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She was a fat, jolly woman in those days, and she liked to see children pleased and happy around her. In this she was in no way exceptional, in Saint-Féliu or anywhere else, but she was exceptional for Saint-Féliu in that she succeeded – succeeded, that is, in making them pleased and happy when they were with her. It was not that she was clever – far from that. She was rather a stupid woman, and given to long spells of absence, during which she would stare in front of her like a glazed cow, thinking of nothing at all; but by some gift of being she was better at the management of a child than any woman in the quarter. It may have been her plumpness, for fat people are said to be calm of spirit, or it may have been some natural sweetness, but whatever the cause, the house never knew those screaming, tearing scenes that broke out three or four times a day somewhere along the street, those horribly commonplace rows in which a woman, dark with hatred and anger, may be seen dragging a child by the arm, flailing at its head, and screaming, screaming, screaming a great piercing flood of abuse, sarcasm and loathing right into its convulsed and wretched little face. These scenes were so ordinary in Saint-Féliu that anyone turning to stare would be known at once for a foreigner.

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Dominique could not be shocked by what she had seen for all her life – could not react from the normal – but she was exceptional, and she remained exceptional. She did not batter her little girl about, she did not pull her hair, she did not slap her legs and shriek abuse at her – her voice did not even possess the bitter scolding note of the daily shrew. this was something so rare that it would have earned her the dislike of the street (no people are quicker to resent an implied criticism) if it had not been for the fact that Madeleine was, in general, somewhat less irritating than the other children: therefore, of course, there was no virtue in Dominique’s not beating her. Not that Madeleine was what could by any distortion of the term be called a good child, whatever the neighbors might say: she was dirty (when she was a little girl), untruthful, and dishonest. But being less battered, she was less dirty, untruthful, and dishonest than the rest. Certainly she was less irritating, for not only was she endowed with a happy, affectionate nature, but also with a mother who was protected from the smaller vexations of the world by well-ordered nerves and a high degree of mental calm: for in the matter of irritation, it is essential that there whould be two people present; the worst-bred ape of a child cannot be irritating alone in a howling wilderness, and Madeleine, even at the worst, could not provoke a mother removed by a boundless expanse of absence, sitting at her counter or leaning on it, with her eyes round, wide open, and fixed upon nothing, nothing whatever.

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Yes, that would be his Uncle Thomas, called Menjé-Pé, a fanatical fisherman: he was fishing now. He was one of the few in the family who still had a current nick-name, Fish-eater, and who did not mind it: for most of the family the called-names had been left behind a generation ago. But Menjé-Pé was something of a throwback; was it because he always spoke Catalan or was it because he was a simple that they still called him Menjé-Pé? Not the latter, for Uncl Joseph was gaga, and he had no nickname. He was flailing about. Had he caught something? No. In all probability he had just caught up his hook and lead and lost them. Sixty years ago Menjé-Pé had started fishing; he was fourteen then, and he had the zeal and the lack of skill of his age. He still had the same zeal, but somehow he had avoided gaining any skill: he caught nothing but idiot fish.

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‘Oh, you are not going to start your piece of democracy again, are you, Alain? Of course, I know one has to say all kinds of fine things in public, but no one really believes it, do they? Except the lower classes. They are very good people, often, astonishingly good when you consider what kind of lives they lead, bt it is just hypocritical nonsense to pretend that they are not brutish, insensitive, gross, and terribly, terribly limited. There is just as much difference between a man of an educated family that has had money for two or three generations and a laborer as there is between a white man and one of your Hottentots, as anyone knows who has lived or worked among them.’

‘Is Madeleine a Hottentot?’

‘No. But her relations are: and staying here, Xavier would of necessity marry them all. (…)’

The Catalans (Patrick O’Brian).

argh

Se tem uma raça que eu detesto é vendedor.

