Teus presentes devem chegar semana que vem. Te adoro muito.
E aproveitem e vão lá ouvir o rapaz.
Teus presentes devem chegar semana que vem. Te adoro muito.
E aproveitem e vão lá ouvir o rapaz.
Lembram que há um tempo atrás um leitor me mandou três livros da minha wishlist? Eu nem lembrava mais que os livros estavam na lista, muito menos por qual motivo estavam na lista, e só comecei a ler há duas semanas. E daí, vocês se perguntam. E daí que eu passei praticamente todo esse tempo afundada na Irlanda. Tinha tempo que eu não lia nada nesse estilo fantasy-céltico, e eu tinha esquecido o poder que esse assunto tem de dominar a minha vida. Durante todo esse tempo eu sonhava sempre duas coisas: ou os personagens do livro ou a Chalene Johnson malhando, hohoho. Mas sério: os nomes são todos lindos, a história do primeiro livro era familiar porque a lenda da irmã dos seis cisnes é razoavelmente conhecida, os lugares são fantásticos e as histórias de amor são todas platônicas. Os personagens são ótimos; em particular, é difícil não se apaixonar pelos homens, fortes e fascinantes e misteriosos.
O problema é que os livros, literariamente falando, não são assim uma Brastemp, sabe. Todo mundo tem seu cafonismo lá em algum cantinho, sua porção suely maria, sidney sheldon, cauby peixoto. Ficar grudada em livros relativamente bobinhos se encaixa perfeitamente nesse cantinho cafona. Estes são uma trilogia, as histórias são parecidas e com finais mais ou menos previsíveis, mas mesmo assim, cacete, perdi muitas noites de sono lendo até alta madrugada porque simplesmente PRECISAVA saber o que iria acontecer depois. Por sorte durante essas duas semanas não tive nenhum trabalho enorme nem urgente pra fazer, senão teria dormido ainda menos.
O segundo livro é o melhor, porque a Liadan rocks e porque eu quero casar com o Painted Man quando crescer. O terceiro é o mais fraquinho, mas o terceiro tem o Johnny.
Mas aí eu acordo hoje toda monga, depois de ter lido até as quatro e meia da manhã pra terminar a maldita história e ver se a garota perneta termina com o Darragh ou não morando na Needle (she does), e tem um email do Flickr dizendo que o Brendan, meu ex-colega irlandês lá da agência, me adicionou como contato. Vou lá ver as fotos da Irlanda, e tem tudo: praias rochosas, cisnes, verde-esmeralda, um cavalo cinza, nomes lindos e impronunciáveis, céu nublado, e um sobrinho do Brendan que se chama Eaman, como um dos personagens da trilogia. Como é que eu consigo sair de dentro desses livros agora, cacete?
Respondo eu mesma: é hora de reler LotR, ou então The Fionavar Tapestry. E de esperar o verão pra poder viajar pra Irlanda.
Existe um país onde as pessoas não gritam? Se não existe, eu posso inventar?
Com esse negócio de Couchsurfing hospedamos muita gente interessante esse ano. Nossa amostra de americanos foi a maior de todas as nacionalidades, n = 4, e depois da última experiência tenho que dizer que não os aceitaremos mais. Porque 100% desses 4 casos (três casais e uma garota sozinha) tinham o defeito gravíssimo de take for granted a hospedagem. Não trazem presentes (não hospedamos ninguém pra ganhar presente, mas é legal ganhar uma coisinha qualquer do seu país ou outra bobagem qualquer – as balinhas polonesas de doce de leite duro são ótimas, o vinho da Eslovênia era bem razoável, a alemã maluca me deu um desenho, os neozelandeses me deixaram um livro e um cartão-postal, os espanhóis cozinharam tortilla de batatas e nos deram uma vela perfumada, os brasileiros nos deram muitos sorrisos, os franceses deram uma volta na Cinquecento do Ettore e o rapaz quase morreu de emoção). Não ajudam na cozinha. Tomam banhos compridíssimos. Deixam TODAS as luzes da casa acesas. As mulheres americanas têm aquela perpétua expressão de hello-ooooo na cara. E nenhum deles agradeceu com o olhar, apesar de deixar testimonials poéticos no nosso perfil. Então não quero mais.
