desfile de alunos, parte iv

Tem o Arquiteto Zen. É aquele que achou um cachorro no meio da roça e o levou pra escola, lembram. Mora numa casona gigante na roça, em Bevagna, perto de Foligno, e tem vaca, cabrito, porco, vários cavalos e bichos mil. A pick-up dele tem até holofote no teto, pra quando precisa catar algum bicho perdido no meio do mato à noite. Ele usa pulseira de couro e já foi à Índia.

Outro dia tivemos uma aula interessantíssima sobre os Arquitetos sem Fronteira, que logicamente eu nem sabia que existiam. Um amigo dele está na Tailândia ajudando a reconstruir as cidades varridas pelo tsunami e dali a conversa descambou pro verdadeiro “espírito” da arquitetura, o conceito de casa como lugar protegido, “pra chamar de seu”, e coisa e tal. Aprendi muito e ele foi ficando cada vez mais empolgado. Ele também fala inglês direitinho, se esforça muito, fica puto quando erra (sinal claro de interesse), mas tem um problema: é de Milão, e fala alemão, então às vezes confunde tudo. Não comete os erros clássicos dos italianos, tipo não conseguir pronunciar o som /h/, pronunciar hair como é-ir, dizer pérformance e ôtel, etc, mas em compensação não consegue pronunciar o som /s/. Então ele fala zo em vez de so, zome em vez de some, e por aí vai. Eu acho divertido e dou muita risada, mas ele fica puto.

desfile de alunos, parte iii

Tem o vendedor de equipamentos pra fazer sorvete, doravante chamado Vendedor Sobrancelhudo.

Vendedor Sobrancelhudo fazia aula em grupo, comigo, às segundas e quartas à noite. Terminado o curso, ele quis dicas de onde ir pra aprender inglês no exterior. Sugeri a Nova Zelândia e ele foi, e depois que voltou resolveu ter aulas sozinho comigo pra se preparar pro FCE. É o clássico tipo mediterrâneo, pele bronzeada, cabelos muito escuros, e enormes sobrancelhas pretas – rigorosamente feitas. Sempre cheiroso e bem vestido, é o clássico vendedor que te ganha na simpatia e não com picaretagens.

Ele também é empolgado, mas é menos burrinho. Aliás, não é burrinho, mas não tem muito jeito pra línguas. Só que pergunta TUDO, porque quem não tem hábito de leitura dificilmente consegue extrapolar ou deduzir significados a partir do contexto. É impressionante como a falta de leitura elimina completamente a imaginação.

Eu gosto do Sobrancelhudo, ele é simpático. Mas passo a aula toda com vontade de rir porque ele dá aqueles olhares 43 de vendedor, piscadinhas de olho, sorrisos flamejantes, e eu acho engraçadíssimo. Um dia não consegui me conter e caí na risada. Ainda bem que ele não entendeu.

desfile de alunos, parte ii

Tem o Hominho Empolgado, às segundas e quartas.

Hominho Empolgado é baixinho, com os braços compridos demais, todo bombadinho de malhação, careca e empolgadíssimo. Sua empolgação é proporcional à sua não-inteligência. Quando acerta alguma coisa, o que é muito raro, dá um soquinho no ar tipo Pelé ou então bate no peito à la King Kong. Outro dia fiz uma aula quase toda de drill com ele, e errou tudo. Dá vontade de chorar.

H.E. é um amor, mas é tão chatinho… Trinta anos e ainda mora com mâmi, ainda freqüenta discoteca, ainda sonha com carro alemão, etc. Outro dia a aula sobre Present Simple no interrogativo tinha um diálogo entre uma mulher descolada e um “salame”. Ela perguntava se ele gostava de sushi, ele falava que não. Ela perguntava o que ele gostava de comer, ele respondia que normalmente comia em casa porque a mãe cozinhava bem. Ela perguntou se ele morava com a mãe, ele falou que sim e ela respondeu “Oh.”.

No final do diálogo H.E. ficou calado e mudou de assunto.

desfile de alunos, parte i

Ando com uma certa fauna de alunos ultimamente, e gostaria de compartilhar essas estranhezas com vocês.

Hoje apresento-lhes o Piloto do Moletom.

O Piloto do Moletom é um altão interessante, embora não seja o meu tipo. Trabalhou como comissário de bordo e hoje é co-piloto de vôos chumbregas da Alitalia. Fala até bem inglês, mas, caramba, o cara só vem pra aula de moletom, e todos são HORROROSOS. Não repete quase nunca; cada semana tem um moletom diferente, mas sempre, sempre, SEMPRE horrendo.

Mas o pior de tudo é a falta de imaginação/abstração, típica da população do interior do Zaire. Outro dia a lição do livro falava de senso de humor, e tinha um texto do Bill Bryson falando da diferença entre o humor britânico, irônico, e o americano, tendendo pro infantil. Terminava com um encontro do autor com um taxista colega de ironia. Ele entrou no táxi e perguntou:

“Are you free?”

Ao que o taxista respondeu, com sorriso maroto:

“No, I charge just like everybody else.”

O Piloto do Moletom não entendeu. Nem depois da punchline, e nem depois que eu expliquei. Tudo bem não achar graça, até porque piada que tem que ser explicada não é mais engraçada, mas ele não entendeu mesmo. Levou tipo meia hora pra sacar que free nesse caso significava grátis. Cacetes estrelados! E olha que não é burro! No final da aula olhou pra mim e disse: meu dever de casa então vai ser desenvolver um senso de humor.