Veja bem, o problema não é quem vende como profissão, mas quem se comporta como vendedor 24 horas por dia. C., a pessoa que agora é responsável pelas vendas na escola, é assim. Tem aquela fala tatibitati de quem quer falar com clareza pra te foder melhor, sabe, e fala coisas que obviamente não são verdadeiras, e me dá uma irritação tremenda só em escutá-la. Lógico que a coisa piora quando ela está efetivamente vendendo alguma coisa. Ontem, batendo papo com artificiais animação e gentileza com uma futura aluna em potencial, soltou a seguinte pérola: é que eu sou uma lingüista, sabe, e como lingüista sei que não adianta explicar só gramática, tem que falar também. Hein? Precisa ser lingüista, whatever that is, pra saber disso? E que lingüista é essa que fala “kleb” em vez de “club”? Mas faça-me o favor. De uma pessoa assim eu não compro nem bala Juquinha, imagina um curso de inglês de quase mil euros. Ouvia a garota falando e só pensava no Mirco, que é pior do que eu porque só entra em loja onde não tem vendedor, já que gosta de escolher sozinho. Eu ainda deixo pra lá, agradeço e despacho e acabo escolhendo sozinha, mas com ele não tem papo mesmo.

Mas o melhor foi quando a mãe de um aluno perguntou insistentemente onde estava a Simona, que pediu demissão semana passada – foi totalmente mobbed out, mas tudo bem – porque não agüentava mais o clima maléfico lá dentro. C. ficou sem saber o que responder, ainda mais quando a mãe do aluno disse que era uma pena, porque Simona era tão legal… E eu me segurando pra não rir, séria no meu computador, fingindo que não estava ouvindo. Ah, essas pequenas alegrias que a vida te dá…

na bota

Rapaz, a coisa aqui na Bota ferve. Depois que subiu ao poder a esquerda anda fazendo coisas estranhas (rings a bell?), tipo soltar prisioneiros etc. Agora resolveram tomar vergonha na cara e fazer uma faxina fiscal, aumentando os impostos de quem ganha muito e abaixando os de quem ganha pouco. Até aí tudo bem, concordo plenamente que quem ganha mais tem que pagar mais mesmo, mas o problema é que esses impostos depois não dão retorno ao cidadão (rings a bell?). O sistema de saúde é lento, as escolas são uma merda, o consumidor praticamente não tem direitos, a televisão é uma merda, embora seja a pagamento. Tenho um comentário positivo a fazer: estão implementando uma supertaxa pra quem tem SUV, além do “bollo”, equivalente ao nosso IPVA. Ora bolas, SUV nesse país não tem razão de existir, atrapalha o trânsito, ocupa vaga dos outros, consome combustível demais, e se você tem 50.000 euros pra comprar um SUV da Audi e mais outros tantos pra encher o tanque 8.0 de gasolina, então tem mais é que pagar supertaxa mesmo. Eu, hein.

O problema maior é essa maldita liberação dos presos, que não tem o menor sentido. Estão inclusive ameaçando de soltar o Monstro de Foligno, que há alguns anos estuprou e matou dois meninos MUITO pequenos, e que já avisou que se for solto, vai acabar fazendo a mesma coisa de novo. O único do governo que se opõe a essas maluquices é o meu querido Di Pietro, atualmente Ministro delle Infrastrutture, que na minha nada modesta opinião é a única salvação desse país mas jamais vai ser eleito porque não é politiquento, não sabe se vender, não sabe ser contundente quando fala. Me dá uma peninha danada.

De qualquer maneira, entre impostos e monstros o pessoal já começou a se irritar. Hoje tem greve de transportes públicos e no fim de semana vão ser os jornalistas a parar. Êeeeeeeeeee primeiro mundo!

livrinhos

Fin da allora temevo come la peste chi mi chiedeva di versare sangue per purificare la mia anima. Non volevo credere alle valli di lacrime né a quelle di tenebre: ci sono altri posti più affascinanti e meno irragionevoli intorno a noi. Mio padre diceva: “Chi ti racconta ch eesiste una sinfonia più bella del respiro che ti anima, mente. Odia quanto hai di meglio: la possibilità di approfittare di ogni istante della tua vita. Se parti dal principio che il tuo peggior nemico è colui che tenta di seminare l’odio nel tuo cuore, avrai conosciuto metà della felicità. Il resto ti basterà tendere la mano per raccoglierlo. Ricorda: non c’è niente, assolutamente niente, che valga la tua vita… E la tua vita non vale quella degli altri”.