Acabamos de comprar nossas passagens pra NY. Uma semana, entre Natal e Ano Novo. Achamos passagens baratas saindo de Perugia, e lá vamos nós. Dessa vez vamos sozinhos porque ninguém tem tempo disponível nessa época do ano. Vamos dormir em Hackensack, onde mora um amigo do Mirco, de quem ouço falar há anos e nunca encontrei porque ele nunca vem pra cá.
Eu preferiria um lugar menos gélido, sinceramente, mas como eu não posso viajar pela Europa ainda (amanhã tenho que ir à polícia pra tirar a foto, mas depois disso parece que o documento propriamente dito leva mais uns três meses pra chegar) nossas opções são muito restritas. A NY dada não se olham os dentes, logicamente, mas o frio lá é foda demais pra mim. Espero que o inverno não seja muito cruel esse ano.
A última aula de ontem foi de Diritto dell’Integrazione Europea, uma matéria opcional, e foi incrivelmente confusa. O professor falou de tudo mas não disse muito, apesar das três horas de duração. O pouco que tinha sentido era interessante, então estou otimista (principalmente porque ele viaja muito e toda hora o professor substituto fica no seu lugar. Dizem que esse é mais sucintinho).
Mas o interessante foi descobrir que na minha turma dessa matéria (são todos do primeiro ano, a não ser eu e mais dois garotos) só tem uns quatro italianos. Muitos poloneses, romenos e albaneses, e, cerejinha no chantilly, um da Mongólia (o que é do segundo ano), um da Síria (semana que vem vou perguntar a ele como se pronuncia meu sobrenome), um do Afeganistão e, tcham tcham tcham, um do Tadjiquistão (e admito que tive que olhar na Wikipedia como se escreve). É mole ou quer mais.
Eu nem comentei, mas há duas semanas fomos ver um concerto em Perugia. A Une tem assinatura do teatro, porque tem desconto como estudante de música, e nos convenceu a ir. Era uma miniorquestra de Salzburg. Chegamos cedo na cidade e paramos pra comer num restaurante napolitano horrível, mas o jantar demorou horrores pra chegar, então eu e Une comemos só antipasto e deixamos os meninos lá esperando os primi piatti, e fomos correndo pro teatro Morlacchi pra não perder a primeira parte.
Nossos ingressos eram horríveis porque não reservamos pelo telefone antes, então sentamos no pombal, lá no alto, por sorte bem em cima do palco. Mais da metade dos músicos eram mulheres, algumas de vestido comprido ou saia longa mas outras de calças. Uma ruiva usava uma blusinha transparente linda exatamente igual à da negona violinista, com uma maquiagem superbem feita, por sinal. Uma violinista loura com uma calça sequinha de tafetá e sapatilhas lindas. Uma senhora imensamente gorda vestida com algo que parecia uma cortina, em termos de dimensões, de um tecido muito elegante. Vários carecas, um rabo-de-cavalo, duas chinesas (uma nos tímpanos). Notei que uma das violinistas não parava de se mexer, mas achei que fosse só excentricidade. No final da primeira peça a Une esclareceu que na falta de maestro a primeira violinista assume o comando, e os movimentos do corpo e da cabeça substituem o bâton. Adorei.
A primeira peça foi de Mendelssohn, Die Schöne Melusine, Ouverture op. 32. Tinha muito tempo que eu não ia a um concerto, e fiquei muito emocionada. A música era muito, muito boa, e sentir o parapeito de madeira do velho teatro vibrando com as notas sob as minhas mãos foi puro deleite. Aplaudi até as mãos doerem.
