murder she wrote

Durante o feriado encontraram uma estudante americana morta na casa onde morava, pertinho do estacionamento onde eu paro o carro quando não consigo ir de ônibus pra Perugia. Do ladinho do prédio principal da Università per Stranieri, o Palazzo Gallenga. Meus colegas de turma nem sabem direito onde fica porque depois da reforma dos outros prédios praticamente todas nossas aulas foram transferidas pros novos edifícios. Mas eu estudei no Gallenga em 2002 e conheço bem a área; a casa da garota é visível do estacionamento.

Ela estudava Letras na outra universidade de Perugia, mas como quem pensa em estudante, estrangeiro e Perugia imediatamente pensa na minha faculdade, o clima anda muito estranho. Os acusados são a roomate americana da vítima, seu namorado italiano e um rapaz do Congo, muito conhecido na cidade por trabalhar como RP de muitas boates e pubs. Parece que as provas científicas são definitivas, embora esteja rolando uma história de álibis de ferro. O caso é que ela foi degolada. Degolada. A hipótese inicial é que ela teria se recusado a participar de uma noite de sexo, álcool e drogas, e por isso foi morta.

E daí que logicamente não se fala de outra coisa na cidade inteira, e em todo o país o comentário é como Perugia virou uma cidade invivível, cheia de estudantes idiotas que passam o dia bêbados coçando o saco e degolando colegas. Eu não moro em Perugia nem nunca morei, mas meus colegas dizem que não mudou nada nos últimos anos: a cidade sempre foi recheada de estudantes universitários, que realmente bebem muito como em toda cidade universitária, e os imigrantes não-estudantes não moram no centro e normalmente não têm carro, então de maneira geral não freqüentam o centro histórico. Quando vamos a Perugia à noite a cidade tá sempre entupida de jovens que ficam subindo e descendo a rua principal, como em toda cidade do interior que não oferece nada de melhor pra fazer. Eu não tenho medo de andar no centro à noite sozinha, embora haja vielas escuras que todo mundo evita – e, segundo dizem, sempre evitou. Então realmente não sei se a coisa tá pior ou melhor do que há dez ou vinte anos atrás. Mas o incidente foi muito desagradável, e logicamente a minha faculdade espera uma certa queda no número de inscrições pros próximos cursos de italiano pra estrangeiros.

os livros

1. Papel Manteiga (Cristiane Lisbôa)
2. The Funny Farm (Jackie Moffat)
3. O Dom da Amizade (Colin Duriez)
4. Istanbul (Orhan Pamuk)
5. The Extended Phenotype (R. Dawkins)
6. A Spot of Bother (Mark Haddon)
7. The Turn of the Screw (H. James)
8. Luuanda (José Luandino Vieira)
9. A Distância Entre Nós
10. The Historian (E. Kostova)
11. Inchiesta su Gesù (Corrado Augias + Mauro Pesce)
12. Ti Prendo e Ti Porto Via (N. Ammaniti)
13. Alentejo Blue (Monica Ali)
14. Love Over Scotland (Alexander McCall Smith)
15. La Pista di Sabbia (Andrea Camilleri)
16. Harry Potter and the Deathly Hollows
17. A Year in the Merde (Stephen Clarke)
18. Quando la Rucola Non C’Era (Enrico Vaime)
19. The God Delusion (R. Dawkins)
20. Collapse (Jared Diamond)
21. Fragile Things (Neil Gaiman)
22. Special Topics on Calamity Physics (Marisha Pessl)
23. Thinner (Stephen King)
24. El Club Dumas (Arturo Perez-Reverte)
25. Lord of the Flies (William Golding)
26. Neverending Story (Michael Ende)
27. The Comfort of Strangers (Ian McEwan)

A lista não inclui os livros da faculdade.

un problema non indifferente

A Itália tem poucos imigrantes, quando comparada com a França, a Alemanha, a Áustria. Desses poucos que tem, mais poucos ainda são pretos, ao contrário de França e Inglaterra: como a Itália não tem ex-colônias, os imigrantes que chegam aqui não vêm por afinidade com a língua ou costumes, como “efeito rebote” do período colonial, por acordos entre países. Vêm porque basta atravessar o Mediterrâneo de barquinho – as ilhas menores da Sicília, como Lampedusa, estão praticamente na África. Então temos muitos marroquinos, alguns tunisianos. E muitos albaneses, que chegam do outro lado do mare nostrum.