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“Perché?” digrigno i denti, offeso dalle mie stesse parole. “Perché sacrificare gli uni per la felicità degli altri? Di solito sono i migliori, i più coraggiosi che scelgono di donare la propria vita per la salvezza di chi se ne sta rintanato al sicuro. Allora, perché privilegiare il sacrificio di quei giusti per consentire ai meno giusti di sopravvivere? Non trovi che così si deteriori la specie umana? Cosa resterà, tra qualche generazione, se sono sempre i migliori a essere chiamati ad andarsene affinché i vigliacchi, gli ipocriti, i ciarlatani e i farabutti continuino a proliferare come topi?”

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“La vita di un uomo vale molto di più di un sacrificio, per quanto supremo possa essere” confessa sostenendo il mio sguardo. “Perché la più grande, la più giusta, la più nobile delle cause sulla Terra è il diritto alla vita…”

L’Attentatrice, de Yasmina Khadra (nom de plume de Mohammed Moulessehoul).

Aliás, falando em música. Cês sabem que eu detesto música italiana, mas de vez em quando rolam umas coisas legais. Ultimamente tem duas tocando nas rádios de que eu gosto muito. Uma é do Zucchero, que é foda, toca há anos com peixões da música internacional, e tem arranjos fenomenais. A outra é da Gianna Nannini, que só por ter esse nome cheio de enes já me irrita, e que tem um outro defeito grande que é sempre, sempre, sempre arrumar um jeito de gritar nas suas músicas. Mas essa última é muito legal. Não me perguntem o nome porque não sei, porque rádio aqui é que nem no Brasil, os locutores interrompem as músicas e só dizem o nome do cantor ou da canção horas depois, e você fica sem saber o que está ouvindo. Procurem aí porque as duas valem a pena.

O show

Partimos pra Florença depois da dormidinha pós-prandial. Miraculosamente a co-pilota aqui conseguiu guiar o Mirco sem erros até o lungarno (a avenida ao longo do rio Arno) onde paramos o carro com Margareth e mamãe, e novamente conseguimos parar o carro de grátis. Florença tem isso de bom, é uma cidade de dimensões humanas e, não sendo gigantesca, não se leva horas pra atravessá-la. Fomos caminhando pelo lungarno, vendo os africanos que recolhiam suas bolsas Fendi falsas depois de um dia de trabalho, observando os turistas que procuravam seus ônibus coloridos depois de um dia de passeio, invejando os estudantes e velhinhos pedalantes, e viramos na Biblioteca Nazionale. Atravessamos a Piazza Santa Croce e pegamos a Via Verdi. O teatro fica logo ali, na via Ghibellina, e como ainda estava cedo resolvemos comer alguma coisa antes do show. Escolhemos uma micropizzeria de onde víamos o teatro, e nos colocaram em uma micromesa pra dois, espremida entre duas outras micromesas pra dois. À mesa da direita, o clássico casalzinho Mulatinha Brasileira de Cabelinho Esticado e Italiano Branquinho que Fala Português porque o Italiano Dela É Uma Bosta. Ela, grávida, toda boazinha e fofinha, e ele com cara de refinado. Não precisavam ter aberto a boca pra sacar que era brasileira, e ainda adivinhei que era baiana. O aparelho de som tocava uma música lenta, cantada em português por uma voz que não conheço. E até aí tudo bem, estávamos indo pro show da Marisa Monte, normal encontrar brasileiras pelas redondezas. O que eu não esperava era ouvir menções ao português e a outras línguas vindas da mesa à minha esquerda. E antes que encham meu saco me chamando de enxerida, a distância entre as mesas era puramente formal, algo em torno a um dedo, ou seja, eavesdropping era inevitável.