Boa sorte, darling.

ninguém perguntou, mas eu respondo do mesmo jeito

What to Wear: O que couber.
What NOT to Wear: O que não couber.
What to Shoe: Sapato boneca confortável, botas de cano alto, sapatilhas.
What to Bag: Ixi… Uma bolsa carteiro ó-ti-ma da Uncle K, ou a marrom que comprei na Patagônia, ou a carteiro fininha da Fernanda Chies, ou a mochila preta da Animale, ou a baguette jeans da Animale, ou a de avestruz que não lembro mais onde comprei, ou a…
What to Denim: Meus jeans não cabem em mim há anos. Não é tão ruim assim, sempre achei jeans a coisa mais desconfortável do planeta: quentíssimos no verão e gelados no inverno, pesados e limitadores de movimento.
What to E-Bay: Nada.
What to Tee: Camiseta, só pra fazer ginástica.
What to Accessory: No inverno, o de sempre: boinas, cachecóis, luvas. No verão, pouco, no máximo um lencinho no pescoço.
What to Bargain: Nada, não tenho vocação pra pechinchar. Essa parte genética não sobreviveu à passagem do meu bisavô sírio até mim.
What to Jewelry: Adoro. Alterno períodos ouro e períodos prata. Adoro particularmente brincos e pulseiras.
What to Makeup: Lápis e rímel, sempre.
What to Fragrance: Quando não esqueço, Acqua di Giò. No inverno, Allüre de Chanel.
What to Hair: Um verdadeiro arsenal. E nunca, NUN-CA, fica do jeito que eu quero.
What to TV: Lost, CSI, ultimamente Distretto di Polizia.
What to Listen: Marisa Monte, Sexto Círculo.
What to Read: No momento, The Selfish Gene, de Richard Dawkins.
What to Eat: Massa, pão, qualquer coisa com queijo e presunto, iogurte.
What to Drink: Água e as duas melhores bebidas do mundo: suco de laranja e leite com achocolatado em pó. Em restaurantes, vinho.

amenidades

Freqüentando a IKEA e com cunhada na Holanda, aprendi um jeito novo de usar roupa de cama.

Nos países nórdicos, aparentemente, como os edredons são usados praticamente o ano inteiro, neguinho bolou uma espécie de fronha pra eles. Não se usa lençol de cobrir. Assim você lava só a “fronha” e não precisa lavar a bosta do edredom, operação chatíssima e complicada se você tem uma máquina de lavar de grande capacidade em casa, e chata e cara se você tem que levar pra uma lavanderia, como eu.

Como eu sou brasileira chata e paranóica, acho estranho dormir diretamente em contato com o edredonm, enfronhado ou não, e prefiro adicionar uma barreira extra anti-sujeira, e mantenho o lençol de cobrir. Mas não é uma idéia ótima esse da fronha de edredom? A maldita IKEA tem cada uma linda, brancas bordadas, coloridonas, psicodélicas. Compramos um conjunto verde-musgo na última vez em que fomos lá, pra testar o sistema, e estou adorando. Primeiro porque o verde-musgo é muito mais bonito do que a hedionda cor carmim do meu edredom, e segundo porque agora já fiquei craque em “vestir” o menino e estou achando tudo muito prático. A próxima vez que voltarmos lá vai ter mais.

papai noel

Imitando a Ane, porque idéia boa tem mais é que ser copiada, também estou pedindo presente de Natal.

Mas peço pra outra minoria discriminada e sofrida: os bichos. Porque eu vomito quando vejo e choro quando penso em bicho sofrendo. Criança também tem o mesmo efeito, lógico, mas acho que bichos são mais desamparados.

Então fica o pedido: quem puder, doe alguma coisa, qualquer coisa, à SUIPA.

Depósito nas contas correntes da SUIPA:
Banco: Banco do Brasil
Agência: 1211-4
Conta Corrente: 404.815-6
———————————————————
Banco: Itaú
Agência: 0584
Conta Corrente: 25.340-5

***

Leguinho vos beija e agradece.

declaração de amor

É lógico que o correio italiano perdeu a corrida pro correio português.

O CD do meu irmão só chegou hoje. E meu queixo quase caiu.

Primeiro porque o design da Carol ficou muito, MUITO, MUITOOOOOOOO foda. Sabe o que é muito? Então, muito. Não vou botar o link aqui porque fui lá ver e tava fora do ar (aloooooou, Carol).

Segundo porque o CD tá muito, MUITO, MUITOOOOOO bão.

Terceiro porque ver coisas fodas, resultado da mente de gente foda, é sempre muito legal. Porque tipo assim, meu irmão é musicalmente foda (além de fraternalmente). Nem sabia juntar sujeito e predicado direito e já fazia letras de música. Tô falando sério, não era coisa de criança que fazia baaaah baaaah buuuh; eram a mesma melodia e as mesmas letras repetidas sempre, ou seja, era música, amiguinhos. Destruiu todas as canetas da casa batucando nas bordas das mesas. O fodismo foi se desenvolvendo e hoje olha lá o menino tocando feito gente grande! Mudou o instrumento, mas o conceito é o mesmo, vocês entendem.

E tem o Werther, que é amigo do Tuco desde os tempos do Pedro Sá. Conheço desde sempre o Vérti. Garoto nota dez.

E Werther encontrou sua significant other, a Carol, que conheci quando já estava morando aqui mas de quem gostei imediatamente. Menina divertida e descolada que ainda por cima está designando como poucas.

O Mano conheço menos porque ele fala pouco, e os os outros meninos da banda eu não conheço, mas se estão lá é porque são fodas também.

E tem o Brunão, lógico, que também é foda.

E então acabei de decidir que meu sonho platônico é nascer de novo, com uma voz muito foda pra cantar no disco de ouro do Sexto Círculo. Pronto.

P.S.: Esse post sentimento-musical vai pra Marina. Queima, desgraçado! ; )