tem ritmo de cinema iraniano. Não dá. Não vejam. Não-ve-jam.

não bom

Fim de semana passado, andando pela calçada até o restaurante chinês de Ponte San Giovanni, vimos que vários dos carros estacionados (na calçada, porque a cidade tem uma falta de vaga crônica) tinham um folhetinho no pára-brisa. Normalmente é publicidade de loja de sapato ou lavanderia, mas dessa vez o título chamou a nossa atenção: “NÃO À SOCIEDADE MULTI-RACIAL”. Roubamos um e levamos pra dentro pra ler enquanto o nosso arroz cantonês e o frango com amêndoas não chegavam.

O conteúdo do folheto é de arrepiar. Vou traduzir pra vocês, incluindo erros de gramática e pontuação:

“Os italianos não querem a sociedade multi-racial, esta é no entanto desejada e nos é imposta pela alta finança internacional, pelas multinacionais, por lobbies político-religiosos cosmopolitas. Nós nos fazemos uma pergunta que para muitas pessoas é desconfortável: a sociedade multi-racial é uma coisa boa ou ruim para o povo italiano? Na nossa opinião é uma coisa ruim.

350.000 de ciganos

Estão atualmente despejando-se na Itália para infestar acampamentos e favelas. Vivem com os resultados de atividades criminais: rapinas, furtos, receptação de objetos roubados, comércio e exploração de crianças-escravas: esta é a “Gomorra” que nenhum Saviano [o autor de Gomorra] jamais contará a vocês.

A turbulenta etnia rom [os ciganos] se une, assim, às massas dos invasores africanos e asiáticos que tentam substituir a nossa [etnia] na nossa Terra.

É um lugar-comum muito enganador pensar que “um imigrante que trabalha é preferível a um imigrante que não trabalha”: a verdade é que o povo italiano está sendo ameaçado na sua própria sobrevivência, na sua integridade, na sua identidade.

É PRECISO PARÁ-LOS

. Eliminar os fluxos migratórios dos comunitários [quem pertence à Comunidade Européia é chamado de comunitário, quem não pertente é extra-comunitário] rom através da suspensão imedata do tratado de Schengen.

. Fechamento das fronteiras.

. Expulsão de todos os rom – os prefeitos devem decidir o afastamento dos rom (com esvaziamento e tratamento dos acampamentos nômades) e de todos os cidadãos extra-comunitários que tenham sido sinalizados às autoridades de polícia ou que possam ser perigosos para a segurança dos cidadãos.

. Expulsão de todos os romenos que tenham violado a lei italiana.

. Repatriar todos os extra-comunitários presentes hoje no território nacional, incluindo os de segunda ou terceira geração. [NO COMMEEEEEEEEEEEEEENTS]

. Afirmação do direito dos cidadãos italianos à auto-defesa.

. Proibição absoluta de vender bens imobiliários das cidades históricas a imigrantes extraeuropeus.

. Dar preferência aos italianos nas listas de espera de creches e casas populares [tipo BDNES].

VAMOS PARAR A INVASÃO!”

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Não vou comentar a cretinice do ponto sobre expulsar imigrantes de segunda e terceira geração, porque tenho mais o que fazer. Também não vou comentar que os ciganos são mesmo uma farpa gigante no dedo da Europa, ninguém gosta deles, ninguém sabe o que fazer com eles, todo mundo preferiria que eles não existissem, mas é um problema que até agora não tem solução.

O problema, senhores, é que essa gente vê os imigrantes como uma massa de invasores que querem substituir os italianos. O problema é esse “não à sociedade multi-racial”. Dali pra linchamentos de gente “diferente” é um pulo. O representante da comunidade judaica de Roma comentou: “Com a gente começou assim”.

E já está acontecendo. Travestis, ciganos e africanos já foram vítimas de violência em algumas cidades do norte. Os agressores se sentem protegidos porque o novo governo baseou toda a sua campanha eleitoral no lance da segurança pública, que pros extremistas de direita é ameaçada por imigrantes. Da máfia ninguém fala, dos italianos que se drogam e alimentam o mercado de entorpecentes ninguém fala. Vamos mandar embora os imigrantes! Outro dia li em um jornal que uma médica estrangeira residente em Parma, casada com um italiano e aparentemente bem integrada, se despediu de um paciente dizendo a ele pra tomar cuidado com a saúde. Ao que o paciente respondeu: de agora em diante, doutora, é a senhora que vai ter que tomar cuidado com a sua.