O casal à esquerda era italiano, completamente fora da norma. Ela, acqua e sapone, sem maquiagem, sem cabelo chapinhado tingido de preto graúna, sem cinto com fivelão Dolce e Gabbana, sem salto agulha totalmente inadequado à pavimentação antiga de Florença, sem perfume em concentrações tóxicas – NORMAL. Ele, alto e careca, charmoso, sem sapato pontudo de pele de cobra, sem jeans com a escrita Rich(mond) bordada na bunda, sem camisa rosa justinha com aplique de cristais Swarovski – NORMAL. Ambos com aquele sotaque bolonhês que eu adoro, com aquele S do Billy Idol.

Ouvindo todo esse portuguesismo ao meu redor, começou a me dar aquela comichão puxadora de papo. Mas me comportei e esperei até todo mundo acabar de comer pra começar a bater papo, primeiro com a baianinha calada, que, como eu já imaginava, não tinha absolutamente nada em comum comigo além da cor do passaporte, e depois com a italiana, chamada Marzia, formada em línguas (português, of all things), apaixonada por música brasileira, filha de mãe argentina, simpática, esperta e interessante. O namorado, Marco, não descobrimos o que faz da vida, mas também é simpático. São de Ravenna. A baianinha foi-se embora com o marido pra evitar a muvuca da entrada, mas nós ainda ficamos batendo papo até praticamente a hora do show. No bar ao lado da micropizzeria, um grupo de Piranhas Caça-Gringo daquelas profissionais, de cabelo oxigenado e calça da Gang, falava e ria muito alto, dando uma idéia do que eu estava pra encontrar dentro do teatro. Fomos direto trocar os e-tickets, rigorosamente impressos no lado em branco de fotocópias de exercícios de inglês, e entramos. Tivemos que nos despedir dos meninos (eu implorando pra Marzia não sumir porque preciso de gente normal, por favorrrrrr) porque eles estavam lá atrás e nós mais ou menos na frente, e sentamos.

Eu já conhecia o teatro porque fui ver Momix lá com Riccardo, Valeria e Mikako em 2001, e lembrava que era desconfortável, velho e com uma acústica estranha. Não importa. Sentamos na poltrona apertadíssima e ficamos observando a fauna. Sabe o Congresso Internacional das Empregadinhas? Veja bem, o problema não é ser empregada, que é um trabalho como todos os outros, somente um pouco mais servil e tedioso, mas um trabalho digno e absolutamente normal. O problema é comportar-se como tal. Então tinha um festival de barrigas de fora, grandes e pequenas; camisetas do Brasil, com a bandeira torta ou em cores estranhas; váaaaaaaaarios exemplares de cabelo com Creme para Pentear Sem Enxágüe; muito, muito tecido sintético; muita unha do pé pintada de rosa metálico; muito batom rosa-paquita; e sobretudo muita gente gritando. Também não tenho problemas com homossexuais, mas detesto gente escandalosa, não importa se homem, mulher ou inbetween, e por sorte de bichas desvairadas só vi umas duas. Então fiquei quietinha lá, encolhida na poltrona, meio envergonhada de compartilhar nacionalidade com aqueles selvagens, me abanando com meu livrinho enquanto o Mirco só apontava olha aquela, olha isso, olhaaaaaaaaa.

O show começou com leve atraso, quando as selvagens já estavam gritando Co-me-ça, co-me-ça. Apagam-se as luzes, vemos os músicos que se posicionam, e ela começa a cantar Infinito Particular. Só aquela voz vindo do nada, porque estava tudo escuro ainda; algumas cordas, e aquela voz. A medula espinhal fez brrrrrrrrrrrr. Só quando terminou a música o facho de luz caiu sobre Ela. Sentada na sua plataforma elevada, de saia comprida e botas, tocando violão.

Eu não tenho palavras pro que é essa mulher. Que voz é essaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa?

O violoncelista eu reconheci do concerto que vimos no Municipal ano passado, com a orquestra da Petrobras. Um mulatão com uma cara danada de simpática. Também tinha fagote, violino e outras coisas. Dos CDs novos teve muito pouco, e ela cantou muito dos CDs antigos (só chorei em Dança da Solidão, tá). Conversou com o público em um italiano desnecessário, já que a fauna na platéia era praticamente toda tupiniquim, cantei junto o show inteiro, e fui embora me perguntando por que diabos um povo que é capaz de produzir música assim se veste assim, se comporta assim e vota assim. Caralho (exclamou a princesinha).