Depois entrou a estrela da noite, a pianista Elisabeth Leonskaja, e seguiu-se outra peça de Mendelssohn, Concerto n. 1 em sol menor op. 25 para piano e orquestra, também linda. Mas eu não gosto de piano em concerto porque é que nem limão na comida, só dá ele e o resto mal dá pra perceber. Pra finalizar, Beethoven, concerto n. 4 em sol maior op. 58 para piano e orquestra. Gostei mais de Mendelssohn.
Mas saí do teatro completamente… elated. Tava precisando.
Hoje conheci uma vizinha na faculdade. Ela é romena, feia que nem a fome, casada com um romeno, e mora no prédio mais alto de Bastia, horroroso, aqui do lado de casa. Nem simpática nem antipática, contou que não sente falta nenhuma da terra natal e que quase nunca volta, que parou de trabalhar pra estudar (e mesmo assim tem notas MUITO mais baixas do que as minhas), tem bolsa de estudos, que o marido é pedreiro, que mora há onze anos na Itália. Me deu uma carona até Ponte San Giovanni, que no final atrapalhou mais do que ajudou porque tive que andar um pedação com o laptop, a bolsa, a sacola com os lanchinhos que levo quando passo o dia na faculdade e não quero sair pra almoçar. Um Ford Focus último tipo. Quando trabalhava ela era garçonete. Eu nem posso ir de carro quando quero pra Perugia, porque meu carro é velho e polui, e em certos dias só veículos novos e menos poluentes podem entrar. Mas a garçonete tem um Ford Focus último tipo. O mundo é mesmo muito estranho.
A faculdade aqui é assim: cada hora de aula tem oficialmente realmente 60 minutos de duração, mas na prática há o maldito “quarto d’ora accademico”, os 15 minutos de folga não-oficiais que nenhum professor ousa desrespeitar. Então quando você vê duas horas seguidas de alguma coisa no seu horário, fique sabendo que vai ter no máximo, se der sorte, uma hora e meia de aula. Porque tem o quarto d’ora accademico antes, a pausa pro café no meio e a saída antecipada no final. Ainda por cima as primeiras aulas dificilmente são antes das onze da manhã, senão os alunos reclamam que é cedo. Vai gostar de mamata assim na casa do chapéu. Por isso que a Itália não vai pra frente.
..
Hoje assisti à aula de Informatica Generale I com o primeiro ano (perdi as provas no ano passado porque caíram sempre quando eu tava viajando). O professor é novinho, branquiiiiinho, cabelos preto-graúna, com um bico-de-viúva invejável no meio da testa. O coitado até traz o laptop mas rola sempre algum problema com o projetor e ele nunca consegue dar aula direito. Tenho a impressão que ele não tem muita experiência como professor, porque fala muito baixo e pula metade dos slides que mostra, dizendo que não são importantes, além de dizer várias coisas seguidas de “podem até esquecer isso que não tem importância”. Tipo assim, você até pode incluir curiosidades pra deixar a aula mais interessante, mas os alunos devem ter a capacidade de entender o que é importante e o que é floreio, né não. Eu, hein.
Comprei uma bicicleta nova.
A que eu usava antes tinha vários defeitos. O principal era que não é minha, mas do Mirco. Mas também é mountain bike e por isso o quadro é alto, ou seja, nada de saia, não tem cestinha, não tem farol, e o selim é duro. Então passei na loja de um velhinho vesgo famoso em Bastia e escolhi a minha, ontem de manhã. Fiquei de passar pra pegar à tardinha, depois que ele fizesse os ajustes necessários, mas como voltei tarde da faculdade não deu. Hoje a última aula foi transferida pras dez da manhã, então quando voltei larguei o carro na garagem e fui a pé até perto da estação pegar a bici. A bichinha é linda! De alumínio, cinza opaco e preta, selim confortabilíssimo, faróis alimentados a pedaladas, uma cestinha perfeita pra trazer minha compras da Coop, tranca embutida na roda. Vim feliz da vida pra casa, aproveitando que não tava muito frio, e cheguei em casa tão contente e animada que fui fazer ginástica outra vez. Só espero que o frio demore bastante a chegar pra eu poder curtir a magrela nova sem ter que esperar o próximo verão.