Essa semana foi aprovada a lei que transforma a imigração clandestina em crime. Ou seja, se você for pego sem documentos não é mais simplesmente repatriado, é PRESO. Mas tem um porém: essa lei não se aplica a babás e empregadas domésticas. Por que será, né…

Essas últimas eleições foram o pior acontecimento da história recente desse país, acreditem. A coisa ainda vai feder muito mais. Aguardem e confiem.

gomorra, il film

Já falei aqui do livro Gomorra, de Salviano, que foi ameaçado de morte pela Camorra e anda escoltado etc e tal. Falei que o livro é MUITO maneiro e chocante.

O filme é qualquer coisa.

Primeiro que me deu vontade de rir porque o bairro de Scampia, o mais violento e drogado e pobre de Nápoles, é como uma favelona. A única diferença entre a Vela (um complexo de apartamentos GIGANTESCO e HEDIONDO, uma espécie de Cruzada aumentada, sacam) e uma favela é que os moradores são brancos. De resto, darlings, é tudo igual. Mulher mal vestida, homem com corrente de ouro no pescoço e pulseira de bicheiro nos braços, criança correndo despenteada, lixo na rua, restos de material de construção abandonados nos cantos, cachorros sarnentos passeando livres, roupas penduradas nos varais do lado de fora, vazamentos em tudo o que é lugar, carros abandonados em terrenos baldios, crianças tomando banho em piscinas Tony, gente que não faz ABSOLUTAMENTE NADA o dia inteiro, e principalmente homens armados que ficam de lá pra cá em cima das lajes pra dar o sinal quando a polícia se aproxima.

Segundo que me deu vontade de chorar porque gente que se droga me dá vontade de chorar. De ódio. Porque se tem uma coisa que eu detesto é estupidez, vocês sabem, e poucas coisas são mais idiotas nesse mundo do que se drogar/fumar/perder dinheiro em jogos de azar (e viva a rima).

E por último, Nápoles é mesmo uma irmã gêmea do Rio. Vamos combinar que a beleza do Rio é de sentar e chorar e não tem comparação com nada desse mundo, mas Nápoles também é muito bonita. Ver a degradação em que se encontra é um soco no estômago pra quem vem de uma cidade tão sofrida e injustiçada e fodida quanto o Rio de Janeiro, completamente entregue, como Nápoles, ao crime organizado, que fatura em cima de cretinos que não têm nada melhor pra fazer da vida do que entupir os narizes de coca.

O filme é esquisito, mas de um livro que não é um romance não podia mesmo sair um filme convencional; os personagens são muitos mas pouco desenvolvidos e você não cria a mínima empatia; os subplots são numerosos e nem sempre relacionados entre si; o ritmo é meio lento. Mas o filme é bárbaro e vale super a pena ver.

P.S.: O filme é todo em dialeto napoletano, e conseqüentemente legendado em italiano. Não, não se entende absolutamente nenhuma palavra. Nenhuminha.

as flores não morrem

As abelhas estão sumindo no mundo inteiro e blah blah blah, mas parece que aqui em Bastia elas ainda estão na ativa. Pelo menos na minha varanda. Gostam de uma planta suculenta em particular, uma que cresce toda torta pra um lado, a ponto de eu ter que apoiar o vaso numa parede pra ela não tombar com o peso. O que raios se passa na cabeça da bichinha, meudeus, não tá vendo que não tem sentido crescer pra um lado só! Sim, tentei virar o vaso, tentei botar um pauzinho e amarrar os ramos tortos, mas a bicha é danada e até agora resistiu a todas as minhas tentativas de endireitamento. Deixei pra lá.

Mas eu tava dizendo é que as abelhas adoram as miniflores dessa tal planta, que não sei nem como se chama. Hoje fui à varanda pra podar os cravos e esses também tavam completamente abelhosos. Melhor podar à tardinha, quando as abelhas vão mimir.