A viagem de volta pra casa passou rapidinho.

planta também é gente

Sábado é dia de jardinagem.

Desde que tomei vergonha na cara e defini que sábado é o dia de sair adubando tudo, minhas plantas estão com outra cara. Também aprendi a podar os cravos, ainda que o faça com um aperto no coração. Detesto cortar ou arrancar plantas, mas desde que aprendi a podar os vasos estão cheios, verdinhos, cheios de botões de flor. Levo tipo uma meia hora pra adubar tudo, porque tem o adubo líquido pra piante grasse e o outro pra plantas verdes normais, e meu regador é pequeno, mas é uma coisa que eu adoro fazer.

Então agora a salsinha, que era meio tímida, está cabeludíssima. A majorana que peguei na Arianna e tinha ficado naqueles dois toquinhos por meses agora está tão alta que fica pendurada nas bordas do vaso. O hortelã, por natureza planta danada que dá em tudo que é lugar, inclusive onde não foi convidado, mas que aqui em casa, confinado no vaso pequeno, dava só folhinhas pequenas, agora está folhudíssimo. A sálvia, que não dava flor, foi devidamente podada e está linda. Os dois vasos de alecrim – porque eu amo alecrim e boto em tu-do que é comida – também estão grandes e fortes. O aipo que Arianna plantou pra mim, embora jamais chegue a ser um aipão porque o espaço é pequeno, também está um espetáculo e os malditos pulgões não voltaram. O bambu que compramos na IKEA quando minha mãe veio tinha dado uma secada geral inexplicável, já que segui todas as instruções, mas algumas folhinhas permaneceram verdes e resolvi investir no bichinho. Devagarzinho está se recuperando, tenho esperanças. Seu amiguinho, um tipo de ficus com folhas enroladinhas como se tivessem botado rolinhos no cabelo, está muito bem, obrigado. E as piante grasse cresceram bastante – só uma se recusa a aumentar de tamanho, mas deve ser um defeito de fabricação da espécie porque todas as outras estão enormes. Tenho foto delas quando as plantei, em maio, depois boto aqui com as fotos de hoje pra comparar.

Minha única decepção é a azaléia que a Arianna me deu no começo da primavera. Depois que as flores caíram ela simplesmente estacionou. Já adubei, já mudei de lugar, já tentei conversar, mas não tem jeito: não fede nem cheira, está exatamente com a mesma cara com que chegou. Acho que vou levar de volta pra Arianna. Quem sabe em meio a outras flores ela se sente mais ambientada e dá uma rejuvenescida…

As únicas flores que tenho são os cravos, porque sobrevivem bem ao inverno. Tenho pena de comprar gerânios, petúnias, begônias que sei que depois vão morrer quando o frio chegar. De fora minha varanda não é decorativa, não tem a multidão de cores que caracterizam as varandas e janelas européias na bella stagione, quando os gerânios se multiplicam exponencialmente e colorem todas as casas. Mas as minhas plantas são lindas e quando acordo são a primeira coisa que eu vejo, porque eu durmo de lado, virada pra janela, e sempre deixamos um pedaço de persiana aberta. Abro os olhos e vejo minhas plantinhas, e meu dia começa melhor. Quando tenho trabalho no computador trago uma pra dentro pra me fazer companhia.

Se eu tivesse um jardim, nunca mais entraria em casa.

Striscia la Notizia é definitivamente o melhor programa do mundo.