Os albaneses são problemáticos porque têm sua própria máfia, muito mais cruel do que as italianas. Mas é uma imigração antiga, tanto é que há ilhas lingüísticas no sul do país onde falam-se dialetos albaneses há muitos séculos. Quase todos trabalham como peões de obra.

Os marroquinos são problemáticos porque seu muçulmanismo é atrasadíssimo, porque não aprendem nunca a falar italiano, porque as mulheres não trabalham, porque mandam todo o salário pro Marrocos pra sustentar as famílias que não trabalham e nunca têm dinheiro pra nada, porque cheiram mal, porque compram as carteiras de motorista, porque não têm seguro do carro e se se metem em acidente, é impossível tirar nenhuma indenização deles porque não têm nenhum bem em seu próprio nome, nunca. Marroquinos e tunisianos às vezes se envolvem em tráfico de drogas, nas grandes cidades. Mas nos pequenos centros são só chatinhos e normalmente não se metem em confusão.

Os romenos não. Os romenos são um problema MUITO sério. Sempre foram, mas depois que a Romênia entrou na Comunidade Européia a coisa piorou a olhos vistos. Vêm todos pra Itália porque a língua é fácil de aprender pra eles, e com o novo oba-oba da CE a Bota está entupida deles. Não estou falando dos ciganos, que até os romenos mesmo desprezam, mas de romenos-romenos. Estão no topo das listas de crimes cometidos por estrangeiros, são os estrangeiros mais numerosos nas prisões italianas, são os reis da clonação de cartão de crédito e de picaretagens generalizadas. A maioria das prostitutas estrangeiras é de nacionalidade romena – algumas porque forçadas a se prostituir pelos romenos que as trouxeram pra cá, outras por falta de oportunidade. Eu só conheço 4: minha ex-faxineira, que parecia ótima até o dia em que o Mirco chegou em casa mais cedo e a encontrou com uma amiga fazendo a faxina (ora bolas, você tem a chave da minha casa, tem a minha confiança, sempre te paguei em dia, o mínimo que você pode fazer é perguntar antes se tem problema botar alguém que não conheço dentro de casa); a mulher de um amigo do Mirco, que é ligeiramente antipática; a garota que trabalhou comigo lá na agência e seu marido, que “roubou” a senha da esposa e entrou no site pra roubar tradutores e clientes. Eu sabia da história mas não o conhecia; o vi pela primeira vez no jantar de aniversário da Kate, mês passado, e a impressão foi a pior possível e imaginável. Sabe O cafajeste, o picareta por definição? E mal educado, fazendo cara de nojo quando chegavam os pratos, perguntando o que era “aquilo” na hora da sobremesa – uma coisa marrom com cheiro de chocolate, do que será que é feita, hein? Ainda por cima é supermachista e não quer que a mulher trabalhe nem saia sozinha. Ia sempre pegá-la no trabalho de carro, em vez de deixar que ela pegasse o trem com a Patrizia, que ia pro mesmo lugar. Pior: há anos não trabalha, vive de vender bolsas falsificadas e máquinas fotográficas de origem duvidosa no ebay. Hmmmmm. Então vocês vejam que apesar da amostra muito pequena, estatisticamente a coisa tá ruim pro lado deles, no meu score particular.

Essa semana um romeno matou uma mulher numa periferia de Roma. Escândalo, escândalo, só se fala disso. A direita, lógico, já tá enchendo o saco botando a culpa no governo porque “deixa entrar todo mundo”. Mas se os romenos agora são cidadãos europeus, não há como controlar a imigração, oras. Pede-se cooperação com o governo romeno, mas pra fazer o quê? Pra convencer seus cidadãos a não migrar? A se comportar direitinho?

Há algumas semanas falou-se do assunto em Terra!, um programa documentário bem feitinho que passa tarde da noite e só às vezes tenho forças pra assistir. Descobrimos que Bucareste é uma das cidades européias com menor índice de criminalidade, como testemunharam alguns italianos que vivem e trabalham lá. Ou seja, o maior produto de exportação da Romênia pra Itália são os filhos da puta. Legal, né.

Pra ninguém vir dizer que eu sou racista, preconceituosa et al., vejam aqui que não são só os italianos que sofrem com o Problema Romeno.

El Club Dumas

Liana Taillefer decidió concederle algo más de interés; las acciones Corso experimentaban una nueva subida, moderada, en la bolsa local. Se quitó las gafas para limpiarlas con el pañuelo arrugado. Sin ellas su aspecto era más vulnerable, y lo sabía de sobra. Todo el mundo experimentaba la necesidad de ayudarle a cruzar la calle cuando entornaba los ojos como un conejito miope.