Aliás, eu já enalteci meus cravos aqui pelo menos uma vez, e vou fazê-lo de novo porque eles merecem: ô planta guerreira, rapaz! O tempo anda uma bosta desde o início do mês, chuva, nublado, sol e vento se alternando durante o dia, uma coisa meio britânica, sabe, cada aguaceiro bizarro, depois um solzinho esquisito, depois um mormaço bunda, depois um chuvisco que nem molha, depois um vento que leva embora até os teus pensamentos. As outras plantas andam meio estressadas com essa maluquice meteorológica, pelo que eu percebi, principalmente as azaléas que meus colegas de turma trouxeram quando vieram jantar aqui no mês passado. Já adubei todo mundo e acho que agora elas vão dar uma acalmada. Mas os cravos, vou te dizer… Não tem santo que lhes dê mau humor! Dão flor o ano todo, não sujam a varanda porque nem flores nem folhas caem, mal precisam de adubo… Minha dica pessoal é podar, podar, podar. Nada de peninha: o ramo começou a ficar feio, corta sem dó! Se não cortar logo vai acontecer o que acontece comigo, que sou uma monga sentimentalóide: o ramo vai ficando feio e seco mas dá flor mesmo assim, e depois que dá flor você não tem mais coragem de cortar, e fica aquele murundu de ramos compridos com cara de secos, folhas amareladas horrorosas e as flores lindinhas na ponta. Como narizes na ponta de verrugas, digamos assim.

Outra coisa importante é adicionar mais terra de vez em quando, porque as raízes dos cravos são power e ocupam tipo todo o espaço do mundo. Externamente a planta não te dá nenhuma indicação de que está sofrendo por falta de terra, mas se você tirar a bicha do vaso vai ver que não tem mais um grãozinho de terra dentro, é tudo uma massa sólida de raiz. Muito bizzarro.

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Enquanto isso, mudei meu cactus mais velho de vaso. É um cactus com folhas cactosas, e não tipo bolinha, e sempre foi o primeiro a florescer, de todas as plantas da varanda. De uma hora pra outra as folhas foram ficando amareladas, murchas e horrorosas. Não joguei fora porque não tenho coragem; minhas plantas são como bichos de estimação pra mim. Mas não sabia o que fazer. Mudei o vaso de lugar, botei pra dentro de casa, botei pra fora, botei na chuva, botei no seco, botei no sol, botei na sombra, dei adubo pra planta suculenta e nada. Resolvi mudar o bichinho de vaso quando vi o esforço hercúleo que ele tava fazendo pra fazer uma florzinha. Um botãozinho rosa-magenta na ponta de uma folha sã, na extremidade de duas folhas murchas (digamos que esse tipo de cactus é tipo uma solitária, saca, sim, o verme, com vários componentes que formam uma espécie de corrente comprida. Quando digo “folha” estou me referindo a um desses componentes). Fiquei com peninha, passei-o pra um vaso um pouco maior, com terra nova e adubada, cortei fora as folhas murchas e agora estou na espera. Vamos ver se o coitado se recupera.

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A planta da IKEA (ela tem nome, mas eu não lembro qual é; chamamos de planta da IKEA porque roubamos uma folhinha na primeira vez que fomos lá, há muuuitos anos, a Arianna plantou, cresceu, me deu duas folhinhas, plantei e cresceram) me deu um susto danado nesse inverno. Eu tava sentada na minha poltroninha lendo um livrinho quando olho pra fora e vejo uma coisa marrom toda caída. Era a minha planta da IKEA! Quase tive um treco. Achei que fosse culpa minha, porque tinha passado as plantas do hall do elevador lá pra fora cedo demais, visto que ainda estava meio frio, e fiquei me martirizando. Matei a planta da IKEA! O mais estranho era o cheiro que ela emanava. Nunca tinha visto um negócio assim. Normalmente minhas plantas simplesmente morrem, não ficam moribundas e com um cheiro estranho. Mudei a coitada de lugar, cortei os ramos murchos e fedorentos – que por sinal eram muitos, porque até dois dias antes a planta estava um ESPETÁCULO de linda e folhuda e cheia de amor pra dar – e depois de ter podado tudo o que podia vi que tinha vários brotinhos saindo do tronco e dos ramos maiores, e alguns raminhos novos já todos verdinhos e frescos. Agora ela já tá melhor, já começa a encher de novo, mas continuo sem saber o que houve. Ou fungo ou vírus, imagino, mas não sei por que as outras plantas vizinhas não pegaram nada. Vai entender.

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Ah, e lembrem-me de botar a foto da Planta Azul aqui. Tô com preguiça de ir lá fotografar, mas quero que vocês vejam o antes (quando eu a comprei, há exatamente dois anos) e o depois. Primeiro porque a planta (outra suculenta) parece que veio de outro planeta de tão esquisita, e segundo porque ela cresceu moooito. Parece que esse ano não vai dar flores, mas no ano passado deu – são rosa fosforescente (tô falando que é meio alienígena) – e eu fotografei. É só questão de catar e subir. Quando eu tiver com saco.