Hoje o repórter com queixão de G.I. Joe ligou pra um hospital de Nápolis pedindo pra marcar uma ultra-sonografia transretal da próstata. Levou uma hora e meia no telefone até conseguir falar com alguém, e como resposta ouviu que a máquina está quebrada desde maio e não se sabe quando e se será consertada. Lá vai o G.I. Joe diretamente ao hospital, onde encontra um médico pequenininho e careca, com sotaque napolitano que escapa só de vez em quando, explicando que há várias máquinas disponíveis no hospital, que há vários anos ele não trabalha (é urologista mas tem cargo de clínico geral no hospital), quer dizer, vai ao hospital, bate ponto e recebe salário, mas não faz porra nenhuma [N.R.: isso é pra dar trabalho pros especialistas, porque pra ir ao médico genérico não se paga nada, mas pra ser consultado por um especialista precisa pagar O TÍCKET-A)]. G.I. Joe vai com o mediquinho faladeiro pedir explicações ao diretor do hospital, que os manda ao diretor sanitário. O que faz o diretor sanitário? Hein? Hein? Vejam bem, não é um pivete, não é prostituta, não é comerciante desonesto – É O DIRETOR SANITÁRIO DE UM GRANDE HOSPITAL PÚBLICO DE NÁPOLIS. O que ele faz? SAI CORRENDOOOOOOOOOOOOOO! Pelos becos apertados da cidade; imaginem todos aqueles varais de roupas atravessando os becos, os velhos de boina e colete sentados à porta de casa, crianças ranhentas brincando na rua. É assim mesmo. G.I. Joe correndo atrás dele, e volta e meia parando e olhando pra câmera e perguntando “mas vocês tão entendendo?”. Sumir em uma cidade zoneada como Nápolis é a coisa mais fácil do mundo, e na segunda ou terceira esquina o diretor sanitário desaparece. Logo surgem os desocupados, todos de lambreta e TODOS sem capacete, cada um dando seu pitaco sobre a bendita ultrassonografia transretal. Cara, esse país é qualquer coisa.

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Vittorio Sgarba é o Assessor da Cultura do novo governo. É um crítico de arte que adora uma polêmica. Tenho que admitir que concordo com muito do que ele diz, mas entendo que muitas vezes ele passa por antipático e radical. Porque ele fala mal de todo mundo. Sempre. O tempo todo.

Alessandra Mussolini é uma retardada com olhos overmaquiados e cabelos de Farrah Fawcett, pra não falar do fato que é neta do Homem. Aquela que usa mini-saia quando aparece na TV (cacete, a mulher é política de alto escalão, mini-saia não, né) ou, pior, bota de cano alto com perna tolete. Nem vou mencionar o batom rosa-Paquita.

Os dois foram chamados pra ser jurados do novo reality show idiota, Pupe e Secchioni (Gostosas e C.D.F.s). A debilóide da Mussolini começa a puxar briga com Sgarba, no começo assim só pra aparecer. Mas eis que ela tira os óculos dele, e o homem vira bicho. Solta TO-DAS as ofensas que você pode imaginar: oca (literalmente ganso, usa-se pra definir uma mulher idiota, estilo “fadinha”), troia (piranha), deficiente (/defischente/), fascista, imbecille, vaffanculo, stronza, e por aí vai. Eu absolutamente ROLANDO de rir no sofá, e a coisa se arrastando. Basicamente o argumento do Sgarba era “não quer ser tocado por uma fascista”. E a retardada repetindo “Eu não sento mais do lado dele! Maluco! Não estou entendendo nada!”. O homem ficou tão puto da vida que os cameramen vieram segurá-lo, e ele, sempre ajeitando os cabelos com as mãos, roxo de fúria, perguntando “ma chi cazzo sei tu? NON TOCCARMI!”, e eu rolando, rolando. A que eu imagino que fosse a produtora do programa chega pra falar com ele e tentar acalmá-lo, e ele a chama de brutta troia – piranha feia. E eu tendo convulsões. Sei que a coisa toda durou uns cinco minutos, talvez mais, de piiiiiiiiii sem parar porque os dois trocaram insultos que nem presidiário deve conhecer. Não sei se foi ao ar ao vivo, mas imagino que sim, porque essas bostas de realities são sempre ao vivo. Cara, tinha tempo que eu não ria tanto.

Ainda não tem nada da porradaria no YouTube, mas tem esse outro pedacinho, sempre do Sgarba no mesmo programa, pra vocês terem uma idéia do que é a Hedionda Televisão Italiana. Ou esse.

P.S.: Outra porrada televisiva histórica é essa, sempre em um reality (Isola dei Famosi), que não tem nada a ver mas é FENOMENAL.

P.S.2: Todos os estereótipos dos italianos são verdadeiros, sem exceção.