– Ése es su trabajo? – preguntó ela -. ¿Autentificar manuscritos?

Hizo un vago gesto afirmativo. La viuda estaba un poco desenfocada ante sus ojos, insólitamente más próxima.

– A veces. También busco libros raros, grabados y cosas por el estilo. Cobro por ello.

– ¿Cuánto cobra?

– Depende – se puso las gafas, y los contornos de la mujer se perfilaron de nuevo, nítidos, en su retina-. A veces mucho y otras poco; el mercado tiente sus altibajos.

– Una especie de detective, ¿no? – aventuró ella, en tono divertido -. Un detective de libros.

Era el momento de sonreír. Lo hizo mostrando los incisivos, con una modestia calculada al milímetro. Adóptenme en el acto, decía son sonrisa.

El Club Dumas, Arturo Pérez-Reverte

uni, de novo

Previsivelmente, a faculdade anda muito divertida.

Antes eu era só A Velha da Turma, e ninguém nem sentava na mesma fileira que eu. Eu tinha falado brevemente com algumas meninas durante as provas, mas aparentemente tenho uma cara muito nondescript e ninguém se lembrava de mim. Então foi começar do zero. Aos poucos começaram a me cumprimentar, outros perguntavam se eu tinha me inscrito diretamente no segundo ano (Ahn… Não… Até porque não é possível), alguns me viam trabalhando com o laptop e perguntavam diretamente o que diabos eu tava fazendo ali. Na última aula da segunda semana uma outra estrangeira, com cara de russa, bonitona, veio perguntar umas coisas de Diritto Internazionale que ela não tinha entendido bem, e outra garota, da província de Latina e com um corte de cabelo abominável veio tirar dúvidas de espanhol. Semana passada fiz amizade com a tal russa, que é lituana e se chama Indre, e com a Outra Velha, Alessandra. Só que a situação da Alessandra é a seguinte: ela tá na faculdade há seis anos, e ainda faltam 10 “provas” (equivalente a dez matérias; aqui ninguém mede curso em termos de tempo, mas de número de provas). Aqui não existe ser jubilado, então neguinho fica se arrastando com matérias “fuori corso” (pendentes dos anos anteriores) por anos a fio. Eu estou com três fuori corso, uma porque o livro era horrível e não consegui estudar, outra porque estava viajando nas duas chamadas, e outra, Politica Economica, porque sem ir às aulas é impossível pra mim. Mas cacetes estrelados, eu trabalhava, não assisti a aula nenhuma, tenho casa e marido pra tomar conta e não tenho pressa de me formar – minha colegas não têm nenhuma dessas desculpas, e mesmo assim muitas ficaram com matérias penduradas. Acho estranhíssimo.

O professor de Linguistica Generale é realmente confuso, e continua fazendo os barulhos estranhos com a boca. A de espanhol fica pau da vida porque neguinho não cala a boca na aula dela. O de Relazioni Internazionali, o pitéu, dá uma aula ótima, apesar de nunca se preparar e ter que ficar lendo algumas anotações suas em cartões de visita, bilhetes de ônibus, marcadores de livros. O de Diritto Internazionale é meio biruta e tendencialmente confuso, descabelado, amarrotado, mas repete tudo tantas vezes que todo mundo entende. E estou achando interessantíssima a matéria. Semana que vem começa Diritto dell’Integrazione Europea, e em janeiro volta Linguistica Italiana II. Por enquanto estou achando tudo ótimo, inclusive esse esquema de levar o laptop pra faculdade e poder trabalhar no intervalo entre as aulas. Pena que, estando na Itália e não na Suécia, não tem wi-fi na universidade…

um dia Fernanda

(Essa Fernanda aqui, ó.)

Estou eu sentadinha no ponto de ônibus em Ponte San Giovanni, esperando o 4 pra Piazza Partigiani, quando passa um homem com uma roupa fresquinha de lavanderia pendurada num cabide, com um papel escrito Marcacci (um sobrenome comum aqui na zona) alfinetado, e um escovão daqueles de limpar privada, azul-marinho, na outra mão. O cara pára na minha frente e trava-se o seguinte diálogo:

– Qual é o seu nome, qual é o seu nome?

– Hein?

– Qual é o seu nome, qual é o seu nome?

– Pra que você quer saber?

– Qual é o seu nome?

– Maria.

– De onde, de onde?

– Egito. (não me perguntem no que eu estava pensando, porque eu não sei)

– Você é do Egito?

– Sou.

– Mora em Perugia, mora em Perugia?

– Não.

– Onde você mora, onde você mora?

– Em Foligno.

– Mora em Foligno?

– Moro.

– O que você faz em Perugia, o que você faz em Perugia?

– Estudo.

– Estuda o quê, estuda o quê?

– Medicina. (imaginação zero)

– Estuda medicina, estuda medicina?

– É.

– E vive de quê, vive de quê?

– Trabalho, ué.

– Trabalha em quê, trabalha em quê?

– Em uma loja.

– Em Perugia?

– Em Foligno.

O homem vai embora. Dá meia-volta e recomeça:

– Trabalha em Foligno?

– É.

– Em uma loja?

– É.

– Loja de quê?

– Uma loja, ué.

– De roupa, de roupa?

– Não.

– Loja de quê?

– É uma loja, que diferença faz?

– Loja de roupa?

– Nã-ooooooooo!

– Você é do Egito?

– Sou.

Deu as costas e foi-se. Fiquei lá parada com cara de o que foi isso, jesus?.

Subi no ônibus, sentei e dois pontos depois, na estação de trem, sobe o Fedorentão. O Fedorentão é um velho sujo com bafo de cana que volta e meia pega os ônibus em Ponte San Giovanni, normalmente descendo uns dois pontos depois de onde subiu. Hoje tava com vontade de falar: quando eu ofereci meu lugar pra sentar ele começou a contar, pro motorista mas naquele tom de voz altíssimo dos italianos, que não podia sentar porque depois não levantava, desde que foi atropelado e machucou a coluna. Perguntou ao motorista se achava que ele conseguiria ganhar uma grana de indenização, e começou a dizer que se ganhasse beberia até cair e ficaria “fora do ar” por quinze dias. E completou, como se fosse necessário: eu sou um grande bebedor de cerveja, sabe. Dois pontos depois desceu, carregando uma montanha de sacolas de plástico (pobre adora sacola, né), uma das quais meio transparante, revelando meia forma de queijo de ovelha dentro.

**

E como bizarrice nunca vem sozinha: quem acredita em deus diz que o cara é pai mas não é padastro. Eu digo que a vida dá voltas. Lembram que aquela cretina, piranha, vulgar, escrota, filha da puta, metida, horrorosa, cafona, cara-de-pobre da Suely Maria, ex-vizinha, roubou um documento meu? Foi aos correios com o papelzinho que o carteiro deixa quando não encontra ninguém em casa, assinou o recibo e pegou meu documento. Adivinhem o que eu achei no meu escaninho hoje? Um recibo endereçado a ela, entregue aqui por acaso. Explico: quando nos mudamos ativamos o serviço Seguimi (Siga-me) dos correios, que por um ano inteiro desvia cartas entregues no seu endereço velho pro seu endereço novo. Enquanto banco, sistema de saúde etc não atualizam o endereço, continuam mandando cartas pra Cipresso, mas os correios entregam aqui. O que deve ter acontecido é que a cretina da carteira, acostumada a desviar cartas de uma estrangeira (eu) do endereço de Cipresso pra cá, nem olhou direito o nome no envelope: é estrangeira, então é aquela de XXV Aprile (eu), mando pra lá.

Aceito sugestões sobre o que fazer com o recibo, que espero com muito, muito ardor que seja uma coisa muito, muito, MUITO importante, cuja cor ela jamais irá ver, logicamente. Estou pensando em voodoo, quê que vocês acham?

uni

Infelizmente tem coisa chata também: vou ter que refazer Politica Economica, porque é a clássica matéria que não tem como estudar sozinha sendo retardada matemática que nem eu. Quando entrei na sala os calouros ficaram todos me olhando, tipo quem é essa velha, hohoho. Anotei várias coisas mas não entendi nada. Minha relação com gráficos cartesianos é no mínimo turbulenta, mas pelo menos é recíproca: odiamo-nos.

Terminamos o dia com o professor do barulho com a boca, que confundiu a cabeça de todo mundo enquanto explicava coisas que, suspeito, não devem ser tão complicadas assim. Ainda não vi a cara do livro, mas depois de ver as transparências do homem decidi que vou ler umas páginas antes de comprar, porque a probabilidade de ser confuso como ele é muito alta. Veremos.

Hoje fiz amizade com o porteiro do Lupattelli (um dos prédios onde temos aula). Sabe o típico cara chatinho, não chatinho porque incomoda, mas bobinho? É ele. O clássico chatinho que sabe o nome de todo mundo, a turma, em que ano está, com quem namora, que carro dirige, de onde é, que nota tirou na última prova. Faz piadas amarelas e tem dentes horríveis mas é inofensivo. Pelo menos me sinto menos sozinha – esse ano ando muito antisocial e não tenho muita vontade de bater papo furado e explicar a minha situação nada average pra vinte garotas de 20 anos que só pensam em Dolce & Gabbana, sabe. Só que quando não levo o laptop e rola algum buraco inesperado não tenho ninguém com quem falar. Vejam bem, eu não quero conversar, fico feliz da vida lendo El Club Dumas em espanhol, mas gostaria de PODER conversar se me der vontade. Entra Simone, o porteiro. Por enquanto tá de bom tamanho.

español

Acabou que a aula de espanhol não vai ser de espanhol. Quer dizer, tem uma parte de língua também, mas a prova vai ser sobre a Guerra Civil espanhola, ou seja, outros 500. Já encomendei o livro em espanhol na minha livraria, e estou adorando a idéia de aprender sobre um episódio histórico do qual não sei absolutamente nada. A professora é jovem, magrinha e bonitona, fala muito claramente e tem toda pinta de que explica bem. Bom começo! : )

E hoje cheguei em casa num estado de agitação ímpar. Porque tivemos aula de Relazioni Internazionali com o professor bonitão que deu Comunicazione Politica ano passado, e depois Linguistica Generale. O professor faz uns barulhos estranhos com a boca, limpa a garganta e tem dentes horríveis, além de ser muito confuso, mas o programa é interessantérrimo, fiquei doidinha de felicidade só de ver as coisas que vou aprender. Saí da faculdade correndo pra encomendar os livros, um em italiano e um em inglês – esse último eu procurei na Borders em Las Vegas mas me disseram que só tem em livrarias especializadas em material universitário. Blé. Estou doida pra começar logo a estudar. Tá todo mundo desesperado porque além de ter 9 créditos a matéria tem fama de ser muito complicada (desconfio que é o professor que complica, mas enfim) e a prova, muito difícil. Vamos ver… Confio no meu taco lingüístico, e ainda por cima tem fonética e fonologia no programa, que já estudei durante o curso de italiano em 2002 e ainda lembro tudinho, então pode ser que não seja tão difícil quanto dizem. Mas time will tell.

uni

A prova de Marketing foi na quarta. Eu tinha lido o livro quase inteiro só uma vez (ficou faltando a última parte, sobre distribuição do produto), e achei muito interessante – os exemplos são ótimos e a cara do livro é legal, sabe, a gráfica e tal. Lá fui eu pra prova.

Normalmente a última chamada não tem muito aluno, principalmente se não é uma matéria cascuda com professor carrasco, porque a maioria tenta se livrar logo das matérias com mais créditos (Marketing tem 6). Cheguei no prédio novo onde temos aulas agora e sentei pra dar uma lida na revisão que o livro dá no final de cada capítulo. Pouquíssima gente na sala, pensei, show, vou fazer logo e ir embora – quando eu me inscrevi na prova ganhei o número 15, mas sempre tem gente que não aparece. Dez minutos antes do horário da prova começa a entrar uma cabeçada fenomenal na sala, mas muita, muita gente mesmo. Caraca! O professor chegou logo depois, olhou pra turma e falou:

– Cazzo, quanta gente.

O lance é que o pessoal de TEP (Tecnica Publicitaria) também faz Marketing, e o professor, não imaginando que ia ter aquela gente toda, não marcou dias diferentes pra COMINT (Comunicazione Internazionale) e TEP, e todo mundo apareceu junto, entupindo a sala. Por sorte ele mandou o pessoal de TEP dar uma voltinha e voltar depois do almoço, e quando começou a fazer a chamada vi que ia ser a quinta ou sexta, em vez da décima-quinta. Beleza. Vão as primeiras meninas, e logo notamos, eu e a garota que tava na minha frente, que conheci na prova de Comunicazione Politica, que o professor assistente fazia doze mil, novecentas e quatorze perguntas, enquanto que o professor titular estava reclinado na cadeira, com as mãos atrás da cabeça, falando mais do que ouvindo. Pensei logo, do jeito que eu sou cagada vou cair com o assistente filho da puta que vai perguntar um monte de siglas idiotas cujo significado não lembro, em vez de me fazer raciocinar. Pensando no quão humilhante seria levar bomba de um professor mais jovem que eu, com gravata de nó gigante e calça de perna justa, ainda por cima, nem acreditei quando a garota que tava com o professor titular levantou, pegou o boletim e se mandou. Me aboletei imediatamente na cadeira, dei bom dia e começou.

– Por que tanto sobrenome?

– Porque blah blah blah.

– De onde você é?

– Brasil.

– Ah, esses nomes compridos… Só brasileiro e espanhol mesmo. Gostou do livro?

– Gostei. Eu não trabalho com marketing e nem pretendo, mas gosto quando alguém me faz ver as coisas de um jeito diferente. Quando eu fiz um curso de roteiro cinematográfico passei a ver os filmes de um outro ponto de vista. Depois desse livro vejo as propagandas de um jeito diferente.

– Eu acho que vou trocar o livro ano que vem… Só tem exemplo de empresas americanas, pros italianos fica meio abstrato.

– Eu gostei. Talvez porque eu ensino inglês e leio muito em inglês também, então tenho uma certa familiaridade com o estilo de vida. Pra mim tudo fez muito sentido.

*Chegando mais perto*
– Ah, ensina inglês, é… Faz traduções também?

– Aham.

– Vem cá… Eu falo inglês direitinho, viajo muito e tal, mas quando escrevo um paper gostaria que alguém desse uma olhada antes de publicar ou mandar… Quanto custa uma revisão, por lauda?

– Normalmente revisão custa por hora e não por lauda.

– Por quê?

– Porque é um porre, e se o texto for mal escrito dá mais trabalho revisar do que traduzir do zero.

– Interessante… Então você é formada em línguas?

– Hm, bem… Não exatamente.

– Em quê então?

*baixinho*
– Em Medicina.

*cruzando os braços e se reclinando ainda mais na cadeira*
– Não entendi nada, explica.

– Olha, é uma história muito complicada, melhor pular.

– Um dia você me conta então.

– Tá.

– Escuta… Fala um pouco do processo de pricing.

– Pô, é chatão…

– Depois eu faço outra pergunta legal.

Falei, mas realmente é uma parte que eu detesto e não soube explicar direito um dos métodos de definição de preço.

– De qual capítulo você gostou mais?

– Marketing internacional.

– Não tava no programa.

– Não sabia, eu não venho às aulas, estudei o livro todo.

– Não tem problema, fala aí.

Falei. Ele ficou me olhando, pegou meu boletim e escreveu ventisei/30, crediti: 6, assinou e me mandou embora.

**

Na sexta fui pra faculdade de manhã. Não tinha conseguido estudar porque o livro era chatéeeeeerrimo, daqueles que falam, falam, falam e não dizem nada. O outro livro do programa era sobre a história da televisão e da mudança dos meios de comunicação até chegar à TV, era interessante. Mas o da outra professora, socorro! Não consegui passar do segundo capítulo. Li, reli, trili e não entendia aonde o cara tava querendo chegar. Então quando botei o pé na faculdade me deu uma crise de cold feet, dei meia-volta e peguei o ônibus pra Ponte San Giovanni, onde estaciono o carro quando vou a Perugia. Ainda deu tempo de almoçar em casa com o Mirco. Fiquei meio pau da vida comigo mesma, porque eram 9 créditos, mas cara, sem anotações da aula já vi que essa matéria não rola. Vai ficar pro próximo semestre.

**

Hoje recomeçam as aulas. Segunda só tem uma hora, espanhol, que eu obviamente não vou assistir porque não tem sentido me deslocar até Perugia pra uma hora de aula de língua estrangeira com mil pessoas na sala. Hoje vou porque antes tenho que passar em uma escola de línguas que me contatou pra um curso pra polícia em janeiro, e depois tenho consulta com o médico da companhia de seguros, pro lance da batida que levei no dia do casamento. Amanhã tem um monte de aula e vou ficar o dia inteiro na faculdade.

Ainda não descobri se a faculdade é wireless, e duvido que seja, mas de qualquer maneira já me deram trabalho pra semana inteira hoje de manhã e posso perfeitamente trabalhar na biblioteca com o laptop entre uma aula e outra. Também já arrumei uma aluna particular três vezes por semana, mulher de um ex-aluno que eu adorava. E tem mais aluno na fila, todo mundo esperando meu horário na faculdade se definir (porque aula chata eu não assisto, lógico). Devagarzinho a graninha vai entrando, cês vão